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Frio e calculista

Professor na arte de deixar as pessoas ‘com os olhos grudados na tela’, Alfred Hitchcock tem seu processo criativo revelado em exposição

Por Marcela Munhoz
15/07/2018 | 07:00
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 “Arte é emoção e essa é a função de um filme”, disse, certa vez, o senhor Alfred Joseph Hitchcock (1899-1980), ao ser questionado sobre seu legado para o cinema. Conhecido por ser o mestre de um dos gêneros que mais causa emoção nos espectadores, o suspense, o britânico não só participou da popularização como fez parte da sua criação. É impossível falar em cinema e não citar Janela Indiscreta (1954), Um Corpo Que Cai (1958), Psicose (1960) e Os Pássaros (1963), alguns dos 53 longas-metragens com a assinatura ‘sinistra’ do diretor.Quer passar um medinho e, ao mesmo tempo, mergulhar no universo peculiar e importante do cineasta? Visite Hitchcock – Bastidores do Suspense, que acaba de entrar em cartaz no MIS (Museu da Imagem e do Som), em São Paulo, até 21 de outubro.

A mostra inédita reúne mais de 450 objetos – entre imitações de figurinos e documentos originais das filmagens – trazidos de instituições internacionais, como Acervo Marc Wanamaker e Biblioteca Margaret Herrick, de Los Angeles, ou de coleções pessoais, como a da única filha do cineasta, Patricia Hitchcock. São dois andares com objetos e cenários que ‘transformam’ o visitante em personagem dos filmes. Destaque para o Bates Motel, de Psicose.

Mas por que um diretor tão polêmico – há relatos de que agredia e tentava abusar de atrizes; chamava os artistas de “gado” – é, ao mesmo tempo, obrigatório para quem quer entender sobre a história cinematográfica? “Uma coisa é aprender a gramática. Outra é aprender enquanto ainda está sendo construída. A carreira de Hitchcock se confunde com a própria história do cinema”, explica Jair Peres, professor do curso de especialização de Edição de Filmes na Ebac (Escola Britânica de Artes Criativas).

De acordo com o profissional, o diretor é completo porque domina tudo quando se fala em produção. Ele estava desde o argumento inicial ou pré-roteiro até a finalização e edição dos filmes, passando pela direção de arte e de fotografia, e até indicação de como seria o design do pôster. “Era mestre no movimento de câmera, simulava o olhar do espectador. Em alguns filmes, os personagens até faziam perguntas ao público. Dava o que a audiência queria, mas sem ser popularesco. Geralmente revelava o vilão no começo, mas o herói não sabia. As pessoas gritavam para alertá-lo.”

Além disso, com suas obras de suspense, Hitchcock dava um jeito de tocar em assuntos polêmicos para a época, como homossexualidade, voyeurismo e diversas obsessões, sem ser explícito. “Colocava o dedo na ferida de forma sutil. Ele não queria chocar, tanto que escolheu filmar Psicose em preto e branco para que o espectador não visse o vermelho do sangue”, explica Peres. O professor revela que gostaria de ver um museu sobre Hitchock. “Apesar do legado, foi ignorado. Nunca ganhou um Oscar. Por isso, essa exposição é importante. É bacana que a nova geração tenha contato com o que ele fez e aprenda tudo sobre o cineasta que realmente sabia contar uma história.”

Hitchcock – Bastidores do Suspense – Exposição. No MIS (Museu da Imagem e do Som) - Avenida Europa, 158, em São Paulo. De terça a sexta, das 10h às 21h; aos sábados, das 10h às 22h; e aos domingos, das 11h às 20h. Até 21 de outubro. Ingressos: R$ 12 a R$ 20 (www.mis-sp.org.br).




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