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Hilda revisitada

Exposição aberta ontem no MIS tem fotos, textos e trabalhos artísticos inéditos de Hilda Hilst

Miriam Gimenes
02/02/2020 | 06:23
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Divulgação


Se estivesse viva, a escritora, poetisa e dramaturga paulista Hilda Hilst completaria 90 anos em abril. Deixou, em 2004, quando partiu, um legado não só literário – é considerada uma das maiores escritoras brasileiras do século XX –, como artístico também, embora poucos saibam. A fim de mostrar trabalhos inéditos dessa mulher, que vai além das letras, o MIS (Museu da Imagem e do Som) inaugurou ontem a exposição Revelando Hilda Hilst, evento que marca o início das comemorações do aniversário de 50 anos do Museu da Imagem e do Som, celebrados em maio de 2020.

A curadoria é do artista visual e jornalista Jurandy Valença, que foi secretário pessoal da escritora. Ele lembra que sua relação começou com ela quando ainda era adolescente. “Li o livro A Obscena Senhora D, que mudou minha vida. Depois assisti à biografia de James Joyce (1882-1941, escritor irlandês), em que ele tinha como secretário Samuel Becket. Como eu achava a Hilda o James Joyce da língua portuguesa, pensei: ‘Quero ser o Becket da Hilda’”, lembra.

Com 17 anos saiu de Maceió e veio para São Paulo a fim de alcançar esse objetivo. Tanto fez que conseguiu o telefone da casa da escritora, ligou e ela atendeu. A partir de então começou uma relação próxima, tanto que moraram juntos, na Casa do Sol, o nome de sua residência em Campinas, durante quatro anos. Hoje ele é o diretor do IHH (Instituto Hilda Hilst) e achou que era a hora de fazer uma homenagem à sua altura. “Ela foi um divisor de águas na minha vida. Me ensinou filosofia, ajudou a me aprofundar na literatura. Nos quatro anos em que morei com ela li mais de 500 livros, tínhamos um diálogo literário muito forte. E essa exposição foi pensada para apresentar ao público a Hilda em suas múltiplas facetas”, justifica o curador e amigo.

A exposição traz retratos de Hilda, alguns deles inéditos, desenhos de sua autoria nunca antes exibidos em público, além de 15 edições originais dos livros de Hilda, com capas de artistas como Darcy Penteado, Clovis Graciano, Wesley Duke Lee, Tomie Ohtake, Jaguar, Millôr Fernandes, Maria Bonomi e Arcângelo Ianelli, entre outros.

A mostra se completa com a instalação sonora Rede Telefonia, de Gabriela Greeb e Mario Ramiro, na qual é possível ouvir a voz da autora por intermédio de gravações originais realizadas na década de 1970, quando ela tentava se comunicar com o além.

Já a programação paralela traz leituras de seus poemas, com convidados como Cida Moreira, Marina de La Riva e Dudu Bertholini, entre outros. Completam as atividades a exibição dos filmes Hilda Hilst Pede Contato e O Unicórnio, e a leitura dramática de uma de suas peças, O Visitante, escrita em 1968 em plena ditadura militar, feita por Camila Pitanga e Matheus Nachtergaele. “Ela escreveu oito peças entre 1967 e 1969, em plena ditadura militar. E elas dialogam muito com o período político, estranho, surreal e aterrador que estamos passando no Brasil. São leituras muito pertinentes”. A programação, com datas e horários, pode ser vista em www.mis-sp.org.br.

Revelando Hilda Hilst – Exposição. No MIS – Avenida Europa, 158, São Paulo. Até 15 de março, de terça a sábado, das 0h às 22h e, aos domingos e feriados, das 10h às 20h. Gratuito.  




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