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Destruiçao florestal se alastra no Pará
Por Do Diário do Grande ABC
20/05/2000 | 16:50
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No momento que, em Brasília, parlamentares discutem quais deveriam ser as porcentagens das propriedades rurais a serem preservadas na Amazônia, em algumas regioes do Pará a devastaçao das matas patrocinada por madeireiros e fazendeiros segue no seu ritmo costumeiro. Ou seja frenético. Em Paragominas, que apesar de decadente ainda é o maior pólo madeireiro do País, o foco da extraçao foi até ampliado: incorporou as áreas indígenas da regiao.

Num desses pontos, em Alto Rio Guamá, a 200 quilômetros de Paragominas, a destruiçao provocada pela retirada ilegal de madeira já atinge mais de 40% da cobertura nativa. A área é ocupada por cerca de 1.200 índios tembés. Os moradores da reserva calculam que aproximadamente 200 mil metros cúbicos de cedro, ipê e maçaranduba já foram roubados nos dois últimos anos. "A reserva vai acabar se continuar desse jeito", avalia o índio José Carlos Tembé.

A Polícia Federal do Pará foi acionada pela Fundaçao Nacional do Indio (Funai) e pela Procuradoria da República para tentar conter a açao dos invasores. Numa operaçao recente, agentes da PF prenderam um grupo de madeireiros que atuava na reserva. Entre eles, estava o presidente do Sindicato dos Madeireiros de Piriá, José Benedito da Silva. Funcionários da Prefeitura de Piriá também estao sendo investigados pelos federais.

Denúncia - Para o procurador da República no Pará, Ubiratan Cazzeta, encarregado de uma açao civil pública para apurar o roubo de madeira dos tembés, a invasao da reserva do Alto Rio Guamá ocorreu por falta de controle do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Cazzeta conta que o órgao liberou um plano de manejo florestal dentro da área indígena.

O Ibama do Pará está sob intervençao do Ministério do Meio Ambiente por causa de denúncias de irregularidades na concessao desses planos. As denúncias, feitas há dois meses, partiram do próprio superintendente do órgao no Estado, Paulo Castello Branco. Por conta das acusaçoes, ele está sob proteçao da Polícia Federal.

Entre os acusados por Castello Branco estao os ex-superintendentes do órgao no Pará, Paulo Koury e José Carlos Gadelha, o diretor-técnico do instituto, Antônio de Paula Redig, e o agrônomo José Ribamar. Todos foram afastados dos cargos.

Na semana passada, a presidente do Ibama, Marília Marreco, esteve em Belém para acompanhar a apuraçao das denúncias. Resultado: determinou a suspensao da metade de 881 Autorizaçoes para Transporte de Produtos Florestais (ATPFs) de planos de manejo no Pará. A maioria das ATPFs, documento exigido para exploraçao da madeira, foi concedida a madeireiros do município de Paragominas.

Ciclo predatório - Apesar da intensa atividade das madeireiras, Paragominas já vive um período de decadência, causada pela escassez de madeira. O Pará fornece 65% de toda a madeira usada no Brasil, sendo a maior parte proveniente da regiao de Paragominas. Agora, a participaçao do município deve cair para pouco mais de 40% do total produzido no Estado.

Há três anos, a extraçao era responsável por um faturamento de US$ 160 milhoes por ano e estendia-se por mais de 70% da área da cidade, com 27 mil quilômetros quadrados. Hoje, o que era mata se transformou em pastagens. O detalhe é que os pastos também foram abandonados.

"Pior crise" - O ex-presidente do Sindicato dos Madeireiros de Paragominas, José Matogrosso de Souza Costa, acredita que o "setor passa hoje pela pior crise desde o final da década de 70". Souza também está certo de que vao continuar atuando na regiao de Paragominas apenas os madeireiros que optaram por projetos de manejo adequado - uma parcela bem reduzida na área.

O pouco de madeira restante concentra-se a cerca de 30 quilômetros da cidade. Ainda assim, numa área de 360 mil hectares, sobraram apenas 7% das florestas. Para Ane Alencar, do Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia (Ipam), de Belém, que faz o sensoriamento da regiao, se a proposta derrubada esta semana no Congresso para o Código Florestal tivesse sido aprovada, nem esse pequeno trecho de mata ficaria de pé.

Com a quase falência do setor, o município de Paragominas passará a conviver com outro grave problema - o desemprego. Dos seus 98 mil habitantes, mais de 50 mil dependem diretamente dos resultados da extraçao de madeira. "Sem essa atividade, vai ser o caos", avalia Elvira Azevedo dos Santos, 37 anos, que se mudou de Minas Gerais há oito anos para a cidade do Pará. Desiludida, ela já pensa em voltar para seu Estado natal.

Cobiça renovada - O mesmo quadro está se transformando em regra em cidades como Aurora do Pará, Ipixuna do Pará, Ulianópolis e Tomé-Açu, todas às margens da Belém-Brasília. A causa da destruiçao da mata, em todas elas, tem sido a exploraçao madeireira sem controle.

Outro efeito da decadência de Paragominas foi uma revoada de empresas para outras áreas do Pará e vários pontos da Amazônia. No território paraense, o destino preferido dos madeireiros é a regiao próxima a Belém, notadamente a Ilha de Marajó.

Os municípios de Breves, Soure e Tomé-Açú - que é próximo a Paragominas - também estao entre os pontos cobiçados. Com esses madeireiros, a exemplo do que ocorreu em Paragominas, vao também os mesmos métodos destrutivos da floresta.




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