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RS: três empresas querem controlar CRT
Do Diário do Grande ABC
10/01/2000 | 12:39
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Representantes da Tele Centro Sul, controlada pela Italia Telecom e Banco Opportunity entre outros, e que já possui 8,01% da Companhia Riograndense de Telecomunicaçoes (CRT), realizam nesta terça e nos próximos dias, uma visita ao data-room da empresa gaúcha como uma das três candidatas à disputa do controle acionário da CRT.

O motivo é que a Telefônica de Espanha, controladora individual majoritária da CRT com 48,26% das açoes ordinárias, e também majoritária na holding TBS que possui 85,12% da companhia gaúcha, precisa vender este controle até a data limite de quatro de fevereiro. A determinaçao é da Anatel com base no Plano Geral de Outorgas, já que a Telefônica é controladora de outra empresa de telefonia fixa, a Telesp, e a legislaçao impede um mesmo grupo de controlar duas companhias de telefonia fixa no Brasil.

Assim, a venda abrangerá o pacote de açoes da holdig TBS (Tele Brasil Sul), criada na associaçao da Telefônica com o grupo gaúcho Rede Brasil Sul de Comunicaçoes (RBS) para adquirir, em 1996 e 1997, 85,12% das açoes ordinárias da CRT e que representam 32% do capital total da companhia gaúcha. 'Foi oferecido esse pacote de açoes da TBS``, afirmou o advogado da RBS, Marco Antônio Campos, ao confirmar que o grupo, principal no setor de comunicaçoes da Regiao Sul do Brasil, 'está vendendo sua participaçao (5,40% das açoes ordinárias) e saindo da CRT``.

Chances - A Tele Centro Sul (TCS) é considerada a mais forte candidata a ganhar a disputa, possuindo uma projeçao de investir US$ 1,5 bilhao nas suas subsidiárias brasileiras em 2000. O presidente da Italia Telecom (uma das acionistas da Tele Centro Sul), Roberto Colaninno, já confirmou o interesse em disputar o controle da CRT. A TCS, controlada pelo Banco Opportunity, Italia Telecom, Citicorp e Fundos de Pensao, entre outros, contratou o Banco Salomon, Smith & Barney para analisar a viabilidade econômica da CRT.

Mas existem mais duas empresas candidatas a adquirir o controle acionário da CRT, assinando por isso o termo de confidencialidade para ter acesso ao data-room (sala de informaçoes): a Sercomtel, empresa municipal de Londrina, conforme já confirmou seu presidente, Rubens Pavan; e a Companhia Brasileira de Telecomunicaçoes do Brasil Central (CTBC), de Uberlândia (MG), onde possui 400 mil terminais fixos, e que pertence ao grupo Algar Telecom. Os executivos da CTBC chegam terça-feira a Porto Alegre, representando uma empresa que já tem participaçao minoritária na Tess, que opera a banda B em Sao Paulo, e na ATL, no Rio.

Como a decisao da Agência Nacional de Telecomunicaçoes (Anatel) permite associaçao com grupos estrangeiros, a Algar Telecom realiza negociaçoes com empresas de outros países, entre as quais estaria a norte americana SBC Communications, detentora de 10% da também empresa americana Williams, que, por sua vez, já detém 20% do capital da Algar.

O acesso aos dados confidenciais da CRT, na análise do seu patrimônio e das açoes, iniciou-se na quinta-feira da semana passada e se prolongará por 15 dias. O Banco Garantia, contratado como adviser, é quem irá sugerir um preço mínimo para as açoes oferecidas, com as propostas sendo abertas no dia quatro de fevereiro, quando será definido o vencedor. A Telefônica precisa reduzir sua participaçao acionária para menos de 20% na CRT, conforme determina a Lei Geral das Telecomunicaçoes.

Divisao - Unica empresa regional que nao pertencia ao sistema Telebrás e sim ao governo gaúcho antes da privatizaçao, a CRT foi também a primeira a ser privatizada, com abertura inicial do capital na venda de 35% de suas açoes ordinárias em dezembro de 1996, em que foi vencedor o consórcio TBS liderado pela Telefônica e pela RBS. Em 19 de junho de 1997, a CRT foi totalmente privatizada, quando o mesmo consórcio venceu o leilao, pagando R$ 1,17 bilhao por mais 50,12% das açoes ordinárias (com direito a voto), o que significou um ágio de 26% sobre o preço mínimo.

Na sucessao dos leiloes de privatizaçao no país, houve um estremecimento entre os dois sócios majoritários, porque o presidente da Telefônica, Juan Villalonga, sem avisar antecipadamente o presidente da RBS, Nelson Sirotsky, utilizou a holding comum das duas empresas para adquirir a Telesp, enquanto o grupo gaúcho pretendia disputar leiloes de telefonia fixa do Paraná e Santa Catarina. Como a legislaçao proibia a aquisiçao, por um mesmo grupo, de duas empresas de telefonia fixa, a compra da Telesp pelo holding TBS inviabilizou o interesse da RBS por empresas da Regiao Sul, sua prioridade nas privatizaçoes.

Irritado, Nelson anunciou depois a decisao de nao mais continuar a parceria com a Telefônica, mas mais tarde reataram-se as relaçoes profissionais dos dois grupos, com o objetivo de desfazer futuramente a parceria, o que será concretizado na prática agora em fevereiro com a venda das açoes controladoras da TBS na CRT.

Desde o início desta associaçao, a RBS tinha a opçao de dividir igualmente a participaçao acionária da holding TBS e, conseqüentemente, da CRT. Por isso, Nelson Sirotsky foi eleito e, durante algum tempo presidiu o Conselho de Administraçao da CRT. Mas como a RBS nao completou esta opçao, desde janeiro do ano passado Nelson deixou a presidência do conselho, substituído pelo superintendente da diretoria executiva, o espanhol Fernando Fournon González-Barcia, representante da Telefônica e que continua no cargo.

Com a preferência dada pela Telefônica, a Portugal Telecom apresentou ano passado proposta de adquirir o controle acionário da CRT, mas em dezembro a Anatel vetou esta possibilidade. A Portugal Telecom, que já possui negócios conjuntos com a Telefônica na Europa, também dividia uma holding com a Telefônica, inviabilizando a possibilidade de adquirir o controle acionário da CRT, da qual já é acionista com 19,59% das açoes ordinárias.

Participaçao acionária - A divisao acionária da CRT coloca a Telefônica como empresa majoritária individual, no controle direto de 45,09% das açoes ordinárias, além de ser controladora da Compañia de Telecomunicaciones de Chile SA (com 2,22% das açoes com direito a voto na CRT) e da Telefônica da Argentina SA (0,95%). A RBS, através da TELEPARBS Participaçoes SA, possui 5,40% da CRT.

Os outros acionistas individuais, além da Portugal Telecom com 19,59%, sao a Ibredrola Investimentos Sociedade Unipessoal Ltda (5.96%), Banco Bilbao VizCaya (5,96%), a Tele Centro Sul Participaçoes (8,01%), o estado do Rio Grande do Sul (4,10%), empregados (2,08%) e outros (0,63%).

Assim, a longa história da companhia telefônica gaúcha mostra que foi criada como empresa privada pelos americanos da ITT, virou estatal na década de 60, quando o entao governador Leonel Brizola a encampou por US$ 1 por alegados péssimos serviços prestados, voltou a ser privatizada em 1997 sob controle de espanhóis da Telefônica e no próximo mês de fevereiro passará a novos donos, também da iniciativa privada, sejam eles brasileiros, italianos ou americanos.




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