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Sem voluntários, atuação da pastoral carcerária na região é limitada

Grupo, formado por 12 pessoas, realiza visitas semanais aos 5.676 presos dos quatro CDPs

Tauana Marin
10/05/2018 | 07:00
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Recomeçar. É com base nessa premissa que a Pastoral Carcerária da Igreja Católica realiza visitas semanais aos reclusos dos CDPs (Centros de Detenção Provisória) instalados no Grande ABC. O objetivo é levar mensagem de conforto e orientação para os que estão sem liberdade, trabalho limitado pela falta de voluntários – são 12 atualmente.

“Queremos motivar essas pessoas a fazerem diferente, tomar outro rumo quando saírem do CDP. O que levamos é amor, nosso tempo, nossos ouvidos”, afirma o coordenador regional da pastoral carcerária e integrante da Paróquia Bom Jesus de Piraporinha, de Diadema, Francisco Nieto Segarra. 

Segundo ele, que realiza visitas nos quatro CDPs da região (Santo André, São Bernardo, Mauá e Diadema) há 25 anos, apenas 10% dos presos estão abertos à visita dos integrantes da igreja. “Não dá para julgar. Viver em uma cela que foi projetada para acomodar 20 pessoas e, no mínimo, soma 32, mexe com o psicológico. A ventilação é ruim, assim como a higiene”, narra Segarra.

Segundo dados da SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) do governo do Estado de São Paulo, os quatro CDPs da região têm capacidade para abrigar, juntos, 2.617 presos, no entanto, concentram 5.676. “Além das condições estruturais, a maior parte (dos detentos) é de jovens, entre 18 e 25 anos, e podem ser regenerados. Eles precisam ser aceitos na sociedade, encontrar oportunidades”, opina o coordenador da pastoral.

De uma a duas vezes por semana, das 13h às 15h, os presos dos CDPs recebem a visita da Pastoral Carcerária. Na ocasião, dinâmicas são feitas, assim como orações e leituras da Bíblia. “Não podemos levar nenhum objeto aos presos, com exceção ao CDP de Diadema, onde podemos entrar com Bíblias e terços, por exemplo. Nas demais unidades precisamos sair com o que entramos”, conta Segarra.

Mesmo vivenciando triste realidade, o trabalho traz bons frutos, considera. “É bom andar pelas ruas e ser cumprimentado por ex-detentos que mudaram para muito melhor e nos agradecem por isso”, diz o coordenador da pastoral carcerária. 

“Eles (presos) têm suas dívidas, seus crimes, mas são humanos e precisam ser recuperados. A pastoral quer ser esse sinal de não confundir justiça com vingