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Moreirense, o Ramalhão luso
Dérek Bittencourt
Do Diário do Grande ABC
27/02/2017 | 07:00
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Reprodução Facebook


Há quase um mês, no dia 29 de janeiro, o modesto Moreirense FC, da pequena cidade de Moreira de Cónegos, em Portugal, cravou seu nome na história do futebol luso e europeu – e por que não mundial? – ao conquistar o título da Taça da Liga, uma versão mais enxuta e lusitana da Copa do Brasil. E três jogadores ligados ao Grande ABC – entre os oito brasileiros do elenco – participaram da campanha: o zagueiro Diego Ivo, ex-São Bernardo, e os meias Cauê, ex-Santo André, e Neto, emprestado pelo São Caetano.

O feito se assemelha ao alcançado pelo Ramalhão em 2004, mas ganha ainda mais destaque porque o Moreirense representa cidade com menos de 5.000 habitantes e, curiosamente, tem um estádio – Comendador Joaquim de Almeida Freitas – com capacidade para quase o dobro de moradores: 9.000. E foi por lá que o time chegou a feitos grandiosos, como as vitórias incontestáveis sobre Porto e Benfica, que foram consequentemente eliminados.

Despretensiosamente, o Moreirense ingressou na Taça da Liga para pôr todo o elenco para jogar, uma vez que a meta principal é manter a equipe na Primeira Divisão do Campeonato Português. Aliás, quase todos os clubes utilizam reservas ou equipes mescladas no torneio.
Entretanto, logo de cara, vitória frente ao Estoril Praia o garantiu na fase de grupos. Pela frente, então, Feirense, Belenenses e o grande Porto. Diante do primeiro, mais um triunfo. Na sequência, empate. Para se classificar, teria de vencer o maior time do país pela primeira vez na história e foi o que fez.

Na semifinal, o Benfica era o desafiante e muitos davam aquele como o fim da linha ao pequeno. Com o atacante Jonas como referência, o time da capital saiu na frente, mas o Moreirense virou para 3 a 1, garantindo vaga na final, diante do Sporting Braga. E com um gol do ex-andreense Cauê, de pênalti, aos 47 minutos do primeiro tempo, sagrou-se campeão.

“A gente sabia da importância que tinha esse título para nós e para a história do clube, mas não imaginava a repercussão que ia ter. Num país que é monopolizado pelos grandes, onde é difícil tirar ponto dos grandes, um clube pequeno ser campeão do jeito que foi. Isso só eleva a qualidade desse título”, exalta Cauê.

A realidade do Moreirense, agora, é lutar pela permanência na elite portuguesa. “Fizemos história. O Moreirense é o menor clube da Primeira Divisão, mas é muito correto, tudo o que promete cumpre, a gente recebe em dia. Estamos agora rumo à manutenção e, depois, classificar entre os dez primeiros. Time pequeno não tem esse negócio. É raça, coração, todo mundo querendo mostrar que tem condição de estar em clube maior”, pontua Diego Ivo.

“Já comemoramos, aproveitamos e ficou no passado. Nos deu moral, com certeza, mas precisamos conquistar o primeiro objetivo traçado pelo clube, que é a manutenção, para depois pensarmos em algo mais além disso”, conclui Neto.

Nascido em cidade vizinha, técnico Sérgio Vieira exalta título e preparação

Nascido em Póvoa de Lanhoso, a 30 quilômetros de Moreira de Cónegos, o técnico Sérgio Vieira, que desde o fim do ano passado está à frente do São Bernardo, exaltou a conquista do Moreirense. Segundo ele, tal situação é fruto de muita preparação, que nivela clubes pequenos ou grandes.

“Foi grande feito. Minha cidade, por acaso, é próxima de Moreira de Cónegos. O presidente é meu amigo, as pessoas da estrutura eu também conheço. É como sempre falo para meus atletas: hoje em dia não existe mais aquela coisa do grande jogador, do craque, ou do pequeno jogador, assim como do grande ou pequeno time. Existe quem se prepara melhor. Foco do trabalho é fundamental”, disse Vieira.

“Claro que a questão econômica pesa, mas vemos que times pequenos muitas vezes ganham competições. Aconteceu na temporada passada na Inglaterra (Leicester), agora na Taça da Liga. Na Eurocopa, por exemplo, Portugal, país pequeno, de muito menos população e capacidade financeira, foi campeão”, comparou.

Sentimentos opostos pelos clubes da região

Cauê e Neto nutrem opiniões opostas quando o assunto é Santo André e São Caetano, respectivamente. Isso porque, enquanto o ex-ramalhino não guarda boas lembranças, o ex-azulino ainda tem três anos de contrato e espera um dia retornar ao clube do Grande ABC,
“Tenho orgulho em dizer que joguei no São Caetano. Fico chateado por não ter conquistado os acessos, mas foi com a camisa do Azulão que pude mostrar o meu futebol e ser transferido para um time da Primeira Divisão da Europa. Espero alcançar voos maiores ainda e, no futuro, quem sabe, voltar a vestir a camisa do Azulão. Tenho mais três anos de contrato com o São Caetano e muito carinho por esse clube e por essa cidade. Estão no meu coração”, disse Neto, que ficou no Anacleto Campanella entre 2015 e 2016.

Já Cauê chegou ao Santo André garoto. Logo se destacou entre safra promissora do projeto Jovem Ramalhão, junto do lateral Júnior Caiçara, dos volantes Willians e Júnior Urso, dos meias Ricardo Goulart e Júnior Dutra e do atacante Maikon Leite e outros. Porém, ao contrário da maioria dos colegas, não foi aproveitado pelo clube, do qual revela mágoa.

“Subi com 17 anos para o júnior, era o único (nascido em) 1999 jogando com os 1996. No ano seguinte, cheguei ao profissional, estreei, fiz um jogo contra o CRB, pela Série B e nunca mais. Essa é minha mágoa. Era o jogador mais bem pago da base, capitão e nunca mais joguei. Até hoje não sei o motivo. Tive proposta de Santos e Corinthians, não me venderam e não me botavam para jogar. Nem para o banco eu ia”, lembrou.




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