Garota de 17 anos feriu rapaz de 16; ela teria sido alvo de
bullying, em escola de Ribeirão Pires, por ser nordestina
Uma jovem de 17 anos esfaqueou um colega de sala de 16 na manhã de ontem, na EE Farid Eid, no Jardim Caçula, em Ribeirão Pires. A menina alega ser vítima de bulliyng por ter origem nordestina e sotaque. A vítima foi socorrida pelo helicóptero Águia da Polícia Militar e encaminhada ao Hospital Santa Marcelina, na Zona Leste da Capital, onde passou por cirurgia e permanece em estado de saúde estável.
Em depoimento à polícia, a estudante contou que a agressão foi resultado de um empurrão sofrido na sala de aula após a turma voltar do intervalo. Irritada com as provocações, a jovem tirou da meia a faca trazida de casa e atingiu o jovem no lado esquerdo do tórax. Ela alega ter levado a arma para a escola no intuito de se proteger de ameaça.
Os estudantes do 1º ano do Ensino Médio protagonizam discussões desde a semana passada. Na ocasião, a aluna também teria ficado nervosa com as piadas em razão de seu sotaque e arremessado uma carteira escolar em direção ao colega. Com isso, os pais de ambos foram chamados à escola e os jovens ficaram suspensos.
A autora do ato infracional deixou sua cidade natal, em Cabo de Santo Agostinho (Pernambuco) há três meses, quando se mudou para o bairro Sítio do Francês, em Ribeirão Pires, com a mãe, a caseira Marli Maria do Nascimento, 37. De acordo com o pastor e amigo da família Noel Luiz da Silva, 66, a menina é calma e estava em busca de emprego. "Ela mora com a mãe e com o padrasto. Acabaram de chegar do Nordeste e quase nunca saem de casa", diz.
Após passar por audiência na Vara da Infância e Juventude de Ribeirão Pires, a jovem foi encaminhada para a carceragem do 1º DP (Centro), onde permanecerá apreendida até sexta-feira, quando será realizada outra audiência.
Já o jovem agredido mora no Jardim Caçula, bairro onde a família reside há cerca de 30 anos. Além da preocupação com o estado de saúde do garoto, a vizinhança se diz abalada com o ocorrido. "São pessoas boas e que nunca tiveram problema com ninguém aqui", destaca o secretário adjunto de Saúde de Ribeirão Pires, Raimundo Alves Sobrinho.
Os colegas de escola ressaltam o perfil irreverente da vítima. "Ele gosta de fazer piada, mas a gente não imaginava que isso poderia acontecer", observa estudante de 17 anos do 2º ano do Ensino Médio.
ESCOLA
O coordenador do Sistema de Proteção Escolar da Secretaria Estadual da Educação, Felippe Angeli, destaca que a escola prestou atendimento à vítima e tomou providências na semana passada, quando os pais foram chamados para conversa e os jovens, suspensos.
Apesar de ressaltar a presença dos professores mediadores para solucionar conflitos relacionados ao bullying, o Estado não oferece o programa na EE Farid Eid. Segundo Angeli, será feita conversa entre a comunidade escolar para esclarecer o ocorrido.
Especialista critica suspensão de alunos
O bullying em ambiente escolar é tido como violência que precisa ser tratada de forma criativa e responsável pela escola, segundo a professora de Psicologia da Educação da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) Ana Mercês Bahia Bock.
Na visão da especialista, a intervenção da escola neste caso específico, ao suspender os alunos, também pode ser considerada bullying. "A escola desresponsabiliza os jovens e joga o problema para a família. Era momento para conversa e proibição das atitudes provocativas e das agressões", observa.
A professora alerta para o fato de a sociedade ter adotado padrões violentos como modelo de conduta e, por isso, o episódio precisa ser analisado com calma. "A escola tem tido pouco tato e tempo para lidar com essas questões. Sabemos dos problemas, como falta de professores, condições precárias de trabalho e número alto de alunos por sala de aula, mas é preciso olhar para essas crianças", ressalta Ana. Entre as alternativas, ela recomenda jogos, filmes e trocas de experiência para mostrar que o País é formado por diversos sotaques.
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