Cultura & Lazer Titulo
De volta ao estilo clássico
Por Luiz Almeida
Da TV Press
20/11/2005 | 09:43
Compartilhar notícia


Silvio de Abreu não anda numa fase de muitas ousadias. Tanto que, ao escrever a sinopse de Belíssima, se preocupou apenas em montar uma trama com elementos suficientes para conquistar o público, sem exageros. Aos poucos, o autor resolveu rechear sua 13ª novela com os ingredientes indispensáveis para tornar a história atraente, como personagens bem-humorados e histórias de amor e ódio. E não esqueceu, é claro, da infalível trama policial que caracteriza as novelas de sua autoria. “Resolvi escrever uma narrativa bem folhetinesca. Belíssima não traz nenhuma novidade revolucionária, seja na estética, como na maneira de contar uma história. Ao contrário: é uma novela clássica”, destaca. Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

PERGUNTA: Você afirma que Belíssima faz uma crítica ao culto à beleza. Como criticar esse culto num veículo como a televisão, que vive do belo?

SILVIO DE ABREU: Não sou contra a beleza. Sou contra vivermos numa sociedade comandada pela aparência, que obriga as pessoas a sempre serem bonitas. Percebo que nos últimos tempos todos estão enlouquecidos para se tornarem lindos e utilizam os mais variados artifícios. Por isso, resolvi abordar a ditadura da beleza, mas sem ser uma tese acadêmica. Tenho como contraponto ao belo a personagem Júlia Assumpção, da Glória Pires, que, sufocada pela beleza eternizada da mãe que morreu jovem, torna-se uma pessoa cerebral, sem se importar com as aparências. É através dessa personagem que critico o culto sem limites ao belo.

PERGUNTA: Mas sua novela está repleta de rostos bonitos. Isso não reforça o culto à beleza?

SILVIO DE ABREU: Mais uma vez, não sou contra a beleza. Fui armando a história de Belíssima em cima dos atores que precisariam estar na trama. Isso porque gosto de saber para quem estou escrevendo, já que é a partir da escalação do elenco que vou criando as histórias e os personagens. Isso aconteceu com a Glória Pires, por exemplo, e com o Tony Ramos, com a Fernanda Montenegro e o Marcello Antony. Quando me dei conta, vi que tinha bons personagens e um assunto interessante, que era o da crítica ao culto da beleza.

PERGUNTA: E qual foi o motivo para ressuscitar o Jamanta, de Cacá Carvalho, que apareceu pela primeira vez em Torre de Babel?

SILVIO DE ABREU: Não foi por preguiça. Pelo contrário. Já fiz mais de 500 personagens, faria mais um sem problemas. Além disso, o Jamanta é meu, não copiei de ninguém. Ele pertence ao meu universo, assim como a Armênia, de Aracy Balabanian, que esteve em Rainha da Sucata e voltou em Deus Nos Acuda. Mas acontece que, depois que comecei escrever o Pascoal, do Reynaldo Gianecchini, percebi que precisava de um contraponto, de alguém que criasse uma espécie de ruído no ambiente de trabalho da oficina, pois o personagem é o bonitão, cobiçado pelas mulheres. Dessa forma, queria alguém diferente para colocar na oficina, que não fosse a reencarnação de um deus grego. E como tudo que escrevia para esse personagem estava ficando com a cara do Jamanta, resolvi trazê-lo de volta. Achei mais honesto repeti-lo do que inventar alguém muito parecido e que fosse parente do Jamanta. Meu único problema seria se o Cacá não aceitasse fazer a novela, o que não aconteceu.

PERGUNTA: Mas o Jamanta se lembrará do seu passado?

SILVIO DE ABREU: Minha intenção, até o momento, é fazer com que o personagem não tenha relação com o outro Jamanta, de Torre de Babel. Ao contrário da Armênia, que vivia se lembrando de seu passado em Rainha da Sucata, posso dizer que o Jamanta se esqueceu de tudo. Além disso, a gente não sabe como funciona a cabeça dele. Ele entra na trama de Belíssima sem ter tido outra história. Mas acredito que ao longo da novela irão aparecer as semelhanças com o outro Jamanta, mas ainda não defini se isso vai realmente acontecer. Também resolvi repetir o personagem porque ele teve boa aceitação na época.

