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Batida da bossa nova inspira musical 'Garota de Ipanema', no Rio
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05/09/2016 | 07:00
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A bossa nova tornou-se um dos movimentos mais influentes da MPB graças a seus acordes de violão, simples e revolucionários. Mas, entre as intenções de seus criadores, jovens da zona sul carioca do final dos anos 1950, estava um detalhe menos revolucionário e mais cotidiano: combater a tristeza que reinava nas canções nacionais, uma eterna dor de cotovelo. É por esse caminho que segue "Garota de Ipanema, o Amor é Bossa", musical que conta uma história de amor recheada de clássicos do movimento e que está em cartaz no novíssimo Teatro Riachuelo, no Rio, onde funcionava o Cine Palácio.

Tudo começou com uma ideia passada pelo ator Marcelo Serrado aos sócios da Aventura Entretenimento, produtora especializada em musicais (entre outros, montou "Elis - A Musical" e "Chacrinha, o Musical"). "É um espetáculo que fala de uma época onde as coisas simples tinham valor, como namorar na porta de casa, dar uma flor ou ler uma poesia", conta ele, em texto vinculado no programa da peça. O tema também atraiu a teledramaturga Thelma Guedes, convidada para escrever o texto que marca sua estreia teatral. Mas ela impôs uma condição: que a protagonista morasse no Méier, subúrbio carioca.

Com liberdade para escrever, Thelma se inspirou na própria trajetória. "Quando recebi o convite, me veio na cabeça a minha história com o que era a 'garota de Ipanema', ou seja, a garota que morava na zona sul, que as meninas de subúrbio tanto queriam ser. Queria contar isso com propriedade."

Ela criou, assim, uma trama que se passa no Rio de Janeiro dos anos 1960, época em que Zeca (Thiago Fragoso), arquiteto, rapaz da zona sul, se apaixona por Deolinda (Letícia Persiles), apelidada Dindi, menina que mora distante do mar, na zona norte, e com grande aspiração a ser cantora. É justamente a música que une dois personagens tão distintos e distantes: certo dia, eles se conhecem quando Dindi queria mostrar sua voz para Vinicius de Moraes, que já era amigo de Zeca.

O musical traz essa curiosidade: enquanto os protagonistas são personagens fictícios, os "secundários" são figuras nobres como Tom Jobim, Roberto Menescal, além do próprio Vinicius. E o texto vai além de mostrar apenas a criação e a evolução da bossa nova, pois, como pano de fundo, despontam temas polêmicos como a violência contra a mulher e a ditadura militar.

"Esses assuntos conferem um peso no realismo da montagem, mas busquei, na encenação, uma alternativa mais minimalista, seguindo os preceitos da própria bossa nova", comenta o diretor Gustavo Gasparani. "Tanto que decidi manter todos os atores em cena, independente de quem está no foco no momento, para criar uma espécie de coro grego."

Gasparani conta que a primeira imagem que lhe surgiu ao ser convidado para dirigir o musical foi do coreógrafo e dançarino Lennie Dale (1934-1994) dançando. "Para mim, ele é a mais pura tradução da mistura da bossa nova com o teatro musical. Por conta disso, intuí que a dança seria um elemento primordial nesse espetáculo. O repertório da nossa Garota explora toda a pluralidade rítmica e poética da bossa nova e ainda flerta com a geração posterior, diretamente influenciada por ela."

Para que a evolução rítmica do movimento fosse devidamente representado, Roberto Menescal foi convidado para cuidar da supervisão, enquanto a direção musical ficou a cargo de Delia Fischer. "Isso foi decisivo, porque a melodia da bossa nova tem pegadinhas", comenta Thiago Fragoso. "É sincopada - tem relação com o samba, mas exibe uma sofisticação própria." Segundo o ator, Menescal, assim como Marcos Valle, ofereceram conselhos preciosos. "Como minha inspiração na criação do Zeca foi o João Gilberto, eles me ajudaram a perceber como o João tem um estilo muito próprio, pois, às vezes se adianta na voz, às vezes se atrasa, mas sem perder a cadência."

Fragoso pensou muito antes de voltar a fazer um musical - em 2012, ele sofreu um acidente durante a apresentação de "Xanadu", quando caiu de uma altura considerável, o que lhe provocou uma perfuração no diafragma e fratura nos arcos costais. "Voltei por causa da Thelma, com quem tenho uma relação muito pessoal, uma sintonia." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.




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