Política Titulo Vereadores
Legislativo atual é menos escolarizado

O nível de escolaridade dos vereadores eleitos na região é menor em comparação à legislatura anterior

Por Do Diário do Grande ABC
18/01/2009 | 07:04
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O nível de escolaridade dos vereadores eleitos no Grande ABC em outubro do ano passado para exercer mandato até 2012 é menor em comparação à legislatura anterior. Em 2008, último ano de mandato dos parlamentares que não conquistaram a reeleição, 50 (47,16%) dos 106 vereadores não tinham formação superior. A partir de 2009, esse número subiu para 60 (55,5%) de um total de 108 cadeiras - São Caetano e Diadema criaram mais uma vaga cada.

Na opinião de especialistas consultados pelo Diário, o fenômeno é explicado pelo fato de o eleitor, em sua maioria, identificar-se com o candidato. Importante ressaltar que dos 130 milhões de eleitores brasileiros - dado do Tribunal Superior Eleitoral, referente a dezembro de 2008 - apenas 4,6 milhões (3,54%) conseguiram terminar uma faculdade.

Santo André é o município onde a quantidade de vereadores sem nível superior mais aumentou de um quadriênio para outro. Puxada pela ‘bancada do povo', formada por três vereadores do DEM e um do PSL (que não terminaram o ensino fundamental), a Casa passou de sete para 11 parlamentares sem faculdade. As demais cidades mantiveram a média registrada no mandato anterior. Destaques para São Caetano, Legislativo mais letrado proporcionalmente, e Rio Grande da Serra, com menor índice de vereadores com nível superior.

A tendência de votos a pessoas sem muita escolaridade é também verificada entre os parlamentares mais votados de cada cidade. Considerando os sete eleitos, apenas o de Santo André (Paulinho Serra) e o de São Bernardo (Admir Ferro) têm diploma superior. Curiosamente, ambos são advogados e filiados ao PSDB.

‘PROXIMIDADE'
O cientista político Marco Antônio Carvalho Teixeira ressalta que ensino superior não é pré-requisito para a pessoa se candidatar a um cargo eletivo e muito menos a principal preocupação na hora da escolha do voto. "Tem a questão da representação. É mais fácil a pessoa votar em alguém que represente seu povo. Tem a ver com identidade", aponta.

Ele sustenta a tese citando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, "personagem de extremo apelo social", que goza de índices de popularidade jamais vistos no Brasil. Nordestino e ex-metalúrgico, Lula alcançou o mais alto posto do País sem um diploma nas mãos.

Teixeira lembra ainda que a corrupção, considerada por ele o principal problema da política brasileira, geralmente envolve pessoas mais letradas.

"A corrupção não poupa ninguém. Ao contrário, as pessoas mais envolvidas em escândalos são aquelas com maior nível de instrução", menciona.

O cientista político Sávio Ximenes Hackradt também acredita que a população tende a votar em candidatos que estão "mais próximos dela", especialmente no caso de vereadores, "mais perto das pessoas do que prefeitos, governadores ou deputados". Para ele, a diminuição do nível de escolaridade de um mandato para outro geralmente significa que os novos integrantes do Legislativo são oriundos de regiões mais carentes, portanto, com menos escolaridade. "É consequência."

Na opinião de Hackradt, a tendência de políticos menos letrados que conquistam o cargo desejado é o de querer melhorar como pessoa, o que inclui a questão profissional.

"Contribuem para isso a melhoria na renda com o salário de vereador e a pressão da mídia e da sociedade. O Vicentinho (deputado federal petista Vicente Paulo da Silva) é um exemplo positivo. Se não houver evolução, o vereador pode ser um político de um mandato somente", analisa.

Em Rio Grande, mulher é a única com formação superior

O Legislativo de Rio Grande da Serra é o que possui o menor nível de escolaridade da região. Dos nove parlamentares, a única mulher da Casa e eleita pela primeira vez, Marilza Aparecida de Oliveira Silva (PSDB), possui o curso superior.

Pedagoga e professora de História há 20 anos, a tucana compartilhará o trabalho com outros oito vereadores, a maioria com o ensino médio e de profissões variadas, como técnico de refrigeração, cabeleireiro e aposentado.

"A população é quem escolhe o seu representante, independentemente do grau de instrução do parlamentar", disse Marilza, que ressaltou ter sido professora do vereador Clodoaldo Oliveira do Nascimento (PSDB). O tucano não concluiu o superior.

Para o presidente da Câmara, Edvaldo Guerra (PV), que cumprirá o quarto mandato, o eleitor vota no vereador pelo "trabalho e amizade" e não pelo grau de instrução. "A população de Rio Grande é mais humilde e reproduz o que pensa nas urnas", afirmou o parlamentar do município mais carente de infra-estrutura da região.

Outra exceção é o próprio prefeito Adler Kiko Teixeira (PSDB), advogado e que presidiu o Legislativo entre 2001 e 2004.

Mais votado de Mauá diz que eleitor não analisa só diploma

A Câmara de Mauá terá uma legislatura menos escolarizada. Dos 17 vereadores eleitos, apenas seis possuem ensino superior completo, dois a menos que no último mandato (de 2005 a 2008). Outros cinco concluíram o ensino médio. É o caso do vereador mais votado do município, Átila Jacomussi (PV).

O número de parlamentares que estudou até o ensino fundamental também é maior: seis ante três da última legislatura, sendo que dois não pegaram o diploma de conclusão do curso.

Para Átila, os 8.432 eleitores que o reelegeram como representante não levaram em consideração apenas a formação acadêmica. "Acredito que, para a população, tão importante quanto o grau de instrução é a honestidade, a transparência, a vontade e a seriedade política. As pessoas analisam principalmente o currículo político do candidato."

Ele lembra que, quando somadas estas qualidade com maior conhecimento, as chances de deslanchar na política crescem. "Quanto mais instruído e maior o conhecimento da administração pública, maior será a compreensão das diversas situações que devem ser analisadas na Câmara."




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