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Lições da ELT ecoam em S.Paulo
Gislaine Gutierre
Do Diário do Grande ABC
20/01/2005 | 12:57
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Os conceitos da Escola Livre de Teatro (ELT) de Santo André ecoam em São Paulo. O ex-aluno da instituição, Emerson Rossini, estréia nesta quinta-feira na posição de diretor com o espetáculo Cadência, criado a partir do processo colaborativo que norteia o pensamento da escola andreense. Rossini é um dos quatro recém-formados do Departamento de Artes Cênicas da USP (Universidade de São Paulo) selecionados para participar da Mostra de Novíssimos Diretores, que ocorre até março no Tusp (Teatro da USP), em São Paulo.

Cadência foi criada pelo diretor andreense e todo o elenco, com colaboração de Sérgio Pires, de Mauá, na dramaturgia. A orientação coube ao diretor do premiado Teatro da Vertigem e docente na ELT, Antônio Araújo.

A trama se passa em uma casa de shows, na qual os personagens correspondem, metaforicamente, a arquétipos míticos. O DJ simboliza Deus, pois, segundo Rossini, “manipula a massa pelo som e pela luz”. O Garçom representa o homem, porque é o questionador, e coloca em xeque a autoridade divina do disc-jóquei.

A Chapeleira responde pela porção cômica da montagem: “Nas horas vagas, ela presta um serviço de atendimento telefônico, oferecendo ‘bons conselhos‘. É algo ambígüo, que passa pela religiosidade, mas também pelo preconceito”, afirma Rossini.

A Diva representa o velho. Ela vive dias de abandono desde que fora dispensada para dar lugar ao DJ, enquanto o novo é personificado pela jovem Hostess da casa.

Tudo parece transcorrer como uma noite normal, de diversão, até que a autoridade de Deus é questionada. “A partir daí, as máscaras começam a cair”, diz.

Segundo Rossini, o espetáculo é construído com uma dramaturgia circular, “para mostrar a criação e destruição do universo”. Assim, o espetáculo começa como acaba. “É como se o público entrasse no final da apresentação”. O diretor andreense também quis inserir na dramaturgia e na encenação a fragmentação do mundo contemporâneo. “Como tudo é muito rápido, é preciso consumir tudo de forma indiscriminada”, diz.

A agilidade, portanto, aparece como uma das principais características da montagem. Em alguns momentos, as cenas surgem “mixadas”, como acontece com a música eletrônica. Duas cenas podem ocorrer ao mesmo tempo, formando uma terceira cena; pode haver sobreposição de diálogos ou ainda interferências sobre determinado trecho do espetáculo.

Em meio a isso, há apenas três períodos de silêncio, que paradoxalmente simbolizam o caos. São os momentos de maior densidade dramática, precedidos por mensagens contundentes. Nem sempre a informação é verbalizada; em algumas situações, o grupo põe a imagem em primeiro plano.

O cenário reproduz uma casa de shows. Mas como a intenção é apresentar metaforicamente valores e condições do mundo atual, os espectadores sentam-se sempre sozinhos, em cadeiras distribuídas pelo recinto. O isolamento é proposital.

Cadência é a peça que ficará mais tempo em cartaz entre as da Mostra, exibida sempre em horário alternativo. O elenco é composto por cinco atores, todos recém-formados pela Escola de Arte Dramática da USP.

Os demais espetáculos presentes na Mostra são: 5PSA – O Filho, de Cainan Baladez (de quinta a sábado, às 21h; domingo, às 19h, até dia 30); Calígula, de Albert Camus, com adaptação e direção de Andréia Queiroz (estréia em 10 de fevereiro); e Quando as Máquinas Param, de Plínio Marcos e direção de Diego José Villar (estréia em 24 de fevereiro).

Cadência – Espetáculo de Sérgio Pires, com direção de Emerson Rossini. No Tusp – r. Maria Antonia, 294. Tel.: 3259-8342. De quinta-feira a sábado, à 0h; domingo, às 22h. Ingr.: R$ 10 e R$ 5 (meia-entrada).




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