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GM do Brasil nega crise e diz que ajuda unidade dos EUA

Segundo o presidente da subsidiária brasileira, Jaime Ardila, a empresa no País é independente

Por Michele Loureiro
Leone Farias
18/11/2008 | 07:00
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A delicada situação financeira da General Motors Corporation, dos Estados Unidos, pode trazer dúvidas em relação a um eventual impacto na GM do Brasil. No entanto, o presidente da subsidiária brasileira, Jaime Ardila, destaca que a empresa no País é independente e tem, inclusive, ajudado a matriz norte-americana, por meio da remessa de um percentual dos lucros obtidos por aqui.

Ardila, que reuniu na seguda-feira a imprensa para acalmar os ânimos do mercado, afirmou que não estão previstas demissões no País nos próximos meses, já que espera uma retomada das vendas até março de 2009, e ressalta que os investimentos também estão mantidos.

Existe preocupação em relação à situação da empresa no Brasil, mas a GM procura afastar este fantasma. Um dos motivos de receio é o fato de a companhia ter aberto terceiro turno em abril último (com geração de 1.500 empregos) na unidade de São Caetano, e depois disso, vir fazendo paradas de produção (uma de dez dias em outubro e outra de 11 dias em novembro na unidade da região) para ajustar o volume à queda da demanda no Brasil e no exterior. Ardila informou que a intenção é não deixar a rede de concessionárias com mais de 30 dias de estoques.

Além disso, a empresa - que tem na região quadro de 11,5 mil funcionários - abriu Programa de Demissões Voluntárias e deve antecipar as férias coletivas de final de ano, que seriam dadas a partir de 23 do mês que vem.

Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano, os funcionários devem entrar em recesso dia 12 de dezembro (este dia, uma sexta-feira, será contado como folga e as férias começariam dia 15). A GM não confirmou as informações de antecipação das férias.

Entre os funcionários da GM prevalece a sensação de incerteza. A reportagem do Diário foi até a unidade da região para sentir como está o clima na montadora. "Torcemos para que nada de ruim aconteça, mas ao mesmo tempo sabemos que algum reflexo negativo vai aparecer", comentou um dos funcionários, que preferiu não se identificar.

Desviando olhares e evitando o assunto, trabalhadores do setor administrativo dizem que a situação é tranqüila, porém comerciantes que trabalham ao redor da montadora dizem que o clima é de tensão. "Escuto os funcionários comentarem que têm medo do que pode acontecer, de eventuais demissões. Torço para que a GM não quebre, afinal, os funcionários de lá são meus principais fregueses", comentou um comerciante que também não quis ser identificado.

TENDÊNCIA - Essas medidas da GM geram preocupações, mas a ampliação da parada no fim do ano pode ser seguida por concorrentes. A Volkswagen também estuda ampliar a parada de fim de ano, segundo o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Francisco Duarte de Lima, o Alemão.

A empresa já havia acertado com os trabalhadores que daria dez dias de folga, "Estão estudando a necessidade de mais dias, mas por enquanto não tem uma decisão", disse. A Volkswagen não comentou o assunto. s (Colaborou Vivian Costa)

No Brasil, ano foi excepcional

A subsidiária brasileira da GM registra em 2008 um ano excepcional, segundo o presidente da empresa, Jaime Ardila. Mesmo com o aperto no crédito a partir de outubro, a empresa deverá fechar o ano com lucratividade e com faturamento bruto na casa dos US$ 9,5 bilhões.

Será menos do que a estimativa inicial (US$ 11 bilhões), mas ainda assim acima dos US$ 8 bilhões em 2007. Também vai marcar recorde nas vendas. Deverão ser 575 mil unidades em 2008, frente aos cerca de 499 mil no ano passado.

"É melhor ano da nossa história em volume e financeiramente e estamos ajudando a corporação", disse o executivo, que assinala que a política de remessa de dividendos (parcela dos ganhos) é a mesma dos últimos anos, mas como os lucros cresceram, o valor enviado aumentou.

A companhia no País tem planos já aprovados de US$ 1,5 bilhão, para investimentos nas fábricas, o que, segundo Ardila, não dependem de recursos dos Estados Unidos.

O executivo fez questão de frisar a independência jurídica e também financeira. E completa: "Em qualquer cenário de reestruturação da GM Corporation, a GM do Brasil não será impactada porque não tem dependência da matriz".

A preocupação em mostrar que a companhia brasileira está "blindada" se justifica, pelos rumores de que o grupo norte-americano poderia pedir concordata, intenção que foi negada pela corporação.

MELHORA - A empresa já observou neste mês uma ligeira melhora no fluxo de recursos para o financiamento ao consumidor, depois de um período de três semanas em que o crédito praticamente havia secado. "Não normalizou, mas uma melhora já é perceptível", disse Ardila.

O crédito anunciado pelos governos federal e estadual para as financeiras das montadoras (R$ 8 bilhões) não chegam de imediato mas já começam a ingressar. Ardila projeta que o segmento fechará o mês com 200 mil unidades vendidas, Ainda ficaria aquém de outubro (239 mil). Isso porque vendas feitas no fim de um mês (no caso, em setembro) normalmente aparecem nos registros de emplacamentos do mês seguinte.


Matriz confia na ajuda do governo dos Estados Unidos

A GM dos Estados Unidos não pretende pedir concordata e confia que poderá contar com ajuda do governo daquele país para atravessar um período (até 2010) de reestruturação de suas operações, para a mudança na linha de produtos e revisão de seus custos.

A empresa, que registrou no terceiro trimestre prejuízo de US$ 2,5 bilhões, aguarda que o Congresso norte-americano aprove, nesta semana, um pacote de recursos adicionais ao setor, que poderiam chegar a US$ 25 bilhões. Isso reforçaria um programa de US$ 25 bilhões já aprovado (mas ainda não liberado) e que se destinaria especificamente ao desenvolvimento de veículos mais eficientes e mais econômicos.

Segundo o presidente da GM no Brasil, Jaime Ardilla, mesmo que o apoio adicional seja rejeitado - o governo Bush já informou que é contra a idéia de colocar mais dinheiro para as montadoras -, a expectativa da companhia é que um plano de socorro a essa indústria saia em janeiro de 2009, após a posse do presidente eleito Barack Obama.




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