Quase quatro meses depois de ser notificada pela Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) para realizar uma investigação ambiental sobre a contaminação do bairro Jardim das Oliveiras 3, na região do Alvarenga, a Prefeitura de São Bernardo ainda não deu qualquer retorno à companhia sobre o estudo.

Publicado com exclusividade pelo Diário, parecer técnico elaborado em outubro pela Cetesb alertou sobre a contaminação da área, loteada irregularmente sobre antigo lixão nos anos 1990. O documento teve como base relatórios realizados pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) entre 2004 e 2007, a pedido da Prefeitura.

Entre os compostos nocivos à Saúde, a entidade localizou no solo a existência de benzeno - substância cancerígena encontrada em quantidade 196 vezes maior do que a permitida - e de metais pesados na água como chumbo, cromo, cádmio e mercúrio.

A agência ambiental da Cetesb em Santo André informou que o prazo para que a Prefeitura apresente o estudo detalhado termina no dia 23. Entre os pontos que precisam ser elucidados pela investigação estão a delimitação da área contaminada e a quantificação e qualificação dos resíduos. Caso não ofereça o documento, a administração pode ser multada.

"É a primeira vez que a Cetesb cobra providência de alguém sobre este caso. É um avanço tardio, mas é um avanço, sem dúvida. O processo pede exatamente isso, que a Prefeitura apresente um plano para a recuperação da área", afirmou a promotora Rosangela Staurenghi, que ingressou em 1995 com ação civil pública pedindo o desfazimento do loteamento, erguido sobre área de proteção ambiental.

A promotora lembra que a apresentação do estudo pode decidir, por exemplo, sobre a necessidade de remover a população ou remediar a área sem retirar os quase 3.000 moradores. "Uma série de perguntas serão resolvidas a partir dessa investigação e acho que isso é uma prioridade dessa administração, pelo menos foi o que o prefeito demonstrou na vistoria judicial (em 19 de dezembro de 2008)."

Juiz titular da 7ª Vara Cível de São Bernardo, Gersino Donizete do Prado, entende que uma investigação ambiental demanda muito tempo. "Ainda assim, a Prefeitura deve uma resposta à Cetesb."

Procurada pela reportagem, a administração não se pronunciou.

 Moradores seguem vida normal no Jd.das Oliveiras

À espera de respostas sobre a real dimensão da contaminação da área e os possíveis agravos à Saúde, os moradores do Jardim das Oliveiras 3, em São Bernardo, seguem seu ritmo normal de vida ainda cercados de incertezas.

Os moradores contam que após a realização da inspeção judicial em dezembro do ano passado - que teve a participação de todas as autoridades envolvidas na resolução do problema - somente uma comitiva da Prefeitura foi ao bairro uma única vez, no final do mês passado.

Ainda assim, a visita dos representantes do Executivo teria se limitado ao passeio de carro pelas esburacadas ruas do bairro e uma rápida conversa em solo. Aos moradores, nenhuma resposta ou explicação. "Não adianta vir e só olhar", observou um morador.

Morando com marido e filhos no Jardim das Oliveiras há 10 anos, a dona de casa Maria José Vieira de Souza, 52 anos, se incomoda com a ausência de informações, apesar de não conhecer nenhum vizinho que tenha adoecido em virtude do contato com os compostos formados pelo lixo enterrado no bairro. "É ruim não ter conclusão nenhuma. Queremos uma certeza, uma decisão concreta. O que falta é isso", afirmou.

No bairro desde 1996, a comerciante Francisca de Souza, 48, também faz cobranças. "Agora que começaram a fazer alguma coisa de verdade é preciso ir até o fim."

Para outros moradores, mesmo sabendo que qualquer obra de infraestrutura não possa ser realizada sem a análise do impacto ao meio ambiente, o estudo sobre a contaminação ainda não executado pela Prefeitura está em segundo plano, e o asfaltamento das ruas e a canalização dos esgotos que correm a céu aberto são as prioridades.