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O buraco é mais em tudo

Não é difícil entender o que acontece no Senado: lá existe uma burocracia que se especializou em buscar benefícios para seus integrantes

Por Carlos Brickmann
24/06/2009 | 00:00
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Não é difícil entender o que acontece no Senado: lá existe uma burocracia que se especializou em buscar benefícios para seus integrantes, de salários e vantagens ao prolongamento indefinido de sua permanência nos cargos. E, para que sua atividade não encontrasse obstáculos, mostrou sua boa vontade também aos nobres parlamentares. Foi de dinheiro a bens e serviços, de artifícios como os atos secretos para ocultar as irregularidades até nomeações à vontade, com bons salários. E, naturalmente, passagens aéreas para qualquer destino, bastando pedir.
Todos são culpados - dos burocratas que agiram à margem da lei aos senadores que, ocupando cargos de chefia, não fiscalizaram seu trabalho, passando pelos parlamentares que nunca estranharam os benefícios que recebiam com dinheiro público. E que ninguém diga que "não sabia de nada": todos sabem que ter funcionários fantasmas é ilegal. Como alegar ignorância diante de uma funcionária que, recebendo do Senado, mora em outro país com a família?
A propósito, estamos todos escandalizados com o que ocorre no Senado. Mas existem no Brasil a Câmara dos Deputados, 27 assembleias legislativas, 5.563 câmaras de vereadores. Cada um tem sua burocracia - e seria espantoso se, em nenhuma dessas casas, os burocratas não tenham tido a mesma ideia de seus colegas do Senado. Existem também agências governamentais e empresas estatais, Estados e municípios. O príncipe prussiano Otto von Bismarck costumava dizer que leis são como salsichas. É melhor não saber como são feitas.

O DONO DA BOLA
Agaciel Maia, nomeado para o comando da burocracia do Senado por José Sarney, exerceu o cargo por 15 anos. Começou a cair quando se divulgou que tinha uma casa, não declarada à Receita, no valor de R$ 5 milhões. Ganhava por mês cerca de R$ 31 mil - quando o limite legal dos salários pagos pela União é o dos ministros do Supremo, R$ 24.500. Outros 350 funcionários da burocracia do Senado ganham mais que ministros do Supremo. É um horror - e daí?

A BOLA DO DONO
O orçamento do Senado, de R$ 2,7 bilhões, é maior que o de 21 capitais. Só São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Fortaleza, Curitiba e Porto Alegre gastam mais que isso. Com este dinheiro, o Senado atende 81 senadores e 6.500 funcionários. Em dez anos, o orçamento pulou de R$ 882 milhões para os atuais 2,7 bilhões.

OS INOCENTES
1 - Quem prefacia o livro Tempo de Transformação, de Agaciel Maia? O atual ministro da Defesa, e ex-ministro do Supremo, Nelson Jobim.
2 - É curioso, mas a imprensa de Brasília demorou a notar a casa de R$ 5 milhões de Agaciel.
3 - A história dos atos secretos que encobriam fartas nome ções, que agora provocou tanto escândalo, tinha sido publicada na Veja de 14 de maio de 1986. Portanto, não foi Agaciel Maia que inventou esse truque. Ele vem de longe!

A GRANDE DÚVIDA
Se todas essas coisas existiam há tempos, se ninguém fazia força para encobri-las, por que só agora provocaram escândalo? Talvez a guerra entre Tião Vianna e José Sarney pela Presidência do Senado tenha algo a ver com isso. Já que a filha de Tião foi atingida pela história do celular do Senado que levou ao México, por que a família de Sarney sairia ilesa?

DANÇANDO A QUADRILHA
Hoje, Dia de São João, o Congresso não funciona. E, aproveitando, fica fechado também o resto da semana.

CIGARRO BARATINHO
O governo está preocupado com a queda da Receita, depois da série de reduções de impostos que adotou para reativar a economia. Mas a proposta do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de compensar a redução de impostos em setores importantes com o aumento na tributação de cigarros foi convenientemente esquecida. Lembremos: o preço do cigarro brasileiro é um dos mais baixos do mundo.




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