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Indígenas lutam para manter viva a tradição da aldeia Krukutu

No Dia dos Povos Indígenas, habitantes da tribo sofrem com carência de infraestrutura

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
09/08/2014 | 07:00
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André Henriques/DGABC


Em meio a tecnologias como computador e celular, indígenas da aldeia Krukutu, localizada na divisa do Riacho Grande, em São Bernardo, com Parelheiros, bairro da Capital, lutam para manter suas tradições vivas. Cerca de 47 famílias vivem no local, totalizando em torno de 300 pessoas, segundo o cacique Karaí de Oliveira, 30 anos. Hoje é comemorado o Dia dos Povos Indígenas, data instituída pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 1994.

Conforme Oliveira, todos os dias os moradores se reúnem ao pôr do sol para uma celebração. “Cantamos e dançamos em volta da fogueira e também temos uma casa de rezas na qual fazemos nossos pedidos e agradecimentos, além da sessão de cura espiritual.”

Na aldeia há também o Ceci (Centro de Educação e Cultura Indígena), mantido pela subprefeitura de Parelheiros. A escola desenvolve atividades para crianças até 6 anos que visam o fortalecimento da cultura guarani. “Aqui elas aprendem todas as tradições do nosso povo. O Ceci está na aldeia há dez anos, e são muitos ganhos porque antes não tinha nada para as crianças”, comenta o cacique.

Todas as aulas são ministradas em Guarani por educadores indígenas, o que faz com que as crianças sejam alfabetizadas primeiro no idioma nativo e depois em Português.

Apesar da tradição, os índios estão se rendendo à modernidade. Alguns têm smartphones, utilizados para se comunicar com pessoas que não vivem na aldeia.

Uma tradição que não existe mais é a questão do índio mais velho ser o cacique, conforme explica Oliveira, que está na função há 11 meses. “Antigamente era sempre o mais antigo e o pai que passava para o filho. Hoje vemos quem quer ser e perguntamos se todos são a favor.”

Segundo o professor de Filosofia e Sociologia da Universidade Anhanguera Vladimir Lucio Ramos, a perda da tradição indígena ocorre desde o descobrimento do Brasil. “Eles deixaram de ter as próprias terras, foram massacrados e expulsos pelos europeus. Hoje vivem à margem da sociedade.”

Nivaldo Martins da Silva, 70, conhecido como Karairokajú, é o morador mais antigo do lugar. “Minha família fundou a aldeia. Viemos do Paraná, porque lá não tinha mais terra. Todo mundo aqui é parente.”

Ele também explica o significado de Krukutu. “Em Guarani, quer dizer ‘lança que vem da terra’. Somos guerreiros.”

Para sobreviver, os krukutus fazem artesanato com sementes e plantas, vendidas muitas vezes na feira do Riacho Grande. Eles pescam, já que ficam às margens da Represa Billings. “Mas agora, por causa da seca, não há peixe”, explica Tupã Oliveira, 27.

Como a aldeia fica em área de preservação ambiental, não se pode plantar. Segundo Ramos, isso é prejudicial. “É como se estivessem dizendo ao povo que é dono da terra que não sabe cuidar dela.”

A aldeia tem ainda uma UBS (Unidade Básica de Saúde), com equipe de quatro auxiliares de enfermagem e dois médicos, que revezam os atendimentos com a UBS da aldeia Tenondé Porã. Do outro lado da represa, há o grupo Guyra Paju, que tem cerca de 100 pessoas. “Quando temos algum problema de saúde, precisamos vir no posto da Krukutu”, disse o cacique Maurilio Mirim Santos, 21. 




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