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Dar cão de presente exige responsabilidade
Por Rodrigo Cipriano
Do Diário do Grande ABC
20/12/2005 | 08:15
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Na hora de presentear, vale a criatividade. Em vez de roupas ou brinquedos, alguns optam por cachorros e outros animais de estimação. Uma alternativa que à primeira vista cativa o presenteado. Porém, depois da empolgação, vêm os problemas. O dinheiro com vacinas, a ração, os brinquedinhos para entreter o novo companheiro, latidos fora de hora, o cocô em lugar errado. Assim, como num passe de mágica, o que era um sonho torna-se um dos piores pesadelos.

Para se livrar do fardo, vale tudo. Alguns tentam convencer qualquer um que esteja por perto a adotar o cãozinho. Outros o abandonam em qualquer canto. Dona de uma clínica no bairro Rudge Ramos, São Bernardo, a veterinária Ana Paula Peres Gurgel afirma já ter acolhido vários cachorros indesejados por seus donos. Ela diz que alguns arrependidos abandonam os animais em frente à clínica, na esperança de que a veterinária os adote. Outros são diretos e pedem que a veterinária fique com o animal.

E as explicações para o rompimento são muitas. “É uma raça que cresce muito para o apartamento ou então é um cão muito agitado, que acabou se tornando agressivo com outros animais da casa etc”, afirma a veterinária. Os três cachorros que Ana Paula possui hoje – um bulldog, um labrador e um golden retriever – foram rejeitados por seus donos. A arquiteta Lygia Trielli Paiva da Silva, 26 anos, por pouco não entrou para esse clube. Há seis anos, ela ganhou um labrador do namorado. “Eu tinha falado que queria um cachorro, mas não esperava ganhar. Fiquei surpresa”, diz.

Quando chegou à casa nova – ou melhor, apartamento novo –, o cachorro estava com quatro meses. “Foi um inferno. Ele roía todos os móveis. Havaianas, então, era que nem chiclete; não sobrava nada. Quando ia alguém diferente em casa, ele saía pulando”, lembra Lygia. Nessa época, ela confessa que pensou em devolver o cachorro. “Mas não tive coragem”, admite. Hoje, com seis anos, ela diz que o labrador está mais calmo. E também com mais espaço para circular – a estudante se mudou para uma casa. Na confusão, o namorado levou um fora um mês depois de ter dado o labrador de presente.

Para Ana Marta Mendonça, gerente administra da Uipa (União Internacional Protetora dos Animais), cachorro não é presente. “Cuidar de um animal deve ser uma opção sua e não de outra pessoa. Ele vai viver 12, 13 anos com você. Vai precisar da sua atenção, dos seus cuidados. E, além do mais, o que pode ser agradável para uma pessoa pode não ser para quem vai receber”, afirma. Hoje, a Uipa de São Paulo mantém um canil com cerca de 1,2 mil cachorros que foram abandonados ou foram vítimas de maus-tratos pelos antigos donos. Todos podem ser adotados.

Para garantir a segurança do animal, no entanto, a Uipa toma alguns cuidados. É preciso ter mais de 21 anos, ter residência fixa. Caso tenha seu cadastro aprovado, o futuro dono passa por uma entrevista na qual será identificado o grau de interesse em permanecer com o animal. Antes de seguir para sua nova casa, o cãozinho passa por um check-up no veterinário e o proprietário é obrigado a assinar um termo de responsabilidade no qual se compromete a cuidar bem do animal.

Segundo a psicóloga Angélica Capelari, professora da Metodista, um cachorro pode ser um bom companheiro. De acordo com a psicóloga, a companhia de um cachorro é recomendável em tratamentos de depressão. O animal pode contribuir na recuperação do paciente ao obrigá-lo a “cuidar de alguém, dar atenção, alimentação”.

Uipa: av. Presidente Castelo Branco, 3.200, São Paulo. Atendimento: de segunda a sábado, das 9h às 17h. Tel.: 3313-5976.




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