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Uma onça com fome

É surpreendente: por que uma onça deixaria o território a que está acostumada, com vegetação e bons

Por Carlos Brickmann
22/04/2012 | 00:00
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É surpreendente: por que uma onça deixaria o território a que está acostumada, com vegetação e bons abrigos, para se enfiar numa cidade grande, cheia de automóveis, ali nas proximidades da Praça dos Três Poderes?

Qualquer zoólogo explica: uma onça só deixa o território que demarcou porque lhe falta água ou caça. Alguém deve ter contado ao bicho que ali, naquela região tão próxima, havia ratos gordos, grandes, nutritivos, abeberando-se numa cachoeira generosa, onde muitos molhavam fartamente mãos e bolsos. Patas à obra, pois. E a decepção: Cachoeira era apenas um apelido, nada de água fresca, nada daquele local de abundância onde animais se reúnem para matar a sede e ficam à disposição de onças famintas, ágeis e rápidas.

Ah, as decepções por que pode passar um predador ingênuo! Pois os ratos, realmente enormes, nutritivos, ali são também predadores, e sua fome parece infinita. Os inimigos naturais só existem na imaginação, no grande teatro político: na hora H, depois de dar entrevistas uns contra os outros, reúnem-se as mais diversas alas, juntas, unidas, felizes, para comer, beber e mamar.

Nada disso seria difícil de resolver para aquele belo exemplar de onça parda que apareceu em Brasília, preparadíssima para os embates da vida, absolutamente apta a lutar pela própria alimentação.

Mas houve um problema insolúvel, que levou a onça desiludida a voltar para seu território sem almoço e com fome: felinos não comem nada que esteja podre.

A PROPÓSITO

Na CPI que investiga a corrupção de Carlinhos Cachoeira, entre titulares e suplentes, estão reunidos Fernando Collor, Gim Argello, Protógenes Queiroz, Alfredo Nascimento (o que deixou o Ministério dos Transportes no início daquela derrubada em série de ministros que levou o nome de faxina ética).

AÇÃO NACIONAL

Cláudio Humberto, colunista sempre bem informado, levanta uma hipótese interessante (www.claudiohumberto.com.br): a de que Carlinhos Cachoeira integraria uma aliança nacional de contraventores, seria seu representante na região Centro-Oeste do País e, digamos, seu embaixador em Brasília.

Pode ser - e, se for, o caso vai crescer muito. Em São José dos Campos, SP, o radialista João Alckmin, que move campanha contra os caça-níqueis, já sofreu dois atentados a bala - o segundo foi inteiramente filmado por câmeras de segurança e mesmo assim a Polícia não conseguiu chegar ao atirador. E um poderoso contraventor paulista, com ação interestadual, tem ligações familiares com o sócio de uma autoridade, daquelas habituadas a dar informações a repórteres amigos que, em troca, os chamam de "jovens" e "corajosos".

DESCOBRINDO O BRASIL

O governador fluminense Sérgio Cabral prometeu auditar os contratos da Delta com o Estado. Prometeu também cancelar os que tiverem irregularidades. Pois é. A empreiteira Delta pertence ao empresário Fernando Cavendish, amigo de Cabral, que costuma viajar com ele. São tão amigos que Cabral viajou para Trancoso, na Bahia, para participar da festa de aniversário de Cavendish (foi quando um helicóptero do empresário caiu, matando, entre outros, a namorada do filho do governador). No ano passado, a Delta recebeu do governo fluminense R$ 127 milhões sem licitação (mais R$ 420 milhões com licitação). Não é bom saber que, apesar de toda a amizade, os contratos serão auditados?

GRANDES E PEQUENOS

E, enquanto a imprensa acompanha os grandes escândalos, os escândalos menores vão ficando esquecidos. Por exemplo, lembra da reforma administrativa do Senado, que o presidente da Casa, José Sarney, tinha encomendado à Fundação Getulio Vargas, pagando R$ 500 mil?

Pois ficou para lá. Os 81 senadores continuarão tendo à disposição mais de 6.000 funcionários. O projeto do senador Ricardo Ferraço, com base no estudo da FGV, foi rejeitado porque cortava cargos demais. O projeto do senador Benedito de Lira foi rejeitado porque cortava cargos de menos. E Sarney não se manifesta, por estar em tratamento de saúde.

O ESCÂNDALO AÉREO

Uma empresa italiana, pertencente ao irmão do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi (aquele que gostava de garotas de programa que usavam máscaras de Ronaldinho Gaúcho), está operando freneticamente nos aeroportos brasileiros. Embora uma auditoria da própria Infraero mostre irregularidades graves (por exemplo, a empresa oferece seguro sem ter ligação com seguradoras ou corretoras; e ocupa áreas maiores que as alugadas), a empresa continua participando de licitações e ampliando seu campo de atuação.

Dúvida: que irá fazer a Infraero?

BOA NOTÍCIA

A Vale decidiu investir R$ 30 milhões para construir em São Luís do Maranhão um Museu da Língua Portuguesa, comemorando os 400 anos da cidade. São Luís é tida como a cidade onde melhor se fala o Português no país.

Será o segundo Museu da Língua: o primeiro foi construído em São Paulo.




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