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ABC da Economia
Obras do governo em tempos líquidos
Por Aristogiton Moura
presidente do Instituto Carlos Matus e integrante do Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da USCS (Universidade Municipal de São Caetano)
03/05/2019 | 07:28
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Zygmunt Bauman, em seu livro Tempos Líquidos, afirma que ocorrem no mundo mudanças de grande alcance, interconectadas, que criam ambiente novo e sem precedentes para as atividades da vida em sociedade. Essas mudanças afetam a todos, fazendo com que vivamos situação de extrema incerteza e medo. A passagem da fase ‘sólida’ da sociedade, na qual organizações, governos, famílias e mercado tinham estabilidade e previsibilidade no tempo, para a fase ‘líquida’, na qual essas instituições não podem mais manter suas estrutura e função, pois se dissolvem com mais velocidade que o tempo leva para moldá-las, é o que caracteriza o novo tempo. Este separa o poder da política, desconstrói os lastros da sociedade como a conhecemos, afeta a vida das pessoas, traz insegurança em todos os espaços da vida cotidiana, tornando a vida na modernidade líquida mais assustadora e complexa. Tratei deste tema em trabalho apresentado no Observatório da USCS.

Os tempos líquidos nascem da velocidade das transformações sociais impulsionadas pela internet e redes sociais. A presença do cidadão comum neste novo espaço, ao mesmo tempo em que o empodera, desconstrói seu modo de vida previsível e estável e o mundo organizado em que vivia. Mercado, governo e política já não podem atuar tradicionalmente e têm agora que considerar as escolhas individuais e responder a essa nova realidade. A mudança do modelo de governo do século XX para um que atenda a sociedade do século XXI traz à tona a questão de onde vai se situar o núcleo do poder. A cidadania já demonstrou que não aceita mais a política e os governos tradicionais. Assim, redesenhar o aparato público e a política implica identificar os novos polos de poder e pensá-los a partir de cidade inteligente para cidadão inteligente – esse é o caminho a ser perseguido.

O desafio de governar em tempos líquidos e os novos desenhos de governança necessários encontram no cientista político Carlos Matus as teorias e métodos para transformar o governo tradicional em novo modelo – o governo inteligente – escudado nas TICs, na transparência, na ampla participação social e na colaboração de todos os setores sociais, tornando real a relação equilibrada governo-cidadãos empoderados. Este modelo abre possibilidades, dentre elas o novo arranjo político institucional do governo do futuro, que será o ponto focal de duas redes críticas, a do governo real, modernizado pelas ciências e técnicas de governo, e a do governo virtual,que conta com os instrumentos adequados para atuar no espaço digital, tendo a escuta inteligente da internet como elemento de suporte ao processo de tomada de decisões e da ação governamental compartilhada.

No entanto, a falência do modelo de estado burocrático e autoritário impõe a grande necessidade de transformá-lo em rede pelo empoderamento político da sociedade. Toda a estrutura de poder atual, fundamentada em um padrão governantes-governados, requer sua transformação para relação governantes-governantes. Isso implica desconcentração e divisão do poder. Os partidos políticos e as instituições tradicionais, que se mantêm e se reproduzem nesse ecossistema, estão em declínio e sob forte pressão da nova forma de se fazer política.

A saída mais viável é a mediação entre os modelos, pois o atual, concentrador de poder e recursos, é o mais eficiente para grandes problemas que afetam os governos, a sociedade e o mercado. Já o modelo descentralizado é o melhor para a cidadania em rede, pois oportuniza a ampla participação na vida pública, social e política. Isso implica construir novos desenhos políticos, governamentais e sociais. No entanto, não se pode concentrar a responsabilidade do novo contrato social na sociedade em rede, pois os desafios vão envolver muito mais do que isso, como reconfigurar a economia, a cultura, a geopolítica, a conservação do meio ambiente, entre outros.

É neste caldo de cultura que nascem e crescem os novos problemas, as oportunidades e ameaças para os quais as estruturas tradicionais dos governos e da política ainda não estão preparadas para enfrentar, pois não dispõem de boa teoria e métodos para esse fim. Neste contexto, as ciências e técnicas de governo, de Matus, são a melhor aposta para apoiar as alterações provocadas pelo fenômeno da sociedade em rede nas organizações públicas, políticas e sociais. 




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