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Remédio sem contraindicação

Doses de apoio e de carinho funcionam como ‘injeção de ânimo’ para quem enfrenta enfermidade

Por Vanessa de Oliveira
30/07/2017 | 07:00
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No leito do CHM (Centro Hospitalar Municipal), em Santo André, a dona de casa Reisi Mascarenhas Cardoso, 45 anos, abre um sorriso. Mas como é possível se animar estando dentro de um hospital, passando por problemas, enfrentando dores e desconforto? Os responsáveis pela ‘injeção de ânimo’ são pessoas que doam parte do tempo para aplicar doses de carinho e otimismo por meio de simples ações.

Reisi está hospitalizada desde que sofreu uma trombose. O marasmo é quebrado quando duas voluntárias da Avisa (Associação dos Voluntários da Saúde de Santo André) entram para ler mensagem de apoio, escrita por usuário do Centro de Especialidades I, instalado no Centro. Lá, os pacientes que aguardam no ambiente de espera para serem chamados à consulta encontram espaço que incentiva a escrita de palavras positivas que serão levadas diariamente a quem está hospitalizado.

“O local tem bastante movimento e me passou pela cabeça que a espera pelo atendimento poderia ser utilizada para uma coisa boa. Em 2014, fiz um cartaz pedindo que as pessoas escrevessem mensagem positiva para alguém hospitalizado e nasceu a iniciativa”, conta a coordenadora de práticas integrativas e complementares da Prefeitura andreense, Gislene Moreira Alves, 57. Em 2016, 5.720 mensagens foram lidas; neste ano, 1.836.

O convite feito por meio de banner fixado na parede do Centro de Especialidades I chamou a atenção da aposentada Nair Silva, 62. “Achei muito rica a oportunidade de levar mensagem de esperança às pessoas. As que escrevo são fundamentadas nos ensinamentos bíblicos. Jesus reforça que mesmo nas situações de dificuldades devemos confiar na providência dele.”

Foram mensagens como essas que fizeram Reisi, mesmo acamada, sentir-se melhor. “Ouvindo as palavras, até esqueço a dor. Aumenta a nossa fé e esperança para lutarmos, melhorar logo e sair o mais rapidamente daqui.”

Para quem está do outro lado, transmitindo positividade, como a voluntária Maria Aparecida Bacaneli, 72, o sentimento de gratidão é recíproco. “Quando as pessoas aceitam o que falamos, é um bálsamo para a alma. Li uma mensagem para um senhor em coma e percebi que ele estremeceu. Saí de lá transbordando de alegria. Deus usa nossa boca para falar coisas lindas.”

Grupo de palhaços espalha alegria e esperança a pacientes internados
Ao falar em hospital, o que geralmente vem à cabeça é cenário sem cor, mas não quando a trupe do Palhaços da Saúde entra em ação. O grupo, composto por nove pessoas, foi fundado em março de 2010 pelo analista jurídico Alessandro Stavale, 41 anos, de São Bernardo. “Após período de depressão, fui convidado por amigo que visitava sozinho hospitais em São Caetano. Desse dia em diante acabou minha depressão. Ele parou e eu continuei”, conta Stavale, que nestas horas assume a identidade de palhaço Porpetone.

Todos os domingos, o grupo visita pacientes do Hospital São Bernardo – uma unidade na Avenida Lucas Nogueira Garcez e outra, infantil, na Avenida Pereira Barreto. “Às vezes, quando somos convidados, realizamos visitas a asilos. Em sete anos de projeto, em torno de 6.500 pessoas já foram visitadas. Em 99,9% dos casos, quando adentramos aos quartos, os pacientes abrem o sorriso. (A ação) Muda totalmente o astral”, garante.

Uma dessas reações positivas foi a da comerciante Fátima Watanabe, 67, moradora do Riacho Grande. A troca de carinho com os palhaços foi tanta que resultou em forte laço de amizade entre a família dela e Stavale. “Entre 2012 e 2013 fiquei três vezes internada por problemas no coração. Era uma alegria imensa quando eles chegavam, pois davam mais motivação para ficar curada, para a vida. Sou muito fã dele, e admiro o trabalho, que é somente em troca de amor.”

Especialistas listam benefícios das ações voluntárias
Sejam mensagens positivas, visitas regadas a bom humor ou o encanto dos animais, ações como essas são benéficas para a Saúde e bem estar dos pacientes de diversas patologias, apontam especialistas. “Favorecem o humor, a esperança. A melhora do psicológico influencia todo o organismo, ativando o funcionamento e a qualidade de vida”, destaca a professora de Psicologia da Universidade Metodista de São Paulo, Angélica Capelari.

O professor de pós-graduação do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo) Esdras Guerreiro Vasconcellos ressalta que “a fórmula não é válida para 100% dos pacientes”, já que algumas pessoas, quando enfermas, preferem o isolamento. Mas cita que o resultado é positivo. “O cérebro começa a produzir serotonina, endorfina e ocitocina, estimulantes ao organismo como um todo e para o sistema imunológico. Em determinados casos, esses fatores produzem efeito melhor do que a própria medicação.”

No caso da utilização de cães e outros animais, a chamada pet terapia, a psicóloga, psicanalista e superintendente técnica da ONG Patas Therapeutas, Silvana Prado, ressalta ser cientificamente comprovado que a interação com os bichinhos traz série de benefícios. “Diminui depressão, ansiedade, os batimentos cardíacos, a pressão arterial, aumenta a saturação de oxigênio e ajuda na reabilitação.”

Suporte de cães é considerado fundamental para recuperação
Engana-se quem pensa que são somente os grupos formados por homens e mulheres que transmitem boas energias a quem está hospitalizado. Uma turma de quatro patas também se encarrega desta missão, como os golden retriever Fred Mercury, 7 anos, e Noay Maria, 2, além de outros 13 cães do corretor de seguros Ricardo Nunes, 41, de São Bernardo. “Tive problemas de Saúde em 2012 e meu cachorro Fred Mercury ficou 100% do tempo comigo. Isso me ajudou demais e sempre quis levar o amor dele a outras pessoas, como ele fazia comigo”, lembra.

Em 2014, Nunes iniciou visitas a hospitais com crianças com câncer e, em dezembro de 2015, fundou a ONG (Organização Não-Governamental) Alquimia do Amor Pet Terapia. Os voluntários peludos visitam ainda asilos, instituições de pessoas com deficiência e escolas carentes. “No início, comecei achando que levaria apenas o amor que ele, o Fred Mercury, tinha, mas com o trabalho acontecendo fui recebendo muito mais do que doando. Uma lição de força, persistência e fé.




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