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Grande ABC tem um caso de hepatite viral a cada dois dias

Prefeituras intensificam atividades de prevenção e exames no Julho Amarelo; doença pode levar anos para se manifestar

Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
23/07/2019 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


 O Grande ABC registrou, no ano passado, 246 casos de hepatites virais, média de uma confirmação a cada dois dias. Apesar do recuo de 26% nos novos registros em comparação com 2008 (veja a tabela abaixo), especialistas alertam sobre a necessidade de as pessoas fazerem o teste para identificar se são portadoras do vírus – que pode levar décadas para se manifestar no organismo, culminando em quadros crônicos da doença. Domingo é celebrado o Dia Mundial contra as Hepatites Virais.

Em todo o País, houve queda de 7% no total de novas contaminações entre 2008 e 2018, passando de 45.410 registros para 42.383 no ano passado. Os dados foram divulgados ontem pelo Ministério da Saúde em boletim epidemiológico.

Professor da disciplina de infectologia da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), Munir Akar Ayub explicou que toda inflamação no fígado é uma hepatite, sendo que cinco delas (tipos A, B, C, D e E) são motivadas por vírus. “Existe também as causadas por medicamentos e pela ingestão excessiva de bebidas alcoólicas”, detalhou. 

Conforme o especialista, a baixa no número de casos era esperada, após a expansão da cobertura vacinal para o tipo B no calendário do SUS (Sistema Único de Saúde), em 2016, que passou a ser ofertada para todos os brasileiros, independente da idade. “A gente ainda vai observar queda maior nos novos casos. Por outro lado, as pessoas precisam se conscientizar que é preciso fazer o teste e iniciar o tratamento, caso haja o contágio”, completou.

O teste rápido que identifica as hepatites B e C está disponível em todas as unidades de saúde públicas. O especialista explicou que do tipo A da doença (detectada por exame laboratorial), o paciente se recupera sem necessidade de tratamento medicamentoso, apenas com repouso e alimentação adequada. Os tipos B e C, no entanto, precisam da administração de remédios. “A hepatite C é uma doença curável. Já no tipo B  a inflamação pode apenas ser controlada”, pontuou Ayub. Os tipos D e E são raros e pouco comuns no Brasil. 

O docente destacou que o paciente contaminado pode passar vários anos sem apresentar os sintomas. “Acontece da pessoa descobrir cinco, dez, 30 anos depois, quando já evoluiu para uma cirrose, um quadro crônico. Por isso, se há comportamento de risco, é preciso que seja realizado o teste”, ponderou. Os tipos B e C são transmitidos pelo sangue, por isso é desaconselhável o compartilhamento de objetos perfurocortantes, como alicates de cutícula, lâminas de barbear e seringas, além de contato sexual sem preservativos. Já o tipo A ocorre pela ingestão de água e alimentos contaminados e está associado a condições precárias de saneamento.

Entre as pessoas que apresentam sintomas, os mais comuns são náuseas, vômitos e indisposição semelhante à de um resfriado, com o amarelamento dos olhos (icterícia). Também há, em alguns casos, a evolução para a chamada hepatite fulminante, que resulta no óbito do paciente em pouco tempo. “Não existe esclarecimento sobre porque algumas pessoas têm contato com o vírus e não desenvolvem a doença e, para outras, pode ser fatal”, finalizou. 

No SUS, as vacinas contra o tipo B devem ser tomadas em quatro doses, até os 6 meses. Contra o tipo A, é aplicada uma dose, aos 15 meses. Em adultos que não se vacinaram na infância, a proteção para o tipo B é feita em três doses.

Cidades realizam mobilização para testes da doença

Todas as cidades do Grande ABC ofertam, nas suas redes de saúde, testes gratuitos para diagnóstico de hepatites B e C. Nesta semana, Mauá e Ribeirão Pires intensificaram as ações, com a promoção de palestras e outras atividades dentro do Julho Amarelo, mês de combate à enfermidade.

Em Mauá, as UBSs (Unidades Básicas de Saúde) Vila Assis, Vila Magini, Zaíra II, Parque das Américas e Feital recebem palestras e atividades de prevenção, além de ofertarem os testes a todos os munícipes. 

Ontem, primeiro dia da ação, pelo menos 20 pessoas já haviam feito o teste, após assistir palestra explicativa sobre os sintomas, formas de contágio e tratamento da doença. O metalúrgico aposentado Everaldo Martins da Silva, 56 anos, foi acompanhar o neto ao dentista na UBS Vila Assis e aproveitou para participar. “Nem sabia que tinha no SUS (Sistema Único de Saúde)”, destacou. 

Gerente da UBS Vila Assis, Ariana Silva explicou que muitas pessoas são resistentes em realizar o exame por medo de um possível diagnóstico positivo. “A gente tenta explicar a importância de saber, e, caso seja necessário, iniciar rapidamente o tratamento”, explicou. Os testes são feitos de forma individual, apenas na presença do enfermeiro.

Em Ribeirão Pires, até o dia 31, ocorre intensificação de testagem nas UBSs e no CTA (Centro de Atendimento e Aconselhamento), na Avenida Francisco Monteiro, 205, Centro, com palestras. A proposta do Julho Amarelo na cidade é focada nos moradores com idade acima dos 40 anos. Na quinta-feira, das 10h às 16h, a Prefeitura promove conscientização na Vila do Doce.

Em Santo André, as UBSs realizam os testes e aderiram ao Julho Amarelo com intensificação da orientação ao público. São Bernardo informou que durante todo o ano os exames podem ser feitos nas UBSs, além de atendimento multiprofissional de segunda a sexta, das 7h às 19h, na Avenida Armando Ítalo Setti, 402. 

Diadema também disponibiliza os testes rápidos nas unidades de saúde e no CTA (Centro de Testagem e Aconselhamento) do Centro de Referência em ISTs, HIV e Hepatites Virais, no prédio do Quarteirão da Saúde, equipamento referências para os tratamentos dos pacientes na cidade. São Caetano e Rio Grande da Serra não responderam até o fechamento desta edição.




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