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Usina atrasa salários e poe em dúvida produçao
Por Do Diário do Grande ABC
29/03/2000 | 14:11
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Um impasse marca o início da produçao de açúcar e álcool da Usina Nova Uniao, de Serrana, regiao de Ribeirao Preto, este ano. Com dois milhoes de toneladas de cana moídas na última safra, a usina pode suspender a moagem este ano, segundo temem os cerca de 1.200 funcionários da empresa (cerca de 700 entre rurais e de transporte).

Apesar da empresa negar de maneira veemente os boatos de que nao trabalharia na safra deste ano, apenas o porteiro está trabalhando na empresa e, tanto o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, quanto o Sindicato dos Trabalhadores em Indústrias de Alimentaçao de Ribeirao Preto, e ainda o Sindicato dos Condutores de Veículos, afirmam que a empresa nao fez as reformas necessárias durante a entressafra, que a permitiriam começar a moagem em maio.

Todos os trabalhadores estao em férias coletivas concedidas desde o final do ano passado e nao receberam os salários de janeiro e fevereiro deste ano e nem a segunda parcela do 13º salário de 99. Uma reuniao marcada para o próximo dia 4 de abril, entre representantes do sindicato e a advogada da empresa deve colocar ponto final no impasse. "Vamos negociar o pagamento imediato dos salários ou teremos que levar a usina à Justiça", disse o diretor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais Antonio dos Santos. Segundo ele, parte dos trabalhadores já está atuando em outros serviços. "Quem ainda nao conseguiu um outro trabalho está aguardando uma posiçao da usina", disse o presidente do Sindicato dos Condutores, Ivan Pereira Lima.

A advogada da Usina Nova Uniao, Regina Vieira Del Monte, afirmou que a suspensao da moagem de cana na usina " nao passa de boataria". Segundo informou pelo telefone, os funcionários receberam licença remunerada desde o início de fevereiro, quando a empresa iniciou fase de reestruturaçao interna para se organizar para a próxima safra. A reestruturaçao, segundo ela, foi necessária porque a usina rompeu parceria com a empresa Vergê Comércio e Participaçoes, representante de um grupo coreano com o qual estava atuando há dois anos.

"Tínhamos um contrato com prazo de cinco anos no qual a empresa se comprometia a uma série de investimentos que nao cumpriu. Por isso, nos vimos impelidos a romper o contrato e continuar a tocar a usina sozinhos", afirmou. Segundo ela, a empresa este ano será tocada pelo mesmo grupo do empresário Carlos Biagi, que detém a Usina Santa Lídia, de Ribeirao Preto, que também esteve com a moagem desativada no ano passado.

"O grupo pretende investir e produzir tanto quanto ou mais do que no ano passado, se isso for possível", disse a advogada, afirmando que a safra na Nova Uniao está marcada para começar no dia 15 de maio, mesma data do ano passado. "Estamos dentro do cronograma, realizamos as reformas necessárias e os funcionários serao chamados na Segunda-feira (3) para recomporem os quadros da empresa. Ela nao descartou a possibilidade de que a empresa venha a anunciar um novo parceiro antes do início da safra deste ano.

História - A história da Usina Nova Uniao, de Serrana, é marcada por uma série de idas e vindas no montante de cana-de-açúcar moído, principalmente por conta da série de dívidas e envolvimentos judiciais pelos quais a empresa passou. O próprio Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Serrana estima em cerca de R$ 60 milhoes o volume das dívidas da empresa, entre impostos, encargos trabalhistas e fornecedores. Originalmente de propriedade do empresário Eduardo Cury, que nao foi encontrado pela Agência Estado, a empresa vendida para outro empresário local, Luiz Cardamoni, que, além de nao cumprir o pagamento pela propriedade, ainda perdeu a usina para o governo do estado, por conta de atrasos nos impostos.

Na época do governador Fleury, a usina foi arrendada para o atual empresário Carlos Biagi, mas as dívidas voltaram a aparecer, tanto com relaçao a impostos estaduais e federais, como também com fornecedores e até mesmo o nao-cumprimento de contrato. Em um desses casos de contrato nao cumprido, um grupo multinacional com capital coreano e chinês decidiu formar parceria com a usina para investir em sua safra, a partir de 98 e tentar receber cerca de US$ 20 milhoes em açúcar contratado e nao-entregue. Nasceu daí a parceria da Vergê, criada para essa finalidade como representante no Brasil do grupo coreano-chinês.

O representante da empresa no País, Paulo Katayama, foi procurado pela Agência Estado, mas nao atendeu as sete ligaçoes feitas ao seu escritório em Sao Paulo, alegando estar em reuniao. Fontes ligadas a empresa, no entanto, dizem que o grupo teria quebrado o contrato por ordem de sua matriz, já que chegou a investir no país R$ 8 milhoes no ano passado, sem obter retorno. Os investimentos teriam sido responsáveis por elevar o volume da safra da Nova Uniao de 98/99 de 252 mil toneladas, com produçao de 45 mil toneladas de açúcar e 70 milhoes de litros de álcool (entre anidro e hidratado), para dois milhoes de toneladas de cana, com produçao de 177,3 mil toneladas de açúcar e 74 milhoes de litros de álcool, na safra de 99/00. A área da usina, cerca de 60 própria e o restante proveniente de fornecedores, é hoje de 1.400 hectares, sendo 5% colhido de cana crua com a mecanizaçao feita pelo grupo estrangeiro.




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