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Ciro nega confisco de poupança e volta a falar de mínimo em R$ 250
Por Do Diário OnLine
06/08/2002 | 02:30
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O candidato da Frente Trabalhista (PPS-PDT-PTB) à Presidência da República, Ciro Gomes, negou a hipótese de dar calote na dívida interna ou confiscar a poupança dos brasileiros, caso seja eleito. Durante entrevista ao Jornal da Globo, na madrugada desta terça-feira, Ciro afirmou também ser possível pagar um salário mínimo de R$ 250 e atribuiu as acusações que vêm bombardeando sua campanha ao governo federal e ao candidato da situação, José Serra (PSDB-PMDB).

Farra - Ciro começou a entrevista negando apresentar um posicionamento "ambíguo e dúbio" no tocante a assuntos da economia interna, especialmente a respeito do alongamento da dívida interna e do controle nas contas bancárias que enviam fundos ao exterior (CC5). "Não é falta de clareza minha. É que nós estamos em um processo eleitoral em que nem sempre a verdade é respeitada. Os adversários tentam espalhar boatos. Minhas opiniões estão claras no site da campanha, que é um meio isento que eu uso para o debate de idéias". Confrontado com termos sobre o tema apresentados no próprio site, Ciro descartou que vá dar o calote na dívida interna ou mesmo "acabar com a farra das CC5" – como ele mesmo chegou a afirmar.

O ex-ministro da Fazenda afirmou que pretende colocar em prática "providências que restaurem as condições de o país crescer", partindo de quatro pilares fundamentais: uma reforma tributária ("para desonerar o setor produtivo"), uma reforma previdenciária ("sem prejudicar os direitos adquiridos"), a eliminação do rombo das contas externas ("para permitir a queda na taxa de juros") e o alongamento negociado do vencimento da dívida interna ("sem quebra de contratos, não compulsório").

O candidato explicou que pretende retomar a estratégia de alongamento de prazos para o vencimento da dívida – procedimento abandonado pelo Banco Central, segundo Ciro. "Vou fazer porque o BC perdeu o controle e a dívida vem tendo o prazo encurtado. Vou fazer o contrário do que vem fazendo o senhor Armínio Fraga (presidente do BC). Antes de ele assumir, o vencimento estava em 14 meses. Quando assumiu, ele conseguiu alongá-la para 38 meses, mas agora caiu de novo, para 30 meses, e dolarizou-se", afirmou, destacando que os reflexos da indexação da dívida à moeda americana têm efeitos danosos à população em cada nova crise cambial.

Quanto ao "fim da farra nas CC5", Ciro voltou a atribuir a repercussão de suas declarações a "boatos" espalhados pelo candidato José Serra. Ele explicou que suas medidas para as contas CC5 fazem parte de seu pacote para a segurança pública, como um meio de vigiar a lavagem de dinheiro em favor do crime organizado escondida no envio de remessas para o exterior.

Mínimo - No primeiro debate entre os presidenciáveis, promovido domingo à noite pela TV Bandeirantes, Ciro foi confrontado por Serra sobre sua proposta para aumentar o salário mínimo a US$ 100. O candidato tucano disse que Ciro "mentiu" quando afirmou que o mínimo foi de US$ 100 em sua gestão à frente do Ministério da Fazenda e argumentou, baseado em documentos oficiais, que o vencimento foi de US$ 82.

"Não estou interessado em baixaria. Há um certo despudor de certos candidatos. Estava me referindo ao valor nominal do dólar, levando em conta a inflação americana no período, o que equivaleria hoje a US$ 99,5", afirmou Ciro ao Jornal da Globo, nesta terça. O candidato do PPS disse que Serra, como economista, fez um "jogo de palavras e números" ao desconsiderar o cálculo da inflação e apresentou um valor irreal.

Ciro negou ainda que pretenda fixar o salário mínimo em US$ 100, por causa da volatilidade do câmbio, mas assegurou que é possível pagar R$ 250 "sem problemas". O candidato negou a versão do governo federal, de que tal quantia é impossível por agravar o rombo na Previdência, e disse que o déficit previdenciário ocorre por causa do "desemprego, da informalidade no mercado de trabalho e da malversação do dinheiro público".

