A extensão do seguro-desemprego para 216,5 mil trabalhadores demitidos entre dezembro e janeiro, anunciada na quarta-feira (20) pelo ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, pode criar expectativa de que a recuperação do emprego vai demorar.
A avaliação é da advogada e consultora trabalhista e previdenciária do Cenofisco (Centro de Orientação Fiscal), Andreia Antonacci. "Pude perceber, durante diversos trabalhos com a área de recursos humanos, que muitos dos trabalhadores demitidos alegam que o acréscimo de parcelas (passando de cinco a sete) gera a sensação de mais tempo sem emprego", relatou.
"Para eles, o mais importante é uma nova colocação no mercado de trabalho, ao invés de mais parcelas de seguro-desemprego", prosseguiu.
A princípio, o aumento de parcelas do seguro foi concedido a trabalhadores de setores atingidos pela crise. Na quarta-feira Lupi acrescentou duas parcelas extras para mais onze setores. Ao todo, o número de beneficiados atinge 320.207 e somam a quantia de R$ 390 milhões disponibilizados pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador.
"Recomendo a todos que derem entrada no seguro-desemprego que aceitem outro emprego ainda que ele não seja idêntico ao perdido, pois as oportunidades que devem surgir agora certamente oferecerão salários menores e com menos benefícios", afirmou Andreia.
Para a consultora, essa é uma maneira de contribuir também para que a atividade econômica seja retomada aos poucos. "O segmento alimentício foi um dos que já começou a reagir e já aponta admissões".
Na opinião de Sérgio Mendonça, coordenador da Pesquisa de Emprego e Desemprego do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), o fato de a ampliação das parcelas do seguro significar o prolongamento do desemprego é apenas um dos cenários possíveis.
"Uma coisa é constatar, por meio dos dados disponíveis, que não há, por ora, perspectiva de retomada. Daí a dizer que teremos longo período de desemprego, é outra coisa", salientou.
Para o coordenador, haverá sim um período razoavelmente longo de recuperação, mas não para todos os setores da economia. "É que o maior impacto se deu sobre o setor industrial. Mas daqui para frente deve ocorrer uma manutenção do emprego até que a recuperação da economia. Se os efeitos da crise continuarem, o País deve retomar algum crescimento, que pode ser de 2% a 2,5%. Talvez até 3% em 2010", defendeu.
Ironicamente, de acordo com as pesquisas de emprego e desemprego do Dieese, o tempo médio para o trabalhador encontrar um emprego na Região Metropolitana de São Paulo está diminuindo desde o final do ano passado.
Embora tenha aumentado de 38 semanas para 39 de dezembro para janeiro, em fevereiro voltou a 38 semanas e em março caiu para 35. "A única explicação viável para os dados é que mais pessoas estão entrando agora na disputa por uma vaga, e não como avaliamos nos últimos cinco anos, em que o tempo médio de procura caiu de 55 para 40 semanas por conta do aquecimento da atividade econômica", explicou Mendonça.
Portanto, se um trabalhador procura há 45 semanas e outros há duas, o número final do tempo de espera para entrar no mercado de trabalho é reduzido. Por outro lado, mais pessoas devem estar desistindo de procurar emprego, enquanto a crise está se manifestando, pois o índice da população economicamente ativa não está crescendo muito, segundo o coordenador.
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