Carlos Boschetti Titulo Cenário
Ano de decepções na economia brasileira
Do Diário do Grande ABC
01/01/2015 | 07:00
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 Começamos o ano de 2014 com uma perspectiva de que o ano seria difícil, com desafios na economia. Porém, mesmo partindo de expectativas baixas, fomos surpreendidos negativamente em quase todos os setores. Nossa projeção de crescimento fraco foi continuamente revisada para baixo, chegando a desempenho quase nulo. No início do ano, a agência Standard and Poors rebaixou a nota de crédito do Brasil, deixando-nos apenas um nível acima do grau especulativo.

 Esse fato já contribuiu para uma deterioração da confiança dos agentes econômicos. Nos meses de junho e julho, os feriados nos dias de jogos da Copa do Mundo e o baixo consumo durante o período resultaram em queda da atividade.

 Para finalizar, o conturbado período de eleições, com as reviravoltas nas pesquisas e o embate acirrado entre os candidatos, contribuiu para a queda na confiança dos empresários, o que trouxe forte retração dos investimentos. A consequência foi um ano de atividade praticamente estagnada, com contribuição muito negativa dos investimentos, compensada, em parte, pelo consumo do governo. 

 Na área fiscal, o crescimento do consumo do governo foi maior do que o esperado, o que, combinado com uma arrecadação muito fraca, devido à piora na atividade, resultou em um superávit primário quase nulo, muito abaixo da nossa expectativa. Como prevíamos, a inflação ficou próxima do topo da meta durante todo o ano, pressionada pela normalização dos preços monitorados e pelos efeitos da desvalorização do real. Isso não foi suficiente para evitar que o Banco Central fizesse uma pausa no ciclo de aperto monetário na reunião de maio, voltando a subir os juros apenas em outubro, quando as expectativas de inflação já estavam bastante desancoradas.

 Todo esse cenário de deterioração de fundamentos na economia local já era previsto, porém, em menor intensidade. Por outro lado, nossa expectativa, no início do ano, era de que o cenário externo seria muito mais desfavorável para o Brasil. Acreditávamos que a recuperação da economia americana levaria as taxas de juros dos títulos públicos para cima e que, com isso, a liquidez global diminuiria, penalizando os países dependentes de financiamento externo como o Brasil.

 Esse movimento das taxas de juros americanas não aconteceu e outros bancos centrais contribuíram para o aumento ainda maior da liquidez mundial, permitindo que o Brasil navegasse boa parte do ano com relativa estabilidade da taxa de câmbio. Somente nos últimos meses, com uma renovada preocupação com o cenário internacional, tivemos uma depreciação adicional da taxa de câmbio. Para 2015, esperamos que alguns ajustes sejam feitos na esfera fiscal, nos preços monitorados e na política monetária, o que colocará os fundamentos do Brasil em rota mais sustentável, mas não suficiente para alavancar substancialmente o crescimento nos próximos anos.

 Nosso desempenho ficou muito aquém do esperado. Não tivemos nenhuma influência externa, pois os países desenvolvidos e os emergentes estão em crescimento lento, porém sustentável. A exceção foi a Rússia, que devido ao conflito com a Ucrânia, foi influenciada por um embargo econômico que impactou dramaticamente a economia doméstica. 




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