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O chá das folhas é seguro?
Especial para o Diário
21/12/2009 | 07:03
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Uma das plantas medicinais mais utilizadas no mundo atual, o Ginkgo biloba é apontado como benéfico no tratamento de muitos problemas de saúde. As informações sobre seus efeitos terapêuticos, no entanto, são geralmente divulgadas de modo exagerado, o que pode induzir a população ao uso inadequado e indiscriminado desta planta. Na verdade, pesquisas relatam com frequência efeitos adversos quando são utilizadas partes da planta fresca ou seca, que não passaram por um processo de remoção de substâncias tóxicas existentes na espécie.

As principais indicações terapêuticas para os extratos de G. biloba são o tratamento de deficiências na cognição (em particular falhas de memória e dificuldade de concentração), depressão, vertigens, zumbidos no ouvido, dor de cabeça e síndromes de demência. Também são indicados para o combate à doença arterial periférica oclusiva (claudicação intermitente), que compromete o desempenho físico dos pacientes, levando a dificuldades para caminhar. Outras recomendações incluem casos de asma, impotência sexual, alergias e síndrome pré-menstrual.

Para os extratos de G. biloba produzidos de maneira correta, com a eliminação das substâncias tóxicas, o uso geralmente não tem contraindicações. Mesmo assim, o uso de preparações à base dessa planta deve ser evitado por pacientes com histórico de hipersensibilidade, crianças e grávidas.

UM EXTRATO PADRONIZADO - Os únicos extratos de G. biloba recomendados para uso terapêutico, segundo o Instituto de Drogas e Produtos Medicinais da Alemanha, são aqueles obtidos a partir de uma mistura de água e acetona e, na sequência, purificados sem a adição de outras substâncias. Essas técnicas, desenvolvidas por grandes indústrias farmacêuticas, são patenteadas e não divulgadas.

Se os extratos padronizados apresentam segurança medicamentosa, isso não ocorre quando são utilizadas preparações obtidas diretamente de folhas frescas ou secas da planta, como chás, pós, tinturas ou emplastros. Efeitos adversos são relatados com frequência, já que essas preparações não passam pelo processo de remoção das substâncias tóxicas. As folhas, assim como a polpa dos frutos e a casca das sementes, contêm substâncias como os ácidos ginkgólicos e a bilobalina.

Além de não contribuírem para a ação terapêutica dos extratos, esses ácidos têm a capacidade de inibir diversos sistemas de reações enzimáticas importantes, além de desencadear reações alérgicas por contato. Como há evidências de que esses compostos possam causar mutações e mesmo câncer, várias entidades reguladoras requerem ao menos sua restrição a uma concentração abaixo do limite máximo de cinco partes por milhão. Espera-se, com essas medidas, a eliminação ou a minimização dos efeitos tóxicos, embora não se possa garantir que esses compostos não se acumulem aos poucos no organismo humano.

SEGURANÇA DUVIDOSA - Diversos produtos comercializados sob a denominação de "extrato de Ginkgo biloba" são obtidos por extração simples, muitas vezes hidroalcoólica (com uma mistura de álcool etílico e água), sem o controle da quantidade exata de substâncias tóxicas.

No entanto, estudo recente, feito no Departamento de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Santa Catarina, mediu o teor de ácidos ginkgólicos de alguns fitoterápicos preparados à base de extratos de G. biloba (80 mg) e constatou que apenas um manteve-se dentro dos valores preconizados (menos de 5 ppm), enquanto os demais apresentaram valores muito acima do recomendado. Os únicos produtos recomendados para uso são, porém, os preparados a partir de extratos padronizados.

Se o conhecimento existente hoje não permite garantir ao certo a segurança do uso dos extratos tecnicamente elaborados, o que se pode dizer da indicação popular (e comercialização) das folhas secas de G. biloba para distúrbios de memória, na forma simples de um chá?

Leopoldo C. Baratto, Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Paraná

Juliana C. Rodighero, Curso de Especialização em Ciências Farmacêutricas, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Paraná

Cid Aimbiré de Moraes Santos, Departamento de Farmácia, Universidade Federal do Paraná




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