Amizades - O candidato da Frente Trabalhista teve também de responder a perguntas referentes às denúncias de corrupção que assolam dois membros fundamentais de sua chapa: o deputado petebista José Carlos Martinez, seu ex-coordenador de campanha, e Paulo Pereira da Silva, seu vice. Sobre Martinez, Ciro afirmou que ele é vítima de "inominável violência"; quanto a Paulinho, o candidato negou com veemência que eles esteja sendo alvo de investigações – o que , na verdade, está ocorrendo.

Ciro Gomes citou um famoso provérbio ao explicar a situação de Martinez, que saiu de sua campanha por causa de um empréstimo contraído junto a Paulo César Farias, tesoureiro do ex-presidente Fernando Collor. "Não basta à mulher de César ser honesta. Tem de parecer honesta." O candidato disse que tinha "obrigação" de aceitar o pedido de afastamento do deputado petebista e isentou-se de qualquer responsabilidade caso seja comprovada alguma irregularidade de Martinez nas relações com PC Farias.

"Aceitei o pedido de afastamento de Martinez para que ele possa se defender porque é minha obrigação. Não participo do trucidamento moral de ninguém. Se ele for inocente, tudo bem. Se as investigações provarem sua culpa, aí já não é mais problema meu", afirmou.

Sobre seu vice, acusado de malversação de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), Ciro chegou a discutir com a jornalista Ana Paula Padrão para negar que haja qualquer investigação em andamento sobre Paulinho. Quando a âncora destacou o processo em curso na Corregedoria Geral da República, Ciro afirmou que o órgão "foi criado para acobertar a corrupção no governo Fernando Henrique Cardoso". Ciro disse também que as denúncias são da gestão anterior à de Paulinho na Força. "É da administração do Medeiros (Luiz Antônio), que está apoiando o Lula."

Alianças - Ainda no campo das relações políticas durante a campanha, Ciro foi questionado pelo comentarista Franklin Martins sobre sua aliança com o PFL, um partido conservador de direita. O candidato negou que esteja negociando troca de cargos e afirmou que a ala pefelista que o apóia é dissidente. "Quem está comigo é uma banda do PFL que rompeu com o governo. Não estou comprometido com cargos nem dentro do meu partido. Não estou me comprometendo com ninguém", afirmou.

Definições - A fase final da entrevista foi dedicada a definições pessoais sobre quatro personalidades políticas do país, pessoas com as quais ele teve alguma ligação (passada ou presente, pessoal ou política).

Seu amigo Tasso Jereissati (PSDB), ex-governador do Ceará e hoje candidato ao Senado pelo tucanato cearense, foi chamado de "grande estadista". Fernando Henrique Cardoso foi chamado de "um presidente que falhou quando tinha a oportunidade de dar ao país outro modelo". O ex-governador Leonel Brizola (PDT-RJ) foi denominado como "um grande brasileiro". O ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) foi chamado de "um político extraordinário, dúbio, complexo na sua personalidade, que desperta ódios e paixões tremendas".

Mas os atuais aliados Brizola e ACM já foram adversários ferrenhos de Ciro – o primeiro já foi chamado por ele de "mais fina flor do atraso" e o outro, acusado de ter "tudo que não presta na história republicana". O candidato do PPS argumentou que foram divergência políticas do passado e disse que está buscando aliados hoje porque "entende o tamanho da crise brasileira" e quer "uma ampla aliança nacional" para governar.

Série - Ciro foi o primeiro da série de entrevistas com os candidatos à Presidência que o Jornal da Globo realizará durante esta semana. Na terça-feira (madrugada de quarta), será a vez de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Quarta-feira (madrugada de quinta), o entrevistado será José Serra (PSDB). Na quinta (madrugada de sexta), Anthony Garotinho (PSB) fecha a série. A ordem foi definida por um sorteio prévio.




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