Desvendando a economia Titulo Coluna
A urgência em olhar para o longo prazo
Por Sandro Renato Maskio
30/08/2021 | 00:01
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Não é incomum encontrarmos adeptos do estilo de viver um dia de cada vez. Estes priorizam o fato de que a vida acontece agora, ao mesmo tempo em que avaliam o futuro como incerto, independentemente do que se planeje. Essa assertividade, para outros, justifica maior cuidado e priorização com o planejamento da vida no futuro.

Sem nenhum juízo de valor, as decisões individuais de estilo de vida cabem a cada um, com suas vantagens e desvantagens, riscos e seguranças. 

Entretanto, quando o assunto é economia, em especial desenvolvimento econômico, não é bem assim. Entre alguns dos fatores essenciais para a trajetória da economia ao longo do tempo estão aqueles que determinam a competitividade e os que determinam a capacidade produtiva, que por vezes se entrelaçam. 

Entre alguns dos fatores fundamentais para a competitividade da economia, estão os associados aos fatores de custo, para o qual a melhoria da produtividade nos diferentes setores da economia mostra-se o caminho mais sustentável à inserção produtiva e competitiva dos países e das economias locais.

Quanto à capacidade produtiva, é essencial a construção e manutenção de um bom ambiente econômico e a estruturação de bases garantidoras de infraestrutura operacional aos setores produtivos.

A questão é que nenhum desses fatores é concebido ou adquirido em curto espaço de tempo. Muito pelo contrário. E a falta de um planejamento de ações estruturantes com foco no médio e longo prazos inevitavelmente implica em enormes riscos de criar barreiras ao progresso da economia.

Olhando para a atual crise hídrica no Brasil e os efeitos sobre a geração de energia elétrica, nos defrontamos com uma grande barreira à retomada da economia brasileira. Mesmo que não ocorra um apagão, a elevação do preço da energia afeta o custo de toda a cadeia produtiva, impactando negativamente para o crescimento da produção. Se porventura tivermos que enfrentar algum tipo de racionamento, então o estrago será maior ainda. 

Se para alguns a culpa é apenas da falta de chuvas, que reduz a capacidade dos reservatórios de nosso sistema de geração de energia concentrado em hidrelétrica, não podemos nos esquecer do baixo investimento e lenta expansão de novas matrizes geradora de energia, para as quais o Brasil tem grande potencial, como as energias solar e eólica. Sem falar na falta de investimento nas linhas de transmissão e as inevitáveis perdas de parte da energia gerada neste processo. 

Aqui poderíamos listar outros gargalos da economia brasileira pela falta de planejamento e de ações efetivas, especialmente relacionados à infraestrutura, como o custo das operações portuárias no Brasil; o custo imposto pelo modal de transporte, ainda concentrado no deteriorado sistema rodoviário; aos quais podem se somar à necessidade de melhoria na infraestrutura do setor de telecomunicações, da infraestrutura urbana, entre outras.

O que quero chamar atenção é que em questões relacionadas à estrutura produtiva da economia o risco de se viver um dia de cada vez tem preço muito elevado. Se de um lado o crônico problema da estrutura do orçamento público brasileiro dificulta a realização de investimentos públicos no Brasil, que na grande maioria dos países do mundo são essenciais para garantir uma boa infraestrutura, o baixo nível de conhecimento ou o desleixo daqueles que tomam decisões e definem prioridades no campo das políticas públicas brasileiras também tem provocado impactos negativos.

Infelizmente não podemos prever o futuro, mas podemos decidir adotar posturas de maior precaução, que garantam maior sustentabilidade e menor exposição ao risco. Hoje é comum ouvir críticas aos recursos públicos gastos com a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016, frente aos desafios com os quais a sociedade se deparou com a brutal desaceleração da economia após 2014.

Não será apagando algumas luzes ou qualquer ação desesperada imediatista que construiremos condições de garantir estruturas mínimas ao progresso econômico e social.  

Material produzido por Sandro Renato Maskio, coordenador de estudos do Observatório Econômico da Faculdade de Administração e Economia da Metodista.




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