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Garotinho usa rede evangélica
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20/02/2006 | 07:59
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Uma estrutura de comunicação fortemente enraizada no evangelismo pentecostal garante ao pré-candidato à Presidência da República pelo PMDB Anthony Garotinho uma plataforma de decolagem para as eleições de 2006, baseada num discurso conservador para os costumes, que contrasta com o programa de esquerda que defende para a economia.

Enquanto percorre o País em busca dos votos, Garotinho defende, no rádio e na TV, a união das famílias e a fidelidade no casamento e se apresenta como autor de canções religiosas. A combinação é alvo de atenção de assessores, que querem trabalhar a idéia de que Garotinho é um político evangélico, não um político dos evangélicos, rótulo que poderia isolá-lo da maioria dos eleitores.

Na televisão, Garotinho fala por pouco mais de três minutos no Falando em Família, programa exibido de segunda a sexta-feira, às 13h, na Band, no Rio, e reproduzido também na CNT e na Rede TV!, sendo assistido em vários Estados. No ar há pelo menos um ano, o programa é bancado pelo pastor Silas Malafaia, que, na Band, patrocina o horário, e nas outras emissoras o inclui em seu próprio programa, Vitória em Cristo, transmitido diariamente pela CNT, às 16h, e pela Rede TV!, aos sábados, das 9h às 10h. Garotinho não fala em campanha. Seu tom não é de político, mas de conselheiro familiar, sentimental e religioso.

“Falando em Família é um programa para a família, não tem política”, explica o marqueteiro Carlos Rayel, que fez a campanha de Garotinho em 2002 e continua a assessorar o político. É ele que, por meio da empresa Mídia Brasil, produz o quadro. “Garotinho fala de matrícula na escola, filho que não estuda, casal que não está se entendendo. As pessoas mandam cartas, ele entra e fala.”

A inspiração veio das aulas que Garotinho dá na escola dominical da Igreja Presbiteriana Luz do Mundo, onde fala de assuntos como crise do casamento e até de sexo – defendendo relações somente após o casamento. “A sensualidade excessiva exposta nas praias, nas revistas, na televisão e nos cinemas; a pornografia disponível na internet; as relações sexuais pré-conjugais e extra-conjugais são como granadas nos alicerces do casamento”, afirma o palestrante, segundo transcrição das aulas no site www.orepelobrasil.com.br.

“Garotinho não é candidato dos evangélicos, ele é um político que é evangélico”, insiste Rayel, que quer evitar que o peemedebista seja definido como ligado apenas ao evangelismo, o que poderia lhe dificultar o acesso aos eleitores de outras crenças. “Esse conceito tem que ser trabalhado. Não tem um candidato dos católicos, dos espíritas, dos umbandistas. No caso dele, todo mundo sabe: ele é um candidato que é evangélico. Os adversários tentam carimbar com isso, para isolar.”

Garotinho converteu-se em 1994, após um acidente de carro durante a campanha eleitoral para o governo estadual, no qual ficou gravemente ferido. Detalhes do episódio estão no mesmo site.

Aos sábados, o ex-governador do Rio também participa do Encontro Marcado, na Band, que Rayel garante não ser em horário comprado. “A Band comercializa, vende anúncios.” Segundo ele, o programa, com cerca de dois anos de existência, é de “valorização do Rio” e discute basicamente problemas administrativos. “No fim, ele dá uma entrevista, não em todas as edições”, afirma Rayel.

Rádio – Mas é nas ondas do rádio que Garotinho começa o seu dia, às 7h, geralmente no Palácio Laranjeiras, residência oficial do governo estadual, onde mora com a mulher, a governadora Rosinha Garotinho (PMDB), e a família. Ali, de um estúdio, fala ao vivo diretamente para centenas de emissoras – as estimativas variam de 180 a 400. Quando viaja, deixa o programa gravado. Palavra da Paz vai ao ar às 8h, de segunda a sexta-feira, e aos sábados das 9h às 10h.

Rádios evangélicas, como a Melodia, do pastor e ex-deputado Francisco Silva, retransmitem o sinal aberto, mandado via satélite para todo o País. Silva garante, porém, que faz bom negócio. “O ex-governador, radialista de profissão, é líder de audiência no horário”, diz o ex-parlamentar do PP, que vende anúncios veiculados durante o programa, o que garante o faturamento. “Não alugo o horário, cedo graciosamente”, afirma Silva, explicando que o programa já tem cerca de oito anos. “E, se precisasse pagar, pagaria. A Rádio Globo colocou o padre Marcelo e virou um fenômeno. Quem não tem padre Marcelo tem que ficar com Garotinho...”



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