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China é ameaça que atrai interesse
Por Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
10/04/2011 | 07:10
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Claudinei Plaza/DGABC


A invasão de produtos chineses no mercado nacional colocou de prontidão os fabricantes brasileiros, em meio à ameaça crescente de quebra de empresas e perda de empregos, por causa das condições desiguais de competitividade com o produto do país asiático.

Apesar disso, também é ascendente o interesse de conhecer e tentar fazer negócios na China, com seus 1,33 bilhão de habitantes e PIB (Produto Interno Bruto, ou seja a soma de toda a riqueza produzida) nominal de US$ 4,98 trilhões (em 2009).

Existem oportunidades para as empresas brasileiras, segundo especialistas. No entanto, o que se vê, por ora, é sobretudo a luta de segmentos inteiros (fabricantes de óculos, sapatos, tecidos, guarda-chuvas, entre outros) para enfrentar os itens chineses.

Os dados da balança comercial do Grande ABC mostram a forte entrada de produtos chineses. Enquanto a região obteve, no primeiro bimestre, US$ 16,5 milhões com exportações para lá, registrou importações que somaram US$ 70,4 milhões. Com isso, tem déficit de US$ 54 milhões.

O empresário Aldo Luís Segantini, que tem loja de guarda-chuvas em São Caetano, é um exemplo da dificuldade das indústrias em concorrer com o item chinês.

Seu ponto comercial existe há 40 anos no município e, no início, também investia na fabricação dos produtos. "Paramos de produzir (no final da década de 1980) por dois motivos: o tecido vinha do outro lado do mundo por US$ 2 o metro colocado, enquanto que aqui custava acima de US$ 6; e, por pior que fosse a armação chinesa, era bem acabada", afirma. Segantini afirma que fabricantes de armação tentaram se adequar, mas não resistiram à concorrência.

Adequações são necessárias para muitas empresas sobreviverem, em meio ao cenário mais competitivo. A indústria de autopeças Ecoplas ABC, de São Caetano, por exemplo, passou a adquirir em 2007 componentes de cabo de aço chineses.

Segundo o empresário Claudio Armidoro, com a concorrência crescente entre as montadoras no Brasil, a partir de 2005, cresceu a pressão para redução de custos. "Tive de buscar alternativas, fiz visita à China e constatei a possibilidade de fazer importações", afirma. Com isso, Armidoro assinala que conseguiu economia de 30% a 40% em relação ao insumo nacional.

CONHECIMENTO

Os riscos existem, mas os empresários têm de conhecer de perto essa ameaça, avalia o advogado Bento Delgado Kardos, sócio da V, M & L advogados e co-autor do livro ‘Nós e a China'. Para ele, que já chefiou escritório naquele país, tem havido avanços, desde que a China foi aceita na OMC (Organização Mundial do Comércio) em 2001, quando assumiu compromisso de alterar a legislação e assinou tratado de proteção intelectual.

Missão empresarial quer abrir mercado para manufaturados

Abrir o enorme mercado chinês a produtos brasileiros de mais sofisticação técnica (valor agregado) e, portanto, de maior preço, é o principal objetivo da delegação de empresários que acompanha, a partir de amanhã, a comitiva da presidente Dilma Rousseff na viagem à China.

Para o presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria) Robson Braga de Andrade, o aumento significativo do comércio bilateral, que saltou de US$ 2,3 bilhões em 2000 para US$ 56, 3 bilhões no ano passado, implica na diversificação da pauta de exportações. Na sua opinião, o País não pode se concentrar nas vendas de commodities, como soja e minério de ferro.

No entanto, os desafios são mais internos do que externos, na avaliação do presidente da Abrinq (Associação Brasileira da Indústria de Brinquedos) Synésio Batista, que já está em Pequim para participar da missão. "O governo chinês ajuda os exportadores e as travas são pequenas", afirma. Para ele, um dos grandes problemas são os importadores brasileiros, muitos deles "sonegadores e subfaturadores".

País precisa ter política industrial

Para especialistas, mais do que negócios, o mercado chinês pode oferecer outra coisa importante para o Brasil: lições de sua política industrial. "Eles sabem negociar e só entra (naquele mercado) quem se adequa à estratégia de longo prazo", afirma o economista do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) Rogério de Souza.

Souza assinala que os chineses são ameaça ao mundo todo e o Brasil é um mercado cobiçado hoje. "Estão vindo com tudo, na área têxtil, brinquedos, e agora também com eletrônicos e carros", afirma.

Por sua vez, para entrar no mercado do país asiático é preciso cumprir requisitos e negociar com o governo, para que eles saibam o que vai ser produzido. "E eles sabem negociar", acrescenta.

RELAÇÃO FORTE

Dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) mostram que o Brasil já tem fortes relações comerciais com a China, que é o principal destino das exportações brasileiras (geraram US$ 30,8 bilhões em 2010). No entanto, isso se deve em grande parte à venda de commodities, como minério de ferro, soja e combustível. Os produtos básicos correspondem a 83% da pauta.

Por sua vez, o país asiático deve assumir também a primeira posição nas importações nacionais. Em 2010, ficou em segundo lugar (atrás dos Estados Unidos), ao somar US$ 25 bilhões, com a crescente participação de produtos de alta tecnologia (que passaram de US$ 487 milhões em compras no ano 2000 para quase US$ 10 bilhões em 2010).

O estudo do Ipea também aponta a crescente presença de investimento direto chinês no Brasil. Entre os anos de 2001 a 2005 e 2006 a 2010, constatou-se expansão média de 294,5%. As aquisições de empresas que operam no mercado brasileiro cresceram, chegando a US$ 14,9 bilhões em 2010. "Fica evidente a estratégia chinesa de garantir acesso a fontes de recursos naturais, bem como de tentar influenciar no preço desses setores", diz o relatório do órgão do governo.

Ainda segundo o instituto, se não houver mudança na dinâmica das relações com a China, as oportunidades poderão representar ameaças no longo prazo, como a perda de participação das exportações brasileiras em outros mercados externos e a perda de controle estratégico sobre fontes de energia, por exemplo.




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