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Melhor de Macy Gray é 'quase'
Ricardo Ditchun
Do Diário do Grande ABC
18/11/2004 | 11:11
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Ela só tem três álbuns gravados. Mas Macy Gray faturou um Grammy (artista revelação) com o CD de estréia, On How Life Is (1999), o mesmo que vendeu, apenas nos Estados Unidos, cerca de 4 milhões de cópias. Depois vieram The Id (2001) e The Trouble With Being Myself (2003). Na média, todos são bons o suficiente para serem comprados, ouvidos e guardados e, na contabilidade global e atual, nada menos que 8 milhões de gravações já circulam pelo planeta. Não é de se estranhar, portanto, que essa soul sister faça por merecer um "o melhor de" aos 34 anos. E é essa a mais recente novidade em torno dela: o CD The Very Best of Macy Gray (Sony, R$ 35, em média).

O disco é para fãs e boa porta de entrada para o mundo fascinante de Macy. Tem 17 faixas e, como se trata de uma seleção, vale de cabo a rabo. Mas também tem falhas, e elas são as ausências. Uma é My Fondest Childhood Memories (do álbum de 2003), canção com uma letra estranha que, Macy jura, é ficcional. Fala de traumas da infância: do pai que transou com a babá, da mãe que foi "encanada" pelo encanador, vingança... É uma espécie de crônica da violência moderna em ritmo retrô e meio surreal. Outras são Jesus for a Day (a voz soa linda), também de The Trouble With Being Myself, e Oblivion, a orientalíssima 11ª faixa de The Id.

The Very Best of, no entanto, tem She Aint't Right for You, um soul que merece volume máximo e muita calma para absorver a maravilhosa voz de Macy em um de seus momentos mais inspirados e com todos os seus vieses surpreendentes: sujeira, rouquidão e estilo pautado pelo soul e pelo funk dos anos 1970. A Era Motown, aliás, foi e tem sido a fonte de Macy Gray. Nela se encontram Stevie Wonder, James Brown, Marvin Gaye e Diana Ross. Além disso, estão presentes variantes do hip hop, do rock, pop e jazz.

O álbum abre com a obrigatória I Try e segue assim: Do Something, Still, Why Didn't You Call Me, I've Committed Murder, Sexual Revolution, Sweet Baby (Featuring Erykah Badu), Boo, When I See You, Love is Gonna Get You, Walk This Way, Demons, When I See You (Bugz in the Attic Remix), I've Committed Murder (Gang Starr Main Mix) e Sexual Revolution (Norman Cook Radio Mix at 128bpm). Walk This Way é aquela mesma, de Steve Tyler, do Aerosmith. Esta, e Love Is Gonna Get You, tema da série de TV norte-americana Miss Match, são novidade, pois não estão nos álbuns de carreira de Macy. Com isso, o The Very Best of espanta o caráter oportunista que costuma rondar as tais coletâneas.

Sexy, desbocada, espalhafatosa, performática (ficou nua no palco durante um show em Londres em julho deste ano) e cativante. Assim é Macy Gray, que já veio duas vezes a São Paulo - em 2001, quando literalmente levou ao delírio o público do Free Jazz Festival - e em agosto passado, no Tom Brasil Nações Unidas, durante um show igualmente memorável, mas com o som um tanto empastelado. Nas duas ocasiões, São Paulo ficou mais moderna e fashion.

Agora, só resta torcer para a retomada do caminho autêntico de Macy Gray conforme trilhado nos dois primeiros álbuns. The Trouble é bem bacana, mas nota-se uma certa mão pesada de sua trupe musical - alguns instrumentistas e compositores também são os seus produtores. Macy faz a sua parte, mas corre o risco de ser plastificada. Mainstream ela já é mesmo, não tem jeito. Vai até lançar uma grife de roupas em fevereiro de 2005. Também falta um DVD, pois ver Macy no palco é tudo de bom. Dá para viciar.




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