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'Chapas' do ABC pedem emprego à beira da estrada
Por Tathiana Barbar
Do Diário do Grande ABC
31/01/2004 | 17:45
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As fogueiras, que aparecem com mais freqüência em alguns pontos da via Anchieta – mas que também podem ser vistas na Imigrantes –, são o sinal. Mais do que esquentar o corpo de quem passa madrugadas à beira das rodovias, elas indicam que ali, junto ao fogo, estão desempregados pedindo carona a caminhoneiros, com o objetivo de ganhar uns trocados ajudando a descarregar mercadorias nos armazéns do Porto de Santos. Durante o dia, a identificação é mais fácil: basta um sinal ao motorista ou uma placa pendurada no peito, na qual até os que não sabem do que se trata podem ler com clareza o ofício desses trabalhadores caronistas: chapas.

Os chapas não estão só no sistema Anchieta/Imigrantes. Eles se espalham também pelas margens das rodovias Castelo Branco e Dutra, por exemplo, e mesmo nas marginais Pinheiros e Tietê, na capital, por onde inevitavelmente trafega boa parte da riqueza que roda o Brasil de um lado para outro.

A pele áspera de Josué Francisco de Paulo, de 43 anos, que marca ponto no Km 18 da Anchieta, revela o sofrimento de quem precisa sustentar esposa e três filhos, além dele próprio.

Ele trabalha há 10 anos como chapa. “Sou pedreiro, e como não estava conseguindo arranjar emprego, resolvi ganhar dinheiro desse jeito”, afirmou o caroneiro, que ganha até R$ 1 mil por mês, dependendo do movimento.

Já Alcino de Oliveira, de 64 anos, companheiro de ponto de Josué, trabalhava na construção civil e há um ano e meio está na profissão de chapa. “A situação estava muito difícil, tive que optar por isso. Mas minha família não gosta. Acha que estou muito velho para fazer esse trabalho pesado”, contou. Alcino tem cinco filhos e 14 netos. “Não é fácil ganhar dinheiro para sobreviver”, desabafou.

Os chapas são um fenômeno surgido há cerca de 25 anos. Além de ajudar no descarregamento do caminhão, eles também cobram para guiar o motorista até o local desejado. Geralmente, possuem ponto fixo nas radovias. Em grupos de quatro ou cinco, os chapas enfrentam uma maratona de trabalho que começa todos os dias às 3h30 e não termina antes das 16h.

Em muitas vezes, o horário é combinado por telefone entre eles e caminhoneiros. Porém, em alguns casos, o pedido de trabalho é feito diretamente na estrada, na base do aceno aos motoristas. “Muitos não param, com medo de que a gente seja assaltante”, contou João Guedes da Silva Filho, de 26 anos, que trabalha no Km 45 da Anchieta com três companheiros. De todos os chapas ouvidos pelo o Diário, ele é o único que exerce o ofício apenas nas horas vagas. “Sou funcionário do Projal (Projeto Água Limpa). Fico aqui para tirar um pouco mais por mês”, explicou.

O preço é combinado antes do trabalho e pago depois, em dinheiro. Muitas vezes o caminhoneiro não pode pagar o valor estipulado e o chapa acaba aceitando trabalhar por menos, principalmente se o dia estiver ruim. Além disso, o contrato entre eles é verbal, não sendo poucas as vezes em que o chapa cumpre o trabalho, mas não recebe o combinado. Normalmente, ele cobram cerca de R$ 100 por descarregamento e R$ 30 para apenas guiar o motorista.




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