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‘Em 1 ano dá para sanear as finanças'
Por Raphael Rocha
do Diário do Grande ABC
06/02/2017 | 07:00
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Futura presidente da FUABC (Fundação do ABC), Maria Bernadette Vianna acredita que em um ano é capaz de equilibrar as contas da entidade, que no ano passado trabalhou no vermelho.

Apesar de um orçamento de R$ 2,3 bilhões, a instituição passou por problemas de desabastecimento de medicamentos e de falta de pagamento a funcionários contratados pelo órgão.

“Tenho percebido nas conversas que precisamos permear as mantidas no sentido pedagógico. Temos diretoria de qualidade dentro da Fundação alinhada às melhores práticas de enfermagem, de fisioterapia, em Medicina. Queremos levar isso para dentro das mantidas, como uma consultoria. Muitas vezes falta (o remédio) porque não houve gestão”, afirma Bernadette, em visita à sede do Diário.

A próxima gestora da FUABC, que toma posse na quinta-feira, diz que ainda não é possível falar concretamente de números – principalmente do rombo nas contas –, mas que em um mês plano de trabalho será traçado. “Tudo isso vai passar por transformações. Um ano não sei se é suficiente para zerar todas essas missões. Mas acredito ser suficiente para encaminhá-las.”

A sra. chega à FUABC em tempos de crise, com falta de remédio, problema com pagamento dos funcionários e com missão dada pelos atuais prefeitos de corte de gastos. Como pretende equacionar tudo isso?

Quando falamos em orçamento não falamos em receita. Quando a gente joga num texto que a Fundação tem orçamento R$ 2,3 bilhões, não quer dizer que a Fundação tem em caixa esse dinheiro. Não geramos receita. Dependemos da receita que vem das nossas mantidas, que são hospitais, UPAs, AMEs, a própria Faculdade de Medicina. Essas questões elencadas muito me preocupam. Sou médica, não dá para faltar remédio ou recursos. Tivemos reunião com as mantidas (na semana passada) para perceber as dificuldades de cada instituição. Há dificuldades. Existem pessoas muito empenhadas para que as coisas deem certo. E são essas pessoas que serão parceiras no trabalho, como gestores. A ideia é de choque de gestão, dentro dos preceitos da gestão moderna. A equação não é simples. Falamos de redução de custos com qualidade de serviços. Outra coisa é que os serviços médicos no que se referem a atendimentos secundário e terciário – falando de hospitais, de cirurgias, tratamento para câncer e alta complexidade. Essa medicina é muito cara. Essa equação não é fácil porque você tem de manter esse tratamento, oferecer isso para as pessoas, ao mesmo tempo que se reduz custos. Vamos reduzir custos com otimização de folha de pagamento, de contratos, esses acordos serão rediscutidos, reavaliados em seu escopo. Tudo isso vai passar por transformações. Um ano não sei se é suficiente para zerar todas essas missões. Mas acredito ser suficiente para encaminhá-las.


Otimizar folha de pagamento significa que haverá demissão do quadro?

É readequação. Se você melhorar fluxos de trabalho, você pode precisar de menos gente. Se você melhorar a TI (Tecnologia da Informação), você pode diminuir RH (Recursos Humanos) numericamente.


A sra. ainda toma pé da situação na FUABC. O que mais a preocupou até agora?

Temos de trabalhar dentro de um nível de transparência. Estou tomando pé dos processos. Tenho poucos dias para me apropriar de todos os caminhos. Mas a coisa é por aí, rediscutir os projetos de trabalho, alinhar os contratos, se não tem a mais (serviços) do que precisamos. As mantidas têm perfis bastante diferentes. Não dá para botar tudo num mesmo cesto. Quando falamos em exames por imagem – por exemplo, raio X, tomografia, ultrassom –, eu não preciso desses exames numa AME. Mas preciso ter em um hospital do padrão do Hospital Mário Covas (em Santo André). Tudo isso tem de ser analisado à luz das necessidades dos serviços. Isso acontece já, não vamos inventar a roda. Tem muita coisa acontecendo que é da maneira correta, como tem de acontecer. É só questão de a gente adequar rota de algumas coisas, dentro de choque de gestão.


