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Aventura paulistana em HQ
Por Gislaine Gutierre
Do Diário do Grande ABC
18/04/2004 | 16:02
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São Paulo já tem seu herói. É Roque Filho, paulistano nascido dos traços híbridos de Xalberto, Bira Câmara e Sian e que agora ganha sua primeira aventura nas páginas do álbum de quadrinhos O Paulistano da Glória (Via Lettera, 68 págs., R$ 18). Um dos genitores do bom moço é Roberto Sian, de Santo André, que contou ao Diário os segredos da concepção, desenvolvimento e descoberta do herói.

Se o personagem dessa aventura sofresse como os leitores a passagem do tempo, certamente teria ganhado uns fios de cabelos brancos a mais até chegar nas livrarias. É que O Paulistano da Glória é resultado de um projeto que começou nos anos 80 e sofreu uma conturbada gestação até o parto, finalmente ocorrido em 1999.

“Eu amava e odiava esse álbum”, diz Sian, lembrando que as divergências de idéias e traços eram freqüentes nas reuniões. “Não trabalhamos como na Disney ou na Maurício de Sousa Produções, onde você tem de se submeter a um padrão rígido, mas procuramos dar unidade ao trabalho”, afirma. Assim, o Roque ou a Glória desenhados por Sian, Bira e Xalberto têm algumas diferenças às vezes evidentes, mas nunca prejudicam o entendimento. Pelo contrário, torna-se um detalhe bastante curioso do livro.

Mas, por conta da demora no lançamento, alguns detalhes ficaram fora do tempo, como o barco enorme que aparece em plena avenida 23 de Maio. A construção existiu mesmo, como casa noturna chamada Latitude 2001, semelhante a um enorme barco, e que fez grande sucesso na época. No mais, nem a ausência total de tecnologia no cenário fez com que a trama ficasse comprometida ou com cara de ultrapassada.

O herói é um “arquiteto frustrado e meio metido a artista”, filho do dono de uma fábrica à beira da falência. A empresa está na mira do Dr. Hellmut, vilão que tem um plano secreto para vender o país e leiloar São Paulo. A Glória que aparece no título é uma filha de imigrantes italianos que se envolve com Roque e por isso entra de gaiata na confusão toda.

Para derrotar o Dr. Hellmut, Roque contará com a ajuda do professor Zaratretas, do barão do café, dos soldados da revolução constitucionalista de 1932 e, é claro, da arte como arma.

Os símbolos paulistanos presentes na história são inúmeros. Até Adoniran Barbosa faz sua participação junto com os Demônios da Garoa. Cenas se passam no tradicional bairro do Bixiga, na avenida 23 de Maio, na avenida Paulista, no Masp e na USP. “Queríamos dar chão paulistano ao álbum, não simplesmente colocar um monte de casinhas e prédios”, afirma Sian.

A escrita das falas obedece rigorosamente à maneira como o povo paulistano se comunica, o que enriquece a história. Eles dizem censa em vez de licença, por exemplo, ou falam como imigrantes italianos: “Belaroba! Os nome e os borso” (página 25).

Embora o roteiro não tenha grandes saídas, a história ganha força pelos detalhes. Seja nas onomatopéias recheadas de conteúdo, seja nas gags que reafirmam toda a cultura paulistana de forma divertida. “Nosso trabalho é molecagem, brincadeira. Não tínhamos a pretensão de fazer um épico”.

Nos últimos dias, Sian tem “namorado” o álbum, lendo-o cuidadosamente quadro a quadro, página por página. “Depois de tanto tempo com o trabalho nas mãos de editoras, sem publicar, você fica com a fé abalada. Mas agora estou encantado em ver o álbum pronto e de sentir a qualidade. Acho que todas as brigas foram por uma boa causa”.

Sian, que é também escultor, pintor, fotógrafo e escritor de livros para o público infanto-juvenil, tem mais planos em mente: “O Xalberto já falou que O Paulistano da Glória poderá ter continuação. Dessa vez, com a filha do Dr. Hellmut jurando vingança ao nosso herói”.




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