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Novo trabalho de Grisham fala da justiça imoral
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
03/12/2000 | 18:02
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Críticos definem o trabalho do escritor norte-americano John Grisham, 45 anos, como narrativas sobre advogados que fazem a Justiça funcionar, especialmente contra corruptos, no cumprimento de seu dever. Dessa maneira, Grisham criou os cenários de A Firma, O Dossiê Pelicano, Tempo de Matar, O Segredo, O Homem que Fazia Chover, todos adaptados para o cinema. Chega às livrarias um Grisham mais desiludido e menos tolerante com instituiçoes como governo e sistema judiciário em A Confraria (Rocco, 360 págs., R$ 27,50). Desta vez, sem paladinos da justiça, pois seus personagens nao sao ética e moralmente acima de qualquer suspeita.

A "Confraria" do título é um grupo de três juizes, presos em uma prisao federal na Flórida, com poucos anos de pena a cumprir. Estao lá Spicer, por roubar o dinheiro do bingo de uma igreja; Beech, por dirigir bêbado com uma mulher nua e matar dois estudantes atropelados; e Yarber, por sonegaçao de impostos.

Na prisao, eles organizam julgamentos internos com casos corriqueiros junto aos presos, como o pedido de indenizaçao de um deles contra um outro que urina constantemente em suas roseiras.

Entre um veredicto e outro, os três arquitetam um golpe: selecionam homens que aparentam ser bem posicionados em suas comunidades na seçao "amigo procura amigo" em revistas gays, criam um personagem (chamado Ricky ou Percy), um rapaz carente, enviam cartas mantendo uma correspondência regular para conhecer melhor a pessoa e extorquem as vítimas, ameaçando revelar seu segredo divulgando as cartas na comunidade. O advogado alcoólatra e corrupto de Spicer, Trevor, ajuda-os neste golpe fora da prisao.

Enquanto isso, o diretor da CIA planeja eleger um presidente que reative a indústria bélica. Para isso, escolhe um senador de boa reputaçao mas atuaçao apagada, Lake, e pauta sua campanha na defesa do país contra a ameaça dos chineses e dos terroristas. Na verdade, ele teme um general russo revoltoso. Para facilitar a aceitaçao das "idéias" de Lake, a CIA faz vista grossa a um atentado contra a embaixada dos EUA no Egito. Mas a ficha de Lake nao é totalmente limpa: ele mantém correspondência secreta com Ricky.

O golpe da "Confraria" foi executado, na vida real, em uma penitenciária de Angola, no estado da Louisiana, nos Estados Unidos, 12 anos atrás. Nao falta cobiça, assassinato e dissimulaçao no cenário sarcástico do livro de Grisham, onde ninguém confia em ninguém. O autor, advogado formado, nao mira Hollywood com este livro, por enquanto. Mira, sim, em uma cruzada antiviolência que ele começou contra o filme Assassinos por Natureza, de Oliver Stone, especialmente contra seu estímulo a serial killers. Nada mal para quem acaba de escrever sobre a imoralidade das instituiçoes deste fim de século. Seu próximo livro, A Painted House, será sobre sua infância. E nao terá advogados.




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