Política Titulo Regime Militar
Diário abrigou perseguidos pela ditadura

Jornal manteve na folha de pagamento profissionais que eram vigiados pela repressão militar

Por Ademir Médici
Evaldo Novelini
20/04/2014 | 07:00
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Nos anos de chumbo, o Diário abrigou profissionais simpatizantes de movimentos de resistência à ditadura militar (1964-1985). Na época em que quartelada implantou o regime de exceção, o jornal contava com dois simpatizantes da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) no comando. Os irmãos Rubem Machado e Milton Saldanha eram, respectivamente, secretário de Redação e copidesque.

Ambos moravam na Capital, mas vinham a Santo André trabalhar no jornal, que já funcionava na Rua Catequese, bairro Jardim. Monitorada pelos agentes da repressão, sob suspeita de subversão, a dupla foi presa em dezembro de 1970. “Fomos fechar a edição do Diário e os caras, à paisana, cercaram o prédio”, recorda Saldanha, gaúcho de São Luiz Gonzaga.

Detidos, foram levados ao prédio do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna), na Rua Tutoia, em São Paulo, famoso centro de maus-tratos. “Ficamos 11 dias presos, mas não sofremos tortura. Rubem levou uns cascudos, mas isso não era nada perto da tortura violenta que a gente viu lá dentro, de outros presos”, conta Saldanha, hoje com 68 anos.

Um dos seviciados foi o publicitário Emilio Ivo Ulrich, que, questionado sobre a participação dos irmãos na resistência, inocentou-os. “Ele foi barbaramente torturado. A gente não via a cena, dentro da cela, mas ouvia tudo. A sala de torturas era perto, no mesmo andar”, cita o ex-copidesque.

Saldanha diz que os agentes da ditadura tinham motivo para desconfiar dele e do irmão. “Não éramos de nenhuma organização, mas simpatizantes. Ajudamos gente em fuga para o Exterior, escondemos arma etc.”, afirma ele, que relatou a história de resistência no livro autobiográfico O País Transtornado – Memórias do Brasil Recente (Editora Movimento, 270 páginas, R$ 25).

A experiência marcou os jornalistas. “Quando tudo acabou, traumatizados e temendo a repetição do horror, pedimos a conta, seguimos para o Rio Grande do Sul e depois Santa Catarina, onde ficamos escondidos durante 45 dias”, finaliza Saldanha, que voltou a trabalhar no Diário nos anos 1980, como editor-chefe.

 



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