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Fiado ainda sobrevive no comércio
Mariana Oliveira
Do Diário do Grande ABC
23/10/2005 | 07:47
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A modalidade mais antiga de crédito, o fiado, ainda sobrevive em muitos mercados e mercearias de bairros do Grande ABC. Alguns ainda operam com o velho sistema da caderneta, outros, porém, percebem no fiado um ótimo negócio, modernizaram o sistema e já pensam até em expandir a atuação nessa área.

Segundo os comerciantes consultados pelo Diário, o fiado chega a representar metade do faturamento mensal dos pequenos estabelecimentos e tem baixo índice de inadimplência. Mas, para que a modalidade não signifique riscos em razão do calote, já que a cobrança não pode ser efetuada de maneira legal, a concessão do crédito é limitada em alguns casos.

De acordo com o economista Marcos Luppe, professor da USP (Universidade de São Paulo) e pesquisador do Provar-USP (Programa de Administração do Varejo), o fiado só existe em bairros de periferia. "Esse tipo de modalidade foi muito comum há algumas décadas. Atualmente, só se encontra em pequenos estabelecimentos de periferia", diz.

Para André Chagas, assessor econômico da Serasa (Centralização dos Serviços Bancários), a proximidade dos mercados e mercearias com os consumidores reduz a tendência dos clientes deixarem de pagar. "A inadimplência é mais acentuada em negócios onde há alta rotatividade, como postos de gasolina e grandes magazines. Nos bairros, geralmente os clientes são assíduos. As pessoas se conhecem e existe fidelização. O comerciante sabe dos hábitos de pagamento do consumidor", afirma.

Riscos - Apesar da fidelização, Chagas alerta para os riscos dessa atividade. "Não existe negócio com inadimplência zero. É preciso ter um forte controle sobre o fiado, uma vez que a cobrança é feita por conta própria", ressalta.

A importância no controle das contas a receber também é destacada por Luppe, do Provar. "Dificilmente o comerciante controla com precisão quanto vende na modalidade do fiado. Com isso, pode faltar capital de giro ao seu negócio", avalia. Segundo ele, o que acontece em muitos casos é que o estabelecimento acaba cortando o fiado para algumas pessoas, mas não por informação concreta e sim por estimativa das perdas. "Para controlar isso basta usar um computador", afirma. Ele alerta ainda que solicitar documentos como holerite e comprovante de residência é interessante, mas são necessários recadastros periódicos para verificar se a pessoa continua em condições de arcar com as dívidas.

Luppe avalia que, no caso de estabelecimentos muito dependentes do fiado, a principal saída é criar alternativas para garantir os pagamentos. "O comerciante pode dar notas promissórias aos clientes. Caso não haja o pagamento, pode entrar em um tribunal de pequenas causas. É um processo lento, mas inibe a inadimplência."

O economista avalia que outra alternativa é a instalação do sistema de recebimento de vale-alimentação ou refeição. "A mensalidade é barata e muita gente das classes C, D e E tem o cartão. É uma forma de receber sem exigir dinheiro no ato."

Coisa do passado - Para Benedito Marques, gerente de Relações com o Mercado da consultoria Preventis Consulting, o fiado é coisa do passado. "Isso vem de uma época onde os valores eram outros. Comerciantes e consumidores tinham uma relação íntima. Os estabelecimentos não deveriam ter mais esse comportamento porque é impossível receber se o cliente não quiser pagar", diz.

Orlando Morando, diretor regional da Apas (Associação Paulista de Supermercados), compartilha do mesmo pensamento. Ele avalia que isso existe apenas em comércios informais. "Atualmente o fiado moderno é o cartão de crédito e os cartões de bandeira própria dos supermercados. É um procedimento mais confiável. É preciso estimular o uso do cartão de crédito."

Furtos - De acordo com Haílton Santos, gerente nacional de vendas da Plastrom Sensormatic, empresa especializada em prevenção de furtos e que desenvolve projetos para a rede de supermercados Coop (Cooperativa de Consumo), com sede em Santo André, o pequeno supermercadista deve atentar também às perdas com os furtos, além da inadimplência. "Os pequenos são os que mais sofrem com o problema, por não terem proteção. Para se prevenir, é importante guardar em local seguro os itens de maior valor agregado. Uma opção é instalar um pequeno circuito interno de TV, que não custa muito caro", completa.




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