Cultura & Lazer Titulo Cinema
Sucesso de improviso
16/10/2009 | 07:00
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É um dos filmes mais originais e criativos dos últimos tempos - mas se você acha que, por causa disso, o diretor sul-africano Neill Blomkamp recebeu todo apoio da indústria de Hollywood, interessada em apostar na novidade, bem, saiba que ocorreu exatamente o contrário.

Blomkamp e o ator Sharlto Copley participaram da superjunket da Sony no México. Foram mostrar Distrito 9, que estreia hoje nos cinemas brasileiros. O filme é ótimo, mas Blomkamp e seu produtor - ninguém menos do que Peter Jackson, de O Senhor dos Anéis - tiveram de brigar muito para fazê-lo desse jeito.

Mais do que uma metáfora sobre o apartheid, Distrito 9 é sobre a África do Sul na atualidade, pós-segregação. O distrito do título é aquele em que vivem alienígenas, cuja nave estacionou na Terra. Eles sofrem todo tipo de preconceito. Reagem à hostilidade e cria-se um clima de guerra civil, entre aliens e homens.

Um burocrata é contaminado e passa por uma transformação. No processo, perde tudo - o emprego, a mulher. Vira um pária social, mas o filme termina ‘numa espécie de redenção', como diz o próprio diretor.

É o longa de estreia de Blomkamp e ele conta que o Distrito 9 se baseia no Distrito 6, onde os negros viviam segregados, na Cidade do Cabo. Distrito 9 nasceu das ruínas de Halo, que o diretor deveria fazer, com produção de Jackson, baseado no videogame.

"Seria um filme caro, uma coprodução entre a Fox e a Universal. O que ocorreu foi que a Universal mudou seus executivos e dois garotos assumiram a representação do estúdio no projeto. Eles não obtiveram o respeito de seus colegas da Fox. A partir daí, nada funcionou e, o que é pior, colocavam a culpa em mim, alegando mau planejamento de custos. Na verdade, temiam ver uma produção tão grande nas mãos de um estreante. Quando o projeto naufragou, Peter (Jackson) e eu continuamos trabalhando juntos e ele resolveu arcar com os custos. O que poderíamos fazer sem os grandes estúdios?"

Distrito 9 surgiu assim, antes que a Sony se incorporasse ao projeto - Blomkamp, meio que rindo, poupa seus atuais empregadores, na hora de criticar o cinemão.

"Peter (Jackson) tem toda razão ao dizer que os execs só querem saber de sequências e efeitos. Criatividade zero." Na base de Distrito 9, ou D-9, como o filme se tornou conhecido, está um curta do próprio Blomkamp.

O ator que faz o protagonista é seu amigo de infância. "Trabalho na indústria, mas nos bastidores", explica Sharlto Copley. "Quando Neill começou a trabalhar no projeto e a testar possibilidades de máscaras e maquiagens, eu lhe servia de cobaia. Chegamos a um ponto em que ele me via como o personagem. Tomei um susto quando Peter (Jackson) resolveu bancar sua decisão de me manter no papel."

O que faz de D-9 um filme especial não é apenas sua reflexão política e social, mas o processo de criação. D-9 tem algo de 9 - A Salvação, mas, na hora da entrevista, a reportagem ainda não havia assistido à animação de Shane Acker. A comparação foi feita pelo diretor, que enfatizou - seu filme deve muito a Peter Jackson, como o de Acker deve a seu produtor, Tim Burton.

"Peter nunca impôs seus pontos de vista. Eventualmente, discutia minhas opções de roteiro e montagem e me forçava a encarar para onde D-9 estava indo."

Embora tivesse um roteiro detalhado - escrito em 2007 e revisto em 2008 -, o filme foi muito improvisado com os atores. "A concepção visual dos aliens mudou muito. Não são humanos, mas são bípedes e possuem outras características humanas. O trabalho com a voz foi essencial. Não trabalhamos com motion capture (a técnica de animação que permite recriar os movimentos dos atores no computador)."

O desafio era justamente minimizar a técnica, um pouco para diminuir o custo, mas também para imprimir mais realismo ao relato. O próprio formato de documentário reforça o realismo. "Não teríamos um filme, se D-9 tivesse sido feito como apenas mais uma fantasia", diz Blomkamp.




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