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Vigília foi verdadeira penitência
Leda Rosa
Do Diário do Grande ABC
12/05/2007 | 07:00
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De noite, frio de até 6ºC. De manhã, fome. E usar o banheiro, nem pensar. A vigília dos fiéis que foram à missa no Campo de Marte, começou na noite de quinta-feira, atravessou a madrugada e se tornou uma verdadeira penitência. Como reflexo, os atendimentos médicos praticamente ininterruptos que, apesar dos desmentidos dos encarregados, exibiram flagrantes de falta de equipamentos básicos como macas, em vários momentos.

No total, foram registrados pelos 40 profissionais – entre médicos e enfermeiras de plantão – 216 atendimentos médicos. Houve 11 remoções para hospitais mais próximos, como o PS do Mandaqui.

Na madrugada, a maioria dos casos era de hipotermia. “Parte do público que chegou ainda na noite de quinta-feira, para garantir um lugar mais perto do palco da missa, ficou imóvel durante horas, no frio e isto causa hipotermia, que no caso do idoso, a maior parte dos atendimentos, é ainda mais vulnerável”, explicou o médico Rodolfo Fragola, cujo turno começou às 4h e se estendeu até o fim da missa.

A hipotermia é um estado que exige socorro urgente, pois a queda de quatro graus da temperatura corporal pode causar parada cardíaca. A professora Letícia de Castro, 58 anos, foi atendida às 6h30 com hipotermia. Desmaiada, ela foi retirada do corredor central em frente ao palco e levada nos ombros de um atendente até uma das dez barracas armadas no local pelas Forças Armadas. Uma hora depois, andando devagar, ela se dirigia à porta de saída, rumo à sua casa, no Pari. “É uma pena, mas não aguento.”

 “Senti tanto frio que nem sei como suportei. Vi muita gente desmaiando e sendo levada”, disse a dona de casa Maria Ângela, 62 anos, que veio da Freguesia do Ó e pernoitou no Campo de Marte.

Durante a celebração, o resgate de pessoas que passavam mal na platéia não tinha trégua. As 30 ambulâncias disponíveis eram usadas para melhor distribuir os pacientes.  Quando a temperatura se elevou, o quadro sofreu alteração. “Agora o que mais temos é o mal súbito, provocado por falta de alimentação. O público está há muitas horas sem comer”, disse o major Emílio Vieira, coordenador dos médicos militares.

Os desmaios se sucediam em velocidade maior do que a infra-estrutura disponível. “Estou trabalhando direto, desde o evento do Pacaembu”, disse o maqueiro Claudio Picin, que por volta das 11h, calculava já ter transportado mais de 30 pacientes. No total eram 15 duplas de resgate com maca.

A central de atendimento da PM registrou 18 extravios de documentos, uma tentativa de furto e uma apreensão de DVDs piratas sobre o papa. Igualmente movimentado era o posto de pessoas perdidas. Foram 260 casos, 30% dos quais solucionados até 11h30. “Não sei como vou achar minha avó”, disse Bruno Silveira, 16 anos, ao lado do irmão Mateus, 11. Ainda mais preocupado estava William Azevedo, 13 anos, que veio de Belo Horizonte para a missa. “A gente viajou 12h”, dizia olhando a multidão, em busca do grupo com o qual veio. O papa passou acenando no papamóvel. William nem se mexeu. “Tô com medo de não conseguir voltar."



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