A sra. já tem ciência dos números que encontrou? Como deficit, por exemplo? Há também como falar o quanto de contingenciamento será aplicado?

Ainda não tem como (enumerar as economias). Vou assumir ainda (na quinta-feira), vou me apropriar de números e falar de dados concretos e verdadeiros.


Esse plano de trabalho que a sra. pretende implementar ficará pronto quando?

Em um mês. Aí poderemos falar aberta e francamente sobre isso. Vou poder apresentar metas de curto, médio e longo prazos.


No ano passado, diversas unidades de Saúde mantidas pela FUABC estavam desabastecidas de remédios. Como solucionar esse problema?

A Fundação é mantenedora. Mas o caminho de gestão está a cargo de cada mantida. Tenho percebido nas conversas que precisamos permear as mantidas no sentido pedagógico. Temos diretoria de qualidade dentro da Fundação alinhada às melhores práticas de enfermagem, de fisioterapia, de Medicina. Queremos levar isso para dentro das mantidas, como uma consultoria. E tentar identificar o que acontece. Muitas vezes falta (o remédio) porque não houve gestão. Entendo que terei uma instituição forte se eu estiver embasada em contratos fortes com as mantidas. O que mantém a Fundação são as mantidas, eu não gero receita. Preciso garantir que a mantida tenha saúde financeira para me manter. Caso contrário, quebra o sistema. A maneira que vislumbramos para resolver essa questão é com práticas de gestão. Existem cases de muito sucesso. Há, por exemplo, trabalho realizado na AME de São Mateus (Zona Leste da Capital). Serviço que teve prêmio internacional no projeto que implementaram no cuidado ao idoso. Dentre tantas situações difíceis e equivocadas, há um serviço funcionando muito bem. São gestores afinados com o que há de mais moderno na Saúde. O caminho é gestão.


O prefeito de São Caetano, José Auricchio Júnior (PSDB), criticou publicamente o serviço e a estrutura da FUABC, falando até em supersalários. Como a sra. recebe essas críticas?

Vale a pena ouvir a crítica. Mas não me preocupa, não faz ruído. A crítica expõe os pontos fracos, é importante, não podemos viver numa redoma, numa bolha. Mas não pode preocupar. Vai nos desafiar a mostrar o contrário.


Prefeitos da região também questionam o plano de expansão da FUABC nos últimos anos, que passou a atender cidades como Praia Grande e Guarujá, descuidado das unidades do Grande ABC. Essa política de expansão foi acertada?

Num primeiro momento acredito que a política é acertada. Só que não podemos desabastecer. O crescimento tem de ser planejado. Em curto prazo, tenho de cuidar das mantidas. Tenho de cuidar da mantenedora, ela precisa recuperar a saúde financeira. E, eventualmente, teremos condições de ganhar novos horizontes no futuro.


Muito se fala no deficit da FUABC, a despeito de um orçamento bilionário. É possível equacionar esse descompasso? E em quanto tempo?

Dentro do que tenho visto de balanços e de outros indicadores, acredito que em um ano, dependendo do bom relacionamento com os três municípios que nos mantém e as mantidas, poderemos recuperar a saúde financeira.


Há plano para tornar o Hospital de Clínicas de São Bernardo referência regional?

Um hospital daquele tamanho, quando você projeta, tem dois momentos. O primeiro momento foi arranque. Veio recurso do governo federal e decidiram fazer. Mas ele é um hospital extremamente caro, mas existe e é estratégico. Não tenho nada amarrado em relação a isso, porém, qualquer questão referente ao Hospital de Clínicas precisamos antes ver se a Secretaria de Saúde de São Bernardo tem projetos para o complexo e que tipo de parceria que eles gostariam. Estamos aberto a qualquer tipo de diálogo neste assunto. 




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