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Universitários acusam policiais de tortura, espancamento e roubo
Por Artur Rodrigues
Do Diário do Grande ABC
23/05/2005 | 07:52
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Os hematomas por todo o corpo são a lembrança mais visível do sábado em que dois irmãos, estudantes de Direito e moradores de bairro nobre em São Caetano, classificam como o pior de suas vidas. Rodrigo Pinto Ramacciotti, 21 anos, e Thiago Pinto Ramacciotti, 19, filhos de um perito da Polícia Civil, dizem ter sido espancados, torturados, ameaçados de morte e até roubados por policiais militares sábado em plena avenida Goiás, em frente a um barzinho.

Rodrigo estava chegando de viagem e, sem as chaves, combinou com o irmão para buscá-las no bar Café W, na avenida Goiás. Thiago viu pela janela o irmão ser levado por PMs, da porta do estabelecimento, por volta das 8h. “Eu os vi levando meu irmão e corri para dizer que ele não havia feito nada. Nessa hora começaram a bater nele.”

Os policiais haviam sido chamados para conter uma briga no local. Thiago garante que estava de fora da confusão. A situação já teria sido controlada quando Rodrigo chegou. “Tentei entrar no bar e um policial me bloqueou. Depois, outro me puxou para trás. Tomou a chave do carro da minha mão, começaram a me empurrar e disseram que iam ver o que tinha lá dentro”, conta.

Ambos foram jogados na calçada e algemados. Imobilizados, só viam policiais à sua volta. Nessa hora, teriam começado os pontapés e socos por todo o corpo. Os dois dizem ter sido jogados em viaturas separadas e, dentro delas, permaneceram por quase uma hora. Apanhando. Sem que os policiais percebessem, Thiago conseguiu ligar pelo celular para o pai. “Depois, começaram a me perguntar: ‘Quem é seu pai? Fala quem é ou eu te mato!‘“, lembra.

Preocupado com os filhos, o perito da Polícia Civil Hélio Ramaciotti havia ligado para o Copom (Centro de Operações da Polícia Militar). E foi só depois do alerta do centro de operações que as viaturas teriam chegado ao 1º DP de São Caetano. No camburão, dois jovens ensangüentados e com hematomas.

Na delegacia, os irmãos esperaram até a chegada do pai, Hélio. O perito chegou junto com homens do Garra (Grupo Armado de Repreensão a Roubos e Assaltos) de Santo André. “Aí os PMs viraram para mim e se justificaram: ‘Eles se jogaram na parede‘“, conta Hélio Ramacciotti.

A delegada de plantão Lucy Fernandes teria ameaçado prender Rodrigo. Após uma ligação da corregedoria, mudou de idéia. Soltou os rapazes. No boletim de ocorrência por desacato à autoridade, a delegada não faz menção ao sumiço de um Uno Mille, de propriedade de Rodrigo. Amigos do estudante teriam visto um homem fardado entrar no carro. O veículo apareceu às 6h deste domingo, em frente ao barzinho, com o conteúdo revirado, sem o dinheiro e telefone celular que ali estavam. O carro de Thiago, um Mercedez Classe A, também teria sido aberto pelos policiais.

A delegada não pediu nenhum exame corporal para averiguar as lesões visíveis nos estudantes. Secretaria Estadual de Segurança Pública, Comando da Polícia Militar e Corregedoria foram procurados pela reportagem. Na Secretaria de Segurança, a assessoria de imprensa não atendeu às ligações. Polícia Militar e Corregedoria não quiseram se manifestar.




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