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Sete anos sem Eloá

Mãe da jovem considera injustiça chance de
assassino da filha ir para o regime semiaberto

Por Daniel Macário
Do Diário do Grande ABC
18/10/2015 | 07:00
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Claudinei Plaza/DGABC


Injusta. É desta forma que a recepcionista Ana Cristina Pimentel da Silva, 49 anos, mãe de Eloá Pimentel, morta aos 15 anos pelo ex-namorado no dia 18 de outubro de 2008, enxerga a possibilidade de Lindemberg Fernandes Alves, 29, voltar às ruas em breve.

Segundo o advogado de defesa Fábio Tofic Simantob, o ex-motoboy, preso após conduzir o mais longo cárcere privado do País (cerca de 100 horas), pode ser beneficiado com o regime semiaberto dentro de três a cinco anos, conforme legislação brasileira. Isso porque autores de crimes hediondos, como é o caso de Lindemberg, têm a chance de solicitar a progressão da pena após ter cumprido pelo menos 40% da condenação – há ainda a redução de um dia da pena a cada três dias de trabalho executados por Lindenberg desde 2012.

De acordo com Simantob, o ex-motoboy se aproxima do percentual de cumprimento da pena necessário pela legislação para solicitação de mudança de modalidade. “Fazendo as contas, acho que ele fica de dez a 12 anos no regime fechado. Tirando os sete anos que ele já cumpriu, acho que em três a cinco anos já é possível solicitar ao juiz a mudança (para o semiaberto), lembrando que o mesmo pode aceitar ou não”, destaca.

Lindemberg foi condenado em fevereiro de 2012 a 98 anos e dez meses de reclusão pela morte de Eloá e outros 11 crimes. Entretanto, em junho de 2013 sua pena foi reduzida para para 39 anos e três meses em regime fechado.

Para a mãe de Eloá, a possibilidade mostra falhas no sistema judiciário do País. “Eu não acho justo, mas a Justiça daqui é algo que não pune. Infelizmente, ele solto ou lá (na prisão) não irá trazer minha filha de volta. Eu só espero nunca encontrar com ele.”

Apesar de episódio completar sete anos hoje, Ana Cristina diz ainda não estar preparada para desculpar Lindemberg. “Não aceito, pois ele teve chance para pedir perdão e de falar comigo, mas não fez.”

Segundo a mãe, a saudade de sua filha ainda se faz presente todos os dias. Como forma de manter na memória os momentos bons da jovem, que hoje teria 22 anos, ela espalhou pelas casas porta-retratos com imagens de Eloá e mantém um quarto com a cama e os ursos de pelúcia da jovem. “É como se fosse ontem. Para a mãe nunca muda. As fotos fazem eu sentir ela do meu lado.”

Mensalmente, Ana Cristina realiza visitas ao cemitério onde Eloá foi enterrada – Memorial Santo André. “Vou lá limpar a placa e conversar mentalmente com ela.”

Mesmo tendo se mudado do bloco 24 da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), local da tragédia, a mãe ainda continua morando no Jardim Santo André com seus filhos, nora e dois netos. Segundo ela, nos próximos meses seu marido e pai de Eloá, Everaldo Pereira dos Santos, deve retornar de Alagoas. Ele estava preso desde 2009 cumprindo pena pelo assassinato de três pessoas e foi solto em agosto de 2014.

 

OPORTUNIDADE

Embora tenha servido de cenário para uma das mais comoventes tragédias do País, o apartamento 24 do CDHU também é sinônimo de recomeço. A desempregada Daniela Cristina, 31, mora no espaço desde abril de 2009, junto de seu filho e marido.

“Dois meses antes da Eloá morrer meu barraco caiu e tive de ir para uma creche. Estava morando lá com meu filho (na época com quatro anos) quando tudo aconteceu. Não consegui o auxílio aluguel e acabou que a mãe dela (Ana Cristina) se mudou e eu vim para cá. Confesso que não sinto nada de estranho, pois esse é meu primeiro lar”, revela Daniela, que evita ficar na janela, porque ainda observa a presença de curiosos querendo tirar fotos do local.

 

Moradores do Jd.Santo André ainda se recordam dos momentos de angústia

 

Sete anos após a morte da jovem Eloá Pimentel, na época com 15 anos, moradores do Jardim Santo André ainda se recordam com detalhes dos momentos de angústia vividos durante o mês de outubro de 2008. Para muitos, as cenas da tragédia nunca serão apagadas da memória.

Vizinha de Eloá na ocasião, a merendeira Iraci Leite, 56, lembra da mudança da rotina obrigatória enquanto durou o cárcere privado. “Durante aquela semana não podia sair do meu apartamento, que ficava em cima de onde eles estavam. Meu marido e eu quase não conseguíamos dormir. Sempre pedia a Deus para que tudo terminasse bem.”

Iraci lembra emocionada das visitas de Eloá em sua casa. “Ela era uma ótima menina. Conheci ela ainda criança. Difícil esquecer de uma garota tão alegre e feliz.”

Já o aposentado João Batista, 65, destaca que acompanhou todo o episódio pela televisão. “Na época ainda não morava no mesmo prédio que ela, mas me recordo que acompanhei tudo. É difícil esquecer. Foi algo que marcou o bairro”, relata.




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