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Mozart teen
Por Dojival Filho
Do Diário do Grande ABC
15/10/2006 | 19:11
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As celebrações do 250º aniversário de nascimento do compositor Wolfgang Amadeus Mozart (1756- 1791), promovidas em todo o mundo desde janeiro último, motivaram o singelo tributo prestado pela estudante do ensino médio Bruna Ramos da Fonte, 15 anos. Nascida em São Bernardo e moradora de Santo André, a jovem é autora do recém-lançado livro. O Réquiem, que narra os acontecimentos mais relevantes dos últimos seis meses de vida do gênio da música erudita.

De acordo com o livro, neste período, Mozart foi visitado por um desconhecido que vestia “uma pesada capa cinza”, e recebeu a incumbência de produzir um réquiem – obra litúrgica dedicada a um morto. Por ordem do requisitante, o compositor não deveria saber para quem estava criando.

Assim como em outros fatos da biografia do autor de A Flauta Mágica, há diversas lendas a respeito desse episódio, que teria ocorrido em meados de julho de 1791. Uma das versões sustenta que o músico, então com a saúde já bastante debilitada por uma insuficiência renal, que o vitimaria na madrugada de 5 de dezembro daquele ano, estaria compondo o réquiem de sua missa de sétimo dia.

Mistério – Após a morte de Mozart, que deixou a obra inconclusa (tarefa repassada ao seu discípulo, Süssmayer), descobriu-se que o homem da capa cinza era o criado do Conde de Walsegg sur Stuppach. O nobre desejava homenagear a esposa Anna, morta em 14 de fevereiro de 1791, e gostava de se passar por compositor. Por conta disso, pagava caro para que peças musicais levassem sua assinatura.

“Com todo esse mistério, as pessoas têm feito muitos romances baseados nessa história. Coloquei a explicação que achei mais viável e que não tem a mitificação das outras”, explica Bruna, com desenvoltura e maturidade incomuns em garotas de sua idade.

Ela destaca a influência da maçonaria nas composições de Mozart, sobretudo na fase abordada no livro, resultado de pesquisa baseada em diversas biografias e informações repassadas à jovem por sua professora de piano, Antonieta Soldani Chedid.

Apoio – A versão narrada em O Réquiem não é novidade. A principal virtude do livro é a narrativa eloqüente da autora, que, apesar do amadurecimento precoce, se define como uma adolescente normal. Gosta de bater-papo com os amigos no msn, entrar em comunidades do orkut e assistir a shows.

Aluna do Centro Educacional Paineira, em Santo André, Bruna diz que começou a produzir o trabalho após a escola ter pedido aos estudantes que escrevessem um livro sobre o tema de sua preferência. A publicação da obra, cartão de visitas do talento da jovem que será encaminhado a editoras, só foi possível graças ao apoio da Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André), que patrocinou uma tiragem limitada de 500 exemplares.

Além do piano, Bruna estuda violino, instrumento sobre o qual compartilha conhecimentos com o irmão, Álvaro, 12 anos. Alheia a rótulos, ela acredita que há muito preconceito e desinformação a respeito dos eruditos. “Nós temos uma presença muito forte da música clássica em todos os lugares. Falam da música do caminhão de gás (a obra Pour Elise opus 59) e não sabem que é música clássica. Passam a ver como uma musiquinha chatinha”, observa a garota, que acumula prêmios estudantis de literatura.

Gênio – Mozart nasceu em Salzburgo, na Áustria, em 27 de janeiro de 1756. Foi uma criança prodígio e começou a compor minuetos para cravo aos cinco anos. Na infância, compôs duetos e temas para dois pianos. Entre 1770 e 1773, viajou três vezes pela Itália, onde fez diversas apresentações e compôs a ópera Mitridate, que obteve grande êxito.

Em 1786, escreveu a primeira ópera com a colaboração de Lorenzo da Ponte: As Bodas de Fígaro. A ópera foi um fracasso na capital austríaca, Viena, mas, apesar disso, o músico recebeu a encomenda de uma nova produção, Don Giovanni, considerada por especialistas sua obra-prima. Mozart ainda escreveria Così Fan Tutte, com libreto de Da Ponte, em 1789.

Três anos antes, sua popularidade começou a diminuir junto ao público vienense, o que agravaria suas condições financeiras. Isso não o impediu de continuar compondo belíssimos quintetos de cordas, sinfonias e um divertimento para trio de cordas.

Trechos

“Os dias do compositor eram de trabalho constante. No mês seguinte (setembro de 1791), seria a estréia de A Flauta Mágica, uma encomenda que recebera do cantor e empresário Emanuel Schikaneder. (...)A obra não estava concluída. Além disso, deveria terminar o réquiem, pois o homem de cinza que tanto o impressionara, aparecia constantemente em sua casa” (pág.15).

“Passado algum tempo, foi encontrada uma partitura do Réquiem com a caligrafia do próprio conde, na qual havia a inscrição: “Composto pelo Conde Walsegg sur Stuppach” (pág. 30).

“Para fazer uma obra de arte não basta ter talento, não basta ter força, é preciso também viver um grande amor” (pág.31).



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