PERGUNTA: Por falar em boa aceitação, Belíssima estreou com 54 pontos de média, um bom índice. A audiência está correspondendo às expectativas?

SILVIO DE ABREU: As novelas das oito são programas que, cada vez mais, vêm aumentando os índices médios de audiência. Isso é uma grande responsabilidade para os autores, pois devemos manter números satisfatórios. Acredito que estamos correspondendo às expectativas. É claro que não gostaria de que uma novela minha fizesse com que a audiência do horário baixasse. Pelo contrário. Se invento uma história e digo que quero gravar na Grécia, escalar os atores tais e ter belos cenários, entre outras necessidades, preciso corresponder aos investimentos.

PERGUNTA: Não incomoda a responsabilidade de manter os altos índices de audiência do horário?

SILVIO DE ABREU: De modo algum. Quem faz TV, faz pensando em dar resultados positivos, já que a televisão vive da audiência. É um meio bastante honesto: é preciso ter bons índices para valorizar os breaks (intervalos comerciais). É assim que funciona desde que foi inventada. A cada 15 minutos, pára para mostrar que é um veículo que existe para vender sabonetes, cerveja, pasta de dente etc. Depois começa um novo bloco. Seria ingenuidade minha dizer que a audiência não faz parte da minha realidade. Quem não estiver preocupado com isso, é melhor fazer outra coisa.

PERGUNTA: Mas você não se preocupa com a aceitação dos personagens Mateus e Taís, de Cauã Raymond e Maria Flor?

SILVIO DE ABREU: Não me importo e nem fico criando polêmicas. Elas é que surgem. Com relação aos personagens do Cauã e da Maria Flor, pretendo mostrar o atual problema do desemprego entre os jovens. Ele se prostitui por vontade própria, para manter o padrão de vida que deseja. Ela, por sua vez, sai do Brasil para tentar a vida como dançarina, mas se dá mal, pois acaba tendo de se prostituir. Só quero mostrar que os jovens brasileiros têm poucos caminhos para um futuro digno, que estão sem perspectiva alguma e, por isso, se iludem com a chamada vida fácil. Quero mostrar essa realidade do nosso país.

PERGUNTA: As pesquisas de opinião podem mudar os rumos das tramas e dos personagens das novelas. Você suavizaria a abordagem desses personagens?

SILVIO DE ABREU: Isso não é bem assim. As pesquisas servem para saber se os telespectadores estão entendendo e assimilando as histórias de um determinado personagem. Além disso, servem para realmente verificar se o que o autor está tentando transmitir para o público está sendo devidamente compreendido.

PERGUNTA: Em Torre de Babel, contudo, você matou as personagens lésbicas da novela. É verdade que a morte das duas foi em função da rejeição das personagens?

SILVIO DE ABREU: Meus personagens nunca sofreram rejeição. É uma grande mentira dizer que matei as duas porque foram rejeitadas pelo público. Isso é uma grande invenção. Todas as pesquisas de opinião da época demonstravam que elas eram bem aceitas pelos telespectadores. Além disso, é preciso ressaltar que a morte da Rafaela, personagem de Christiane Torloni, já estava prevista desde o início da trama. A novela, aliás, era sobre a grande explosão que acontecia no shopping. A decisão de matar a Leila, de Sílvia Pfeiffer, foi motivada pelo fato de não ter encontrado uma função para ela na trama. Ela não poderia passar o resto da novela chorando a morte da companheira. Além disso, se separasse as duas antes da explosão, iriam achar que havia acabado com o casal pura e simplesmente. Acho que foi a melhor decisão a que tomei, pois preservei a integridade das personagens, mostrando que ficaram unidas até a morte.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;