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Consumo de vinho é recorde na pandemia

País passou a 501 milhões de litros degustados no último ano, ante 383 milhões no período anterior; cada brasileiro tomou 2,8 litros

Por Francisco Lacerda
Do Diário do Grande ABC
08/08/2021 | 00:10
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“O vinho é o medicamento que rejuvenesce os velhos, cura os enfermos e enriquece os pobres”, disse em tempos passados o filósofo e matemático Platão. “O vinho conforta ao triste, e revive aos velhos, inspira os jovens, permite que o cansado esqueça o seu cansaço”, expôs em outra ocasião o poeta britânico George Gordon Byron, o Barão Byron. Pensamentos filosóficos que devem ter inspirado os brasileiros, já que evidenciaram no último ano o amor pela bebida, haja vista que estatísticas trazem à tona essa paixão, porque nunca se consumiu tanto vinho no Brasil como nestes tempos de pandemia.

É o que revela pesquisa divulgada pela plataforma CupomValido.com.br, que reuniu dados da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), empresa de consultoria Ideal e Statista, companhia alemã especializada em dados de mercado e consumidores, referentes ao consumo da bebida no País e também no mundo. Segundo o levantamento, o Brasil bateu recorde no último ano de ingestão da bebida, sempre relacionada a mitologias grega, romana, egípcia, persa etc. Houve alta de 30% em relação ao ano anterior, com o consumo de 501 milhões de litros, ante 383 milhões de litros um ano antes. Não há recorte regional.

Ainda segundo o estudo, há no Brasil 83 milhões de apreciadores da bebida, o que dá a média de 2,8 litros per capita (em 2019 eram 2,13 litros). Destes, 46% tomam ao menos uma vez na semana. Já os que fazem isso por mês atingem 53%, números que conduzem o Brasil ao segundo lugar na América Latina na degustação, ficando atrás apenas da Argentina.

A preferência nacional recai sobre o tinto, admirado por 55%, seguido, respectivamente, por branco, com 25%; e rosé, 20%. Cerca de 59% estão na faixa etária dos 35 anos. Já 69% têm nos nacionais a predileção. A propensão aos importados atinge 31% dos tupiniquins, com os chilenos de posse do primeiro lugar no pódio em terras brasileiras, detendo 42% das escolhas pelos admiradores. Na sequência, argentinos, com 16%, e portugueses, 15%.

No ranking dos nacionais mais vendidos no Brasil consta no topo o Pérgola, acompanhado por Quinta do Morgado, em segundo lugar; Salton, na terceira posição; Galiotto, no quarto posto; e Chalise, quinto na classificação. Entre os importados, destaques aos chilenos Reservado, Casillero del Diablo, Tres Medalhas e Santa Rita 120, e ao português Casal Garcia.

O Wine, clube de assinatura de vinhos, com sede em Vitória, no Espírito Santo, e 13 lojas físicas espalhadas por todo o Brasil, cujo Grande ABC corresponde a 3% do total de sócios no Estado de São Paulo, também destaca a alta e revela que, se considerados nacionais e importados, foram 205,8 milhões de litros comercializados no primeiro semestre, volume 4% superior ao mesmo período do ano anterior, com o tinto no topo da preferência. “O vinho entrou na casa dos brasileiros na pandemia e veio para ficar, por sorte ninguém deixa de tomar vinho. O Brasil está desfrutando da interiorização do consumo do vinho”, informa Alexandre Magno, diretor de relações com investidores do Wine.

“Superapreciadora” do tinto nacional ou, “quando dá”, do chileno, Marta Moraes, 44 anos, de São Bernardo, é assídua consumidora. Revela tentar fugir da tentação de beber durante a semana, já que é empreendedora e “precisa trabalhar” (risos), mas não foge do hábito de degustar a bebida pelo menos duas vezes por semana. O ‘estoque’ potencializa o consumo em casa e ajuda a definir sua parcela no desfrute dos 501 milhões de litros: “Vixe, acho que uns 30” (risos). Já gostava, agora (na pandemia) agravou a situação. Não é possível a vida sem ‘birita’ boa. A semana que não tomo vinho parece que falta alguma coisa.”

Outro apreciador e também consumidor, de “pelo menos uma garrafa por semana”, que faz questão de frisar, Rodrigo Morgado Moreira, 40, é bartender em São Caetano. Tem entre preferidos os tintos nacionais. Não dispensa importados, porque, reforça, “dá para conhecer outros países sem sair de casa”. Especialista no assunto, dá dicas na escolha dos melhores. “(Opte) Pela safra. Se quer vinho jovem, safra mais recente. Se prefere de guarda, safra mais velha. E tem os de safras específicas. Mas o que manda no vinho é o famoso terroir, que é a união da mão do homem com o solo e a região de cultivo.”

PELO MUNDO
Mundo afora, a distribuição do consumo mostra os Estados Unidos na frente, com 12,6% do total, seguidos, respectivamente, por França (9,5%), Itália (9,4%), Alemanha (7,5%) e Reino Unido, com 5,1%. O norte-americano Barefoot foi o mais ‘bebido’ no último ano, com 22,5 milhões de caixas. Na sequência vem o chileno Concha y Toro, com 15,2 milhões de caixas. Outro norte-americano, o Gallo ocupa a terceira posição, com 15 milhões de caixas comercializadas. Changyu, da China, figura no quarto posto, também com 15 milhões de caixas; e o australiano Yellow Tail, 11,5 milhões de caixas.

Indiscutível mesmo é que o prazer do consumo tem duração de instantes, e sobra na boca gostinho de quero mais, que se renova a cada porção. Deleite-se, então. Porque, segundo Rodrigo, o bom vinho não é “nacional nem importado. Explore nacionais, para valorizar o que é nosso e importados para conhecer o mundo. Mas o ideal é o que a gente gosta. Enfim, explore o mundo do vinho”.

Casa de vinho artesanal em S.Bernardo dobra produção

Como não poderia ser diferente, o Grande ABC vai no mesmo embalo do aumento no consumo da bebida. E não se restringe apenas aos industrializados, rende-se também aos artesanais. Exemplo é a Casa Rocco, em São Bernardo, cuja produção teve alta de 100% e saltou, em média, a 375 litros por mês, o que equivale a 500 garrafas de 750 ml. É o que revela Marcelo Rocco, 49 anos, que, além de proprietário, é apreciador e diz consumir diariamente a bebida, sem se importar com tipo, “desde que sejam puros”.

Marcelo informa que a produção é quase totalmente artesanal, “como os avós nos ensinaram”. Apesar de preferir os nacionais, sugere que não há critérios específicos para se escolher um bom vinho, porque, acrescenta, “o melhor é sempre aquele que apraz ao consumidor”.

Para ele, a tendência é que seja mantido o alto consumo pelos apreciadores no pós-pandemia, tanto os já habituados a saborear a bebida quanto os mais recentes, sem distinção, porque, acrescenta, “o bom hábito sempre se repete”. “Vinho é excelente opção, pois enaltece a Jesus, seu primeiro milagre em público, Boda de Canaã (transformação da água em vinho), une a família e os amigos, melhora a saúde e a disposição para o labor e interação social.”

Só não pode exceder o limite, para que não se perca o precioso sabor de cada gole. Afinal, como bem disse William Shakespeare (1564-1616, poeta, dramaturgo e ator inglês, “o bom vinho é um camarada bondoso e de confiança, quando tomado com sabedoria”. 




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