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Um

A história confusa que se apresentou a partir do anúncio do novo técnico da Seleção Brasileira me lembrou um romance bem bacana

Por Carlos Ferrari
28/07/2010 | 00:00
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A história confusa que se apresentou a partir do anúncio do novo técnico da Seleção Brasileira me lembrou um romance bem bacana que li, ou melhor, ouvi, no final dos anos noventa, chamado Um, do escritor americano Richard Bach. Digo ouvi, pois não havia, ao menos que eu tivesse notícia, uma versão em Braille ou mesmo digitalizada. Tive acesso à história, então por meio de várias fitas cassetes gravadas voluntariamente e disponibilizadas na Biblioteca Braille do Centro Cultural São Paulo.

Bem, mas esse é assunto para outro encontro nosso. Voltemos então ao livro e aos protagonistas do triângulo amoroso-futebolistíco, formado por CBF, Mano Menezes e Muricy Ramalho.

No livro os personagens vivenciam a experiência de se defrontar com mundos paralelos, que tomam forma refletindo suas decisões. Guardadas as proporções, a obra segue a linha do filme Efeito Borboleta, onde o personagem se vê diante de situações completamente diferentes, desencadeadas a partir de suas escolhas.

Os então treinadores de Corinthians (Mano Menezes) e Fluminense (Muricy Ramalho), talvez sós, ou quem sabe junto com familiares e amigos, provavelmente como Richard Bach, também conscientes ou não, brincaram com a ficção e experimentaram o exercício de projetar múltiplas histórias de futuro que afetariam suas vidas e a de tantos brasileiros, tendo por ponto de partida uma simples resposta, sim ou não, ao convite de Ricardo Teixeira, presidente da entidade máxima do futebol do País.

E nós? Será que temos visitado os possíveis mundos que viveríamos, construído por decisões diferentes tomadas pelos outros, ou aquelas mesmas, de nossa própria autoria? Acho que a correria do dia a dia muitas vezes não nos permite tal viagem, e talvez por conta disso o livro me tenha sido tão marcante.

Na época a leitura me fez pensar no quanto foi importante a decisão de meus pais em definir que eu precisava estudar, e ao mesmo tempo, me levou a imaginar como teria sido ao contrário. A escolha por eles de uma escola comum, e junto com isso, a necessidade de que eu, uma criança cega e as outras, crianças sem deficiência, aprendêssemos a conviver, me emocionava e me fazia refletir sobre o peso das decisões.

Um voto, um sim ou não a um chamado de um novo emprego, um pedido de casamento, uma recusa a um pedido de desculpas, uma oportunidade a uma jovem promessa; são exemplos de que em poucos segundos podemos mudar o rumo de um país, da vida de uma ou mais pessoas, ou de nossas próprias histórias.

Assim, fica a dica para ler o livro e para refletirmos. Será que nossas decisões têm contribuído para que tenhamos uma sociedade melhor e mais justa? Pode ser que descobriremos que o sorriso em determinada hora teria sido melhor do que a cara feia ou a indiferença. Que a conversa, melhor do que as conclusões precipitadas, e principalmente que a busca pela informação sempre é mais edificante do que o reforço sistemático a múltiplos preconceitos.

Sucesso ao Mano na seleção, ao Muricy no Fluminense e a nós todos em nossas pequenas e grandes escolhas.




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