Setecidades Titulo Ribeirão Pires
Briga em escola termina
com jovem esfaqueado

Garota de 17 anos feriu rapaz de 16; ela teria sido alvo de
bullying, em escola de Ribeirão Pires, por ser nordestina

Por Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
01/05/2013 | 07:00
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Uma jovem de 17 anos esfaqueou um colega de sala de 16 na manhã de ontem, na EE Farid Eid, no Jardim Caçula, em Ribeirão Pires. A menina alega ser vítima de bulliyng por ter origem nordestina e sotaque. A vítima foi socorrida pelo helicóptero Águia da Polícia Militar e encaminhada ao Hospital Santa Marcelina, na Zona Leste da Capital, onde passou por cirurgia e permanece em estado de saúde estável.

Em depoimento à polícia, a estudante contou que a agressão foi resultado de um empurrão sofrido na sala de aula após a turma voltar do intervalo. Irritada com as provocações, a jovem tirou da meia a faca trazida de casa e atingiu o jovem no lado esquerdo do tórax. Ela alega ter levado a arma para a escola no intuito de se proteger de ameaça.

Os estudantes do 1º ano do Ensino Médio protagonizam discussões desde a semana passada. Na ocasião, a aluna também teria ficado nervosa com as piadas em razão de seu sotaque e arremessado uma carteira escolar em direção ao colega. Com isso, os pais de ambos foram chamados à escola e os jovens ficaram suspensos.

A autora do ato infracional deixou sua cidade natal, em Cabo de Santo Agostinho (Pernambuco) há três meses, quando se mudou para o bairro Sítio do Francês, em Ribeirão Pires, com a mãe, a caseira Marli Maria do Nascimento, 37. De acordo com o pastor e amigo da família Noel Luiz da Silva, 66, a menina é calma e estava em busca de emprego. "Ela mora com a mãe e com o padrasto. Acabaram de chegar do Nordeste e quase nunca saem de casa", diz.

Após passar por audiência na Vara da Infância e Juventude de Ribeirão Pires, a jovem foi encaminhada para a carceragem do 1º DP (Centro), onde permanecerá apreendida até sexta-feira, quando será realizada outra audiência.

Já o jovem agredido mora no Jardim Caçula, bairro onde a família reside há cerca de 30 anos. Além da preocupação com o estado de saúde do garoto, a vizinhança se diz abalada com o ocorrido. "São pessoas boas e que nunca tiveram problema com ninguém aqui", destaca o secretário adjunto de Saúde de Ribeirão Pires, Raimundo Alves Sobrinho.

Os colegas de escola ressaltam o perfil irreverente da vítima. "Ele gosta de fazer piada, mas a gente não imaginava que isso poderia acontecer", observa estudante de 17 anos do 2º ano do Ensino Médio.

ESCOLA

O coordenador do Sistema de Proteção Escolar da Secretaria Estadual da Educação, Felippe Angeli, destaca que a escola prestou atendimento à vítima e tomou providências na semana passada, quando os pais foram chamados para conversa e os jovens, suspensos.

Apesar de ressaltar a presença dos professores mediadores para solucionar conflitos relacionados ao bullying, o Estado não oferece o programa na EE Farid Eid. Segundo Angeli, será feita conversa entre a comunidade escolar para esclarecer o ocorrido.

Especialista critica suspensão de alunos

O bullying em ambiente escolar é tido como violência que precisa ser tratada de forma criativa e responsável pela escola, segundo a professora de Psicologia da Educação da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) Ana Mercês Bahia Bock.

Na visão da especialista, a intervenção da escola neste caso específico, ao suspender os alunos, também pode ser considerada bullying. "A escola desresponsabiliza os jovens e joga o problema para a família. Era momento para conversa e proibição das atitudes provocativas e das agressões", observa.

A professora alerta para o fato de a sociedade ter adotado padrões violentos como modelo de conduta e, por isso, o episódio precisa ser analisado com calma. "A escola tem tido pouco tato e tempo para lidar com essas questões. Sabemos dos problemas, como falta de professores, condições precárias de trabalho e número alto de alunos por sala de aula, mas é preciso olhar para essas crianças", ressalta Ana. Entre as alternativas, ela recomenda jogos, filmes e trocas de experiência para mostrar que o País é formado por diversos sotaques.




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