Em evento realizado ontem em São Bernardo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sustentou que a militância petista necessita compreender “sem ficar nervosa” os movimentos populares de ‘Fora, Dilma’ nas ruas ao avaliar que todos de sua época levantaram bandeira idêntica. “Aqui neste salão tem alguma pessoa que não carregou faixa contra alguém? Fizemos passeatas, paramos a Via Anchieta e pedimos ‘Fora, beltrano’ e ‘Fora, ciclano’. Faz parte do jogo”, alegou, na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. “Temos de medir a pressão e ver se estamos merecendo ou não (essas críticas).”

Lula considerou que os aliados têm de “manter o foco” e perceber que as manifestações são “democráticas e legítimas”. “Não podemos ficar nervosos. Precisamos medir se estamos fazendo aquilo que nos propomos a fazer”, cutucou o ex-presidente. A fala acontece em ocasião que o PT acusa os defensores do impeachment de golpismo. Para ele, os militantes possuem papel de mapear as razões dos protestos, referindo-se aos três grandes atos contrários ao governo de sua pupila política, Dilma Rousseff (PT). Ponderou, entretanto, que há diferenças entre os atos encampados atualmente com o liderados pelo petismo. “Nós pedíamos a democracia. Agora, tem grupo que vai pedir pela volta dos militares e colocar meninos de 16 anos na cadeia.”

Ao lado de prefeitos do partido e sindicalistas, o discurso do líder petista se deu no lançamento do Memorial da Democracia virtual, portal elaborado pelo Instituto Lula, cujo objetivo é mostrar a história de personagens, acontecimentos políticos e lutas populares que levaram ao avanço democrático. A inauguração oficial do site ocorreu ontem e aborda dois tópicos neste primeiro momento, destacando, com fotos e vídeos, o período do golpe militar de 1964 até a eleição de Tancredo Neves, em 1985. O segundo módulo conta de 1985 a 2002, com a eleição de Lula.

Próximo de completar 70 anos, Lula mencionou que “quem está radicalizando agora são os de cima” em alusão à elite brasileira. “Vivemos momento delicado, de irracionalidade emocional da sociedade”, afirmou ele, frisando que a militância deve levantar a cabeça e tornar a vestir com orgulho as cores da legenda. “Temos de voltar a usar a camisa vermelha outra vez”, disse. “Temos em conta que cometemos erros, mas com a certeza que ninguém fez mais do que nós pela democracia neste País.”

MUSEU FÍSICO
O lançamento virtual aconteceu sem a liberação do espaço físico, embargado pela Justiça. A proposta original é construir o museu em área cedida pela prefeitura de São Paulo em 2012, à época comandada por Gilberto Kassab, hoje ministro das Cidades. A pedido do Ministério Público, uma liminar bloqueou o terreno, que teve aprovação da Câmara. Lula argumentou que vai aguardar o desenrolar do processo.