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A vez dos invisíveis

Filme ‘sem rotúlo’ chega aos cinemas com protagonistas que representam os ‘comuns’ da sociedade

Marcela Munhoz
09/08/2018 | 07:00
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Divulgação


 Uma dona de lavanderia, um taxista, um desempregado e uma babá. Que lugar do mundo essas quatro pessoas, que se misturam facilmente às multidões, seriam protagonistas de uma grande e importante história? É justamente sobre elas o texto da peça do roteirista Fernando Ceylão. Ele quis presentear essas personalidades tão comuns com os papéis principais da trama. O espetáculo foi adaptado e o filme Como é Cruel Viver Assim chega aos cinemas na próxima quinta-feira.

A obra tem como pano de fundo o planejamento de um sequestro. Vladimir, Clívia, Regina e o Primo são pessoas oprimidas pela sociedade que enxergam no ‘dinheiro fácil e ilegal’ a resolução dos seus problemas. Só que não. Apesar de ter um crime no roteiro, de acordo com a diretor Julia Rezende (Meu Passado Me Condena, De Pernas Pro Ar), está longe de ser só sobre isso. Ela não queria fazer algo violento, mas sobre relacionamentos humanos e dores particulares.

“Os personagens são tão complexos que vão abrindo parenteses e se perdem ao se preocupar com pequenas coisas. Existem diversas reflexões espalhadas pela história, não apenas uma bandeira. O espectador atento vai notar isso”, explica Julia, ao Diário. Ela se inspirou em Quentin Tarantino, com suas narrativas não-lineares.Também manteve a característica dos diálogos verborrágicos, uso de quantidade excessiva de palavras e de enorme fluência.

Para a atriz Fabiula Nascimento (Clívia), os quarto amigos estão, simplesmente, desesperados. “A verdade é que eles não têm perspectiva alguma de vida”, resume. Clívia, por exemplo, já namorou bandido e agora só quer ter rotina tranquila. “Mas vai fazer tudo o que o marido desejar, por amor”, explica. Vladimir (Marcelo Valle) justifica a ânsia pelo dinheiro dizendo que precisa fazer algo grande em sua vida, para variar. “É um filme de coração aberto, sobre pessoas que não são vistas por ninguém e acabam se desconectando de si mesmas”, analisa.

Para todos os envolvidos, Como é Cruel Viver Assim extrapola até o limite dos rótulos, dos gêneros. “Precisamos parar de ver a arte por apenas uma perspectiva. A história ganha carga trágica que vai para além do humor”, analisa Debora Lamm (Regina). “O humor talvez seja a forma mais clara e bondosa de falar sobre assuntos tão delicados”, completa Milhem Cortaz (Flávio). Ele faz um bandido que tem tudo, menos amor, amigos. “Apesar de a autoestima dele estar lá em cima, é um cara triste, sozinho.”

Por retratar sentimentos tão comuns a essa parcela invisível da sociedade, o ator Silvio Guindane (Primo) acredita que a identificação das pessoas será muito potente. “Os personagens vivem angústias, são empurrados pela sociedade. E cada um tem uma motivação, mas a necessidade de ser sujeito da própria vida é algo que une a todos. O filme retrata bem essa obrigação de queremos o tempo todo ter as coisas, de sermos amados. Definitivamente tem muito a ver com o momento que a sociedade, especialmente, a brasileira está vivendo”, conclui.

Realmente o longa-metragem é um filme diferente. Às vezes, parece completamente desconexo e estranho. É confuso mesmo, o que pode fazer o espectador perder um pouco o foco da história, mas merece ser olhado com carinho, justamente pela ousadia de propor algo maior, que vai além das salas de cinema.




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