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Gestão Marinho entrega uniforme de 2010 como fosse de 2014

Etiquetas de roupas distribuídas à rede mostram
que peças foram fabricadas quatro anos atrás

Por Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
11/05/2014 | 07:00
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Claudinei Plaza/DGABC


Mãe de dois alunos matriculados na Emeb Bosko Preradovic, no Jardim Las Palmas, em São Bernardo, Denise dos Santos Morais aguardou por dois anos para que seus filhos recebessem uniformes escolares da Prefeitura. Quando as peças chegaram, há três semanas, se surpreendeu: roupas distribuídas ao filho mais velho, de 8 anos, estavam com etiqueta indicando que a camiseta foi fabricada no primeiro semestre de 2010.

“Não tenho nem o que dizer”, resumiu a auxiliar de produção de 28 anos. “Esperamos por dois anos pelos uniformes. E quando chegam, vêm deste jeito”, disse a moradora. “Quando recebi, já avisaram que não tinha nem como trocar. Não iriam trocar.”

A situação de Denise é semelhante à de diversas mães com filhos matriculados na Emeb Bosko Preradovic e Emeb Karolina Zofia Lewandoska, no Jardim Esmeralda. Nesta semana, a equipe do Diário esteve na portão do colégio municipal no Jardim Las Palmas e, em menos de meia hora, contabilizou mais de dez uniformes com etiquetas apontando fabricação do primeiro e segundo semestres de 2010 e primeiro semestre de 2011.

“Não tem condições de ver algo deste jeito. Pagamos fortuna de impostos para ver isso. É desrespeito”, reclamou Ademar Dias Cerqueira, 56 anos. Sua filha, de 7 anos, chegou em casa há duas semanas com uniforme em que a etiqueta diz que a fabricação é do primeiro semestre de 2011.

Contratada pelo governo do prefeito Luiz Marinho (PT) por R$ 20,7 milhões para fornecer quatro dos seis lotes de uniformes, a Capricórnio S/A garantiu que a produção é de 2014 e que apenas utilizou sobras de etiquetas de peças fabricadas anteriormente e que estavam estocadas.

Por determinação do TCE (Tribunal de Contas do Estado), a licitação de 2012, para abastecimento em 2013, foi suspensa por suspeita de direcionamento.

A fornecedora é alvo de investigação do Gaeco ABC (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), do Ministério Público, por suposta fraude na licitação e contrato firmado em 2010. À ocasião, recebeu R$ 22,9 milhões e registrou preços de peças unitárias maiores do que os praticados neste ano em São Bernardo e superiores ao da prefeitura de Santos. A companhia negou irregularidades no certame e acordo feitos.

Promotores também apuram se havia acordo fraudulento para que a Capricórnio vencesse a licitação de 2012 – por isso não teria sido interrompida produção de peças, que ficaram encalhadas após a suspensão do edital.

A Capricórnio não respondeu sobre o tamanho da economia com o aproveitamento de lotes anteriores. “Os produtos estão de acordo com todas as especificações do edital e os aviamentos (itens de costura) utilizados na produção estavam em perfeitas condições, o que também não diminui a qualidade dos uniformes.”

Por pedido do Gaeco, o juiz André Gustavo Cividanes Furlan, da 2ª Vara Criminal de São Bernardo, abriu ação penal contra a secretária de Educação, Cleuza Repulho (PT), mais quatro funcionários públicos e 15 empresários por prática de cartel e desvio de ao menos R$ 4 milhões na compra de mochilas e tênis à rede.

Desde o início de aparições de possíveis irregularidades na Secretaria de Educação, o governo Marinho não tem se posicionado.




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