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A Passárgada de Rio Grande
Isis Mastromano Correia
Especial para o Diário
27/05/2007 | 07:05
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Um lugar onde todos vivem em harmonia com a natureza, as famílias respeitam umas as outras, as casas não têm trincos nas portas e os pássaros se alimentam de frutas frescas, no topo das árvores, sem medo da proximidade com os humanos.

Não se trata de Passárgada ou Shangri-lá. O que mais se parece com um daqueles lugares ideais, como os descritos nos contos de mundos imaginários existentes apenas na literatura, está, na verdade, a 30 minutos do Centro de Rio Grande da Serra.

A Vila Verde – a denominação parece ter sido escolhida a dedo – é um paraíso detectado fora das ondas da imaginação.

O mais incrível é que o nome chegou antes do lugar. Parece mesmo que estava à espera dos primeiros moradores de um loteamento que tinha tudo para ser mais um.

Há sete meses, a chegada do geógrafo Pedro Alexandre de Souza, 34 anos, ao condomínio mudou a concepção das famílias que ali estavam há mais tempo.

Todos compartilham de um ideal comum: fugir dos grandes centros urbanos. Souza soube captar isso e mobilizou as seis famílias – cerca de 30 pessoas – que vivem no conjunto residêncial, a concretizar um estilo de vida inusitado.

Para isso, construíram uma horta comunitária e um viveiro. Da primeira, saem cenouras frescas, alface bem verdinha, beterraba da mais roxa, alho-poró, salsinha, rúcula, serralha. No segundo espaço, mudas de ipê, jacarandá, romã, oliveira, limão, mexerica, pau-brasil e até palmito jussara, espécie em extinção, geradas com todo cuidado. A missão das mudinhas é reflorestar áreas desmatadas no loteamento.

“Aqui, buscamos qualidade ambiental e não qualidade de vida”, explica Souza. “ Qualidade de vida, qualquer um pode ter em um belo apartamento, em uma casa bem-estruturada, aconchegante”, completa.

De fato, o que faz o pessoal da Rua 3 – o nome próprio é um dos desejos da comunidade – ser diferente é a busca por um sistema de viver muito oposto do qual estamos acostumados.

A horta, por exemplo, é aberta. Qualquer um pode entrar e servir-se à vontade. As casas, simples, multicoloridas e construídas nos mesmos padrões, também estão sempre à espera de novos amigos.

“Todo mundo se respeita muito”, conta o segurança José Ferreira da Silva, guardião da horta e do viveiro de plantas, cada qual com cerca 20 m².

Zezinho, como é conhecido na vila, assume que pouco conhecia dos vegetais, das flores e das plantas. A intimidade veio com o tempo e hoje, apreciar os tucanos e faisões que visitam o condomínio se tornou passatempo.

“Viver aqui é uma terapia”, garante o vendedor Ariovaldo Catelan, 46 anos. Ele é um dos refugiados da Vila Verde. Veio do Centro de São Bernardo em busca da natureza e ganhou de lambuja uma nova experimentação da vida, o convívio em comunidade. “Ficamos encantados com o lugar. Agora queremos deixá-lo mais bonito”, diz.

Era uma vez - O geógrafo Pedro Alexandre de Souza Campos explica que a idéia de transformar a Vila Verde em uma ecovila foi, em parte, uma medida para modificar o estigma ruim que o restante da população criou para o lugar.

“Quando começaram a desmatar a área para loteamento, que é regular, as pessoas não viram com bons olhos”, explica. “Hoje, queremos servir de exemplo para toda a cidade.”

Este fim de semana será reservado para o plantio de várias das mudinhas geradas no viveiro que irão reflorestar parte do que foi devastado. De acordo com os moradores, o dono do loteamento deixou de fazer algumas compensações ambientais que deveria. “Agora, fazemos nós mesmos”, diz Souza. O próximo passo é catalogar cientificamente as espécies de fauna e flora da vila, por isso, o apoio de ONGs e universidades é bem-vindo.
(Supervisão de Cláudia Fernandes)




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