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Mário Rosa lança 'A Era do Escândalo'
Por Melina Dias
Do Diário do Grande ABC
14/09/2003 | 18:50
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Despido de qualquer vestígio de corporativismo, o jornalista, publicitário e consultor de imagem Mário Rosa acaba de lançar o livro A Era do Escândalo – Lições, Relatos e Bastidores de Quem Viveu as Grandes Crises de Imagem (Geração Editorial, 528 págs., R$ 47). A reunião de relatos em primeira pessoa escarafuncha períodos que seus protagonistas gostariam de esquecer e por vezes nos faz sentir vergonha de ser jornalistas. Também os leitores, em alguns momentos, irão corar por ter consumido, inadvertidamente, notícias infundadas. E é por aí que se revela o objetivo nobre de A Era do Escândalo.

“O leitor comum tem a ganhar (com o livro) entendendo melhor o que ele não vê quando assiste televisão, ouve rádio ou lê jornal – o outro lado Qr compreendendo os impasses criados por essa produção e entendendo melhor a sociedade em que vive – os mecanismos de ação do Congresso, do Ministério Público. Quem apreciar relatos biográficos também terá prazer lendo o livro. Já a parte de abordagem mais técnica deverá ser de grande interesse para políticos, consultores, executivos, advogados, marqueteiros e para todos que, de alguma maneira, tenham carreiras públicas ou estejam expostos. E todos nós estamos cada vez mais expostos à opinião pública, essa é a verdade”, diz o autor.

Mário Rosa escolheu 11 casos que fizeram imprensa e opinião pública amadurecerem, sem apelar para o sensacionalismo. “Propositadamente não quis fazer um livro de caráter jornalístico, uma ‘História Secreta do Escândalo’, recheado de revelações bombásticas. O livro até traz algumas revelações desse tipo, mas as histórias entram apenas na contextualização do impasse que os depoentes tiveram de enfrentar. Por isso segui o método de identificar os consensos dos relatos que pudessem servir para empresas e pessoas efetuarem uma melhor gestão do excesso de exposição negativa, caso se vejam nessa situação”, afirma.

Mas é inegável a emoção provocada por alguns depoimentos, em especial os que retratam como uma avalanche de notícias irresponsáveis ou apressadas podem marcar e mudar a vida de um ser humano para sempre. São impressionantes, nesse caso, os relatos da atriz Glória Pires e do ex-ministro da Saúde do governo Collor, Alceni Guerra.

A atriz descreve, pela primeira vez, o longo e doloroso período em que teve de enfrentar uma nojenta onda de boataria sobre um suposto caso entre seu marido e sua filha. O ex-ministro, uma década depois, quebra o silêncio para contar o que ele e sua família passaram na época do chamado ‘escândalo das bicicletas’.

Executivos em crise pensarão duas vezes antes de resmungar da vida depois de conhecer a vivência do ex-vice presidente da TAM, Luiz Eduardo Falco. Ele narra, minuto a minuto, como gerenciou a empresa após o maior acidente aéreo em área urbana no país em todos os tempos. A queda do vôo 402 fez 99 mortos.

Os relatos colhidos por Mário Rosa esclarecem momentos importantes de nossa história recente e revelam que uma atitude correta do homem na linha de frente da comunicação é decisiva. No capítulo sobre o apagão, por exemplo, o publicitário Fernando Barros, presidente da agência de publicidade Propeg, detalha a estratégia que o governo federal adotou para convencer os brasileiros de que o culpado pelo colapso de energia era São Pedro, e não Fernando Henrique.

Cabe ressaltar que, em nenhum momento, Mário Rosa propõe o cerceamento da liberdade de imprensa ou exige qualquer normatização nesse sentido. Suas propostas sempre buscam a reflexão. Ao final de cada um dos depoimentos, o autor dá seu parecer técnico em uma seção chamada As Lições que Ficam.

Há ainda dois capítulos adjacentes, que encerram o livro e clarificam as questões cruciais, como, por exemplo, a exposição a que são submetidas as figuras públicas que depõem em uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito).

Em um deles, Nos Bastidores de Fatos Públicos, Rosa escreve: “O propósito (...) não é, portanto, o de desqualificar o papel da imprensa nem o de promotores públicos e membros de CPIs (...). O que se pretende é justamente colaborar para o aprimoramento da mecânica dessas três instituições, fazendo algumas observações que podem ser úteis como reflexão e até ponto de partida para a tomada de novas posições no contexto sempre rarefeito dos escândalos nacionais.” Descontada a modéstia de Rosa, um largo passo foi dado com seu trabalho.




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