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Atividade da indústria em junho surpreende, mas queixas continuam
Marcelo Moreira
Do Diário do Grande ABC
29/07/2005 | 08:12
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As reclamações do empresariado continuam, mas a desaceleração da economia custa a atingir a gravidade que o mercado está apregoando. O INA (Indicador do Nível de Atividade), apurado em conjunto pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e pelo Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), teve um "surpreendente crescimento positivo" de 2,2% em junho ante maio com ajuste sazonal. No semestre, outra surpresa, uma taxa de 4,6% em comparação com igual período do ano passado.

O diretor do Departamento de Pesquisas Econômicas da Fiesp, Paulo Francini, admitiu que "um bom resultado não era esperado", mas tratou de readequar o seu discurso às queixas gerais à conjuntura. "Mas são números pontuais e não representam uma mudança de tendência.".

Em outras palavras, ao longo do primeiro semestre o INA registrou variações positivas e negativas seguidamente, o que indica, na média, uma desaceleração da atividade desde o início do ano, de acordo com a Fiesp. Em maio, por exemplo, o INA subiu apenas 0,1% ante abril. E em abril, havia crescido 2,2% contra março, que havia registrado variação negativa em 0,2% na comparação com Fevereiro. "Tudo isso nos faz manter a projeção inicial de que o INA fecha o ano por volta de 4%", disse Francini. Em 2004, o indicador encerrou dezembro perto dos 9%.

Mesmo assim, há certa dificuldade para explicar índices que insistem em contrariar as previsões negativas da indústria. Agora a crise política envolvendo as denúncias contra o PT e o governo federal se somam aos juros altos e ao dólar barato como elementos que estão corroendo – e que devem corroer no segundo semestre – a rentabilidade e o crescimento das empresas. Mas algumas taxas teimam em não cair.

Mês atípico – Junho, de acordo com Francini, foi um mês fora de curso. A alta foi influenciada por uma possível, mas não perceptível pelo indicador, tendência à formação de estoques, e pelo contínuo aumento das exportações. "Em junho, o indicador tem influência do crédito que estimula a demanda interna e de exportações", completou o diretor do Ciesp Antonio Corrêa de Lacerda.

As vendas reais da indústria cresceram 5,7% em junho (sem ajuste sazonal), e os setores que definitivamente puxaram a alta "surpreendente" do INA em junho foram Produtos Químicos, Petroquímicos e Farmacêuticos, com alta de 5,6% em junho ante maio (com ajuste), veículos automotores 4,6% na mesma base e outros equipamentos de transporte, ligado sobretudo à Embraer, mas o número aberto não foi divulgado.

Na ponta negativa, o desempenho de pior destaque foi o de minerais não-metálicos, ligados à construção civil, com queda de 3,4% sobre o mês anterior. Chama especialmente a atenção o nível de utilização da capacidade instalada do setor de Coque, refino de Petróleo, Combustível Nuclear e Produção de Álcool, que opera praticamente no limite, com 98% de ocupação da capacidade.

Em maio, esse indicador estava em 97%. Em junho, o nível médio de utilização da capacidade instalada (Nuci) da indústria paulista foi de 83% ante 81,1% em maio e 80,8% em junho do ano passado. Para Francini, nada do que foi registrado no INA em junho reflete a crise política. "Se houver algum impacto, dificilmente será positivo. Mas só veremos os reflexos no futuro", afirmou o diretor da Fiesp.

Mais reclamação – O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, defendeu nesta quinta-feira uma redução gradual, sem radicalismos, dos juros, que considera responsáveis pela retração industrial e pelo desaquecimento da economia. O empresário procurou separar crise política e estagnação econômica, dizendo que o desaquecimento começou muito antes dos escândalos em Brasília. "Desde os primeiros dias deste ano já sentíamos a retração. O cenário político conturbado agrava, mas não é só isso. A política econômica, com esses juros absurdos, tem prejudicado muito mais", disse.




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