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Rendição incondicional
Por Carlos Brickmann
20/04/2014 | 07:00
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Refinaria de Pasadena, Refinaria de Abreu e Lima, Mensalão, Mensalão tucano, deputado federal petista voando em jatinho cedido por doleiro, cartéis de Metrô e trens metropolitanos? Há coisas piores, mais sangrentas. E as autoridades reconhecem a derrota: em declaração formal, o governo paulista diz que não tem condições de controlar criminoso condenado e preso numa penitenciária de segurança máxima. Pior: o governo admite formalmente que a tal segurança máxima não é capaz de impedir a ação criminosa atribuída ao prisioneiro Marcola.

O documento oficial do governo paulista, enviado ao juiz corregedor do Departamento de Execuções Criminais, Paulo Sorci, é assinado por dois secretários de Estado: Fernando Grella Vieira, da Segurança, e Lourival Gomes, da Administração Penitenciária. Textual: “(...) a Penitenciária de Presidente Venceslau não representou obstáculo a impedir ou ao menos dificultar que os sentenciados não cometessem falta grave (...)”. Ambos pedem que Marcola e outro presidiário, Barbará, sejam submetidos por até 60 dias ao RDD (Regime Disciplinar Diferenciado) pelo qual ficariam isolados dos demais presos e teriam de obedecer a normas disciplinares mais rígidas – o que vem sendo rejeitado pela Justiça.

Talvez tenham razão em pedir o RDD. É provável que a tenham. Mas confessar que o governo não controla sequer sua prisão de segurança máxima é confessar que não há governo. É por isso que criminosos podem, de dentro da cadeia, comandar bandidos que assassinam policiais e impõem o terror no Estado.

O crime em ação

Uma esplêndida reportagem de Roberto Cabrini no Conexão Repórter, do SBT (http://tvuol.uol.com.br/video/marcola-faz-reunioes-com-comandantes-do-pcc-dentro-de-penitenciaria-em-sp-04020C993060C0815326) mostra que, no presídio de segurança máxima de Presidente Venceslau, os comandantes do crime organizado combinam tranquilamente suas próximas ações. E não correm sequer o risco de ser atacados por quadrilhas rivais: ali, têm a proteção do Estado.

Segundo o Ministério Público, o PCC de Marcola comanda 3.000 bandidos.

Vargas, lucros e perdas

Surpresa pela decisão do deputado André Vargas, do PT paranaense, de desistir da renúncia ao mandato na Câmara? André Vargas fez o que foi melhor para ele: imaginou inicialmente que a renúncia faria com que seu julgamento na Comissão de Ética da Câmara Federal fosse cancelado – afinal, como cassar o mandato de quem já não teria mandato? A vantagem seria escapar da proibição de exercer mandatos eletivos nos próximos oito anos. Mas, ao saber que a Comissão de Ética o julgaria de qualquer jeito, e que não teria benefício nenhum se renunciasse, decidiu ficar na Câmara e defender-se exercendo o mandato (e recebendo). Para o partido, é ruim; ou decide expulsá-lo (e, ninguém se iluda, Vargas tem aliados, silenciosos no momento, mas poderosos), ou não o expulsa, e arca com o desgaste de mantê-lo. Vargas até topa renunciar, mas o PT precisará oferecer-lhe uma saída honrosa.

E vai ter Copa

O depoimento de Nestor Cerveró, o ex-diretor da Petrobras que sabia tudo sobre a compra da Refinaria de Pasadena (e que elaborou o documento, criticadíssimo por Dilma, lido pelo Conselho de Administração), deixou o jogo empatado. Cerveró manteve todas as saídas abertas, defendeu-se sem incriminar ninguém. Extrair dele algo diferente exigirá convocá-lo para CPI; exigirá, antes, que a CPI seja instalada e funcione, o que leva tempo. A Copa está aí. As empreiteiras e consórcios acusados são grandes, poderosos, têm bons amigos. E, como não disse Laurence Peter, todo suspeito é culpado até provar que é influente.

Questão de ficha

Rodrigo Mallman, assessor do deputado Alceu Moreira, do PMDB gaúcho, apontado nessa coluna como ficha suja, envia a seguinte nota: “A citação do deputado Alceu Moreira no cadastro do CNJ é pelo simples motivo de sua multa ter sido parcelada, ou seja, o nome só é excluído ao fim do pagamento da última parcela. Estar citado lá não significa enquadramento na ficha suja”. Registrado.

O gordo e o magro

Comentando a nota da coluna sobre o caso do professor José Luís de Sá da Silva, que passou no concurso público em São João da Boa Vista, em São Paulo, mas não pôde tomar posse porque é gordo, o excelente colunista carioca Aziz Ahmed, do jornal O Povo, conta a seguinte história: “Quando era ministro do Exército no governo Sarney, o empertigado e elegante general Leônidas Pires Gonçalves foi fazer inspeção num quartel do Nordeste. Lá encontrou major baixinho e barrigudo. Vaidoso e bravateiro, o general, na frente de toda a tropa, criticou o major, chamando-lhe a atenção por ser gordo. O major prestou continência, pediu licença e deu umas dez cambalhotas, uns 20 saltos mortais, fez acrobacias que revelavam excelente forma física e incrível mobilidade. Terminada a exibição, prestou continência novamente e sugeriu: “Excelência, agora é o senhor.”

Os patetas

Será que os responsáveis pela discriminação ao professor seriam capazes de enfrentar o mesmo concurso público no qual ele passou em quinto lugar?




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