Política Titulo Entrevista
Para petebista, PT
tira foco de Alckmin
para reeleger Dilma
Por Gustavo Pinchiaro
Do Diário do Grande ABC
23/07/2013 | 07:00
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Tiago Silva/DGABC


O deputado federal do PTB Arnaldo Faria de Sá afirma que o PT está mais preocupado em trabalhar pela reeleição da presidente Dilma Rousseff do que formar bom candidato para derrubar a hegemonia tucana no Estado. A avaliação do petebista é de que o cenário positivo que se desenhava a favor dos petistas na corrida pelo Palácio dos Bandeirantes, com a vitória de Fernando Haddad para comandar o Paço da Capital, foi alterado pela onda de protestos por todo o País. Para ele, a imagem mais desgastada foi a do Palácio do Planalto. “O PT sentiu que precisa preservar a própria candidatura da Dilma que corre risco.” Em entrevista ao Diário, Faria de Sá ainda fala sobre a tradição do PTB em se alinhar ao PSDB no Estado e que o seu partido precisa ampliar as bases para pleitear candidaturas majoritárias em São Paulo e no Brasil.

DIÁRIO – Qual a avaliação do sr. sobre o impacto da onda de protestos nos trabalhos do Congresso Nacional? Notou aumento do empenho dos congressistas?

ARNALDO FARIA DE SÁ – Na verdade, o mote desse pleito foi o passe livre e na sequência a retomada do risco de inflação, do aumento do desemprego, que eram coisas que podiam dentro de uma pauta difusa deixar muita gente confusa. E a presidente Dilma (Rousseff), na sua prepotência, achava que podia fazer o que quisesse. Não fez política e sua ministra de articulação, Ideli Salvatti (chefe da Secretaria de Relações Institucionais), teve dificuldade em compor com o Congresso Nacional. A ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, é marinheira de primeira viagem, a Miriam Belchior (ministra do Planejamento e Orçamento) é muito inflexível. Em contraponto do que vinha sendo o ex-presidente (Luiz Inácio) Lula (da Silva), a presidente agiu com uma cartilha ao contrário. As próprias propostas que fez depois da crise não foram para frente. A constituinte exclusiva, plebiscito, pactos pela Saúde e Educação... Nada disso andou por falta de articulação política. Se não tomar cuidado, a vaca vai para o brejo.

DIÁRIO – Por que a proposta de agenda positiva com o Congresso não foi para frente?

FARIA DE SÁ – Ela (Dilma) tentou desviar a atenção e não é assim que resolve, é preciso enfrentar o problema. Nesses dias mais críticos e mais duros, ela agiu como biruta de aeroporto. Acho que duas questões relativas aos recursos do pré-sal para Educação e Saúde vão acontecer. A Câmara já votou nesse sentido, o Senado alterou, mas nós vamos corrigir e definir essa questão. Tornar a corrupção como crime hediondo foi um fato positivo.

DIÁRIO – Acredita que o governo agiu certo ao apresentar um plebiscito com constituinte exclusiva para debater a reforma política? Por que essa questão não conseguiu avançar no Congresso para 2014? Os deputados e senadores se sentiram ameaçados?

FARIA DE SÁ – Primeiro que constituinte exclusiva ou plebiscito não é para discutir agora, em ano pré-eleitoral. O artigo 16 da Constituição proíbe qualquer alteração eleitoral um ano antes das eleições e elas vão ocorrer em cerca de três meses. A reforma já tinha desandado antes. Não se faz isso com a população, em primeiro momento ela pode ter ganhado espaço, mas ao longo do tempo vai perceber que perdeu.

DIÁRIO – Qual a sua opinião sobre reforma política? Defende o financiamento público de campanha, voto distrital, distritão, em lista, fim da reeleição...

FARIA DE SÁ – O distritão e distrital são coisas importantes que precisam mudar para poder tornar mais lógica a relação entre eleito e eleitor. A cobrança pode ser direta. Duas propostas não deixaram a reforma política andar anteriormente. Financiamento público de campanha: está faltando dinheiro para tanta coisa e não dá para você usar dinheiro para fazer campanha. A outra coisa: lista fechada, se votando na lista aberta você elege cada parlamentar que deixa a desejar, você votar no escuro o risco é maior. Tirando essas duas questões, qualquer reforma eu topo.

DIÁRIO – As centrais sindicais lutam pelo fim do fator previdenciário. O sr, que é ligado aos aposentados, é favorável?

FARIA DE SÁ – Demorou demais para as centrais acordarem para esse tema. O fator previdenciário prejudica mais o trabalhador ativo do que os aposentados e pensionistas. Em média, o trabalhador brasileiro, que trabalhou 35 anos e está por volta dos 50 anos de idade, perde por volta de 40% do valor de sua aposentadoria para o resto da vida se for homem. Se for mulher, com 30 anos de serviço e na casa dos 50 anos de idade perde 50% da aposentadoria para o resto da vida. É verdade que o pai do fator, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), não se deu conta do tamanho do estrago que causou. O Lula foi o padrasto quando nós acabamos com o fator e ele vetou. Espero que a Dilma não seja a madrasta.

DIÁRIO – A eleição para o governo de São Paulo tem empolgado o PT, que nunca chegou ao poder no Estado. Como o sr. avalia esse cenário? O PSDB está ameaçado?

FARIA DE SÁ – Acho que o PT trabalhava com esse cenário antes dos episódios de junho e julho. Depois sentiu que precisa preservar a própria candidatura da Dilma, que corre risco. Aquele empenho deles por ter ganhado a prefeitura de São Paulo, que naturalmente teria um candidato forte ao governo do Estado, acho que corre um sério risco. Estão mais preocupados em manter as chances de candidatura da presidente. Ela caiu de 65% para 30% (nas intenções de voto, segundo pesquisas recentes), perdeu 8% e 27% depois em pesquisas de aprovação.

DIÁRIO – Então o sr. avalia que a insatisfação popular só desgastou a presidente Dilma e o governador Geraldo Alckmin passou ileso?

FARIA DE SÁ – Todos foram prejudicados, presidente, senadores, deputados, governadores, prefeitos e deputados estaduais. A classe política como um todo acabou cobrada pelos problemas do Brasil. Todos seremos cobrados, mas a presidente mais ainda.

DIÁRIO – Acredita que a Segurança é o calcanhar de Aquiles da gestão Alckmin?

FARIA DE SÁ – É, sem dúvida nenhuma. O governador Geraldo Alckmin demorou para mexer na cúpula de Segurança. Você viu em São Caetano, no fim de semana retrasado, que um prédio sofreu arrastão. Não aconteciam esses problemas. Se você pegar, o Grande ABC inteiro sofre com isso. A própria secretária de Segurança Nacional, Regina Miki, que foi secretária de Segurança de Diadema e que fez um brilhante trabalho, me disse na semana retrasada que está preocupada com a criminalidade na região. É preciso fazer alguma coisa para melhorar as Polícias Militar e Civil. Caso contrário, nós podemos perder o combate.

DIÁRIO – É possível o governador solucionar essa questão com rapidez para não se prejudicar na eleição?

FARIA DE SÁ – A resposta deve ser imediata. Se ele quiser resolver a médio prazo, vai se prejudicar. O atual secretário, Fernando Grella, está no cargo faz seis meses. Mudou o delegado geral, comandante geral e espero que ele tenha respostas rápidas, porque a situação não pode continuar assim. Se eu encontrar com você à noite na rua, no escuro, eu vou ficar com medo de você e você com medo de mim. É um clima de insegurança pública que não pode acontecer.

DIÁRIO – O PTB passou muitos anos ao lado dos tucanos em São Paulo. Quando será o momento de o partido ter candidatura própria ao Palácio dos Bandeirantes?

FARIA DE SÁ – A primeira coisa é ampliar a bancada do PTB na Assembleia Legislativa (tem quatro representantes) e na Câmara Federal (18). A partir de uma representação expressiva, você pode pensar em cargo majoritário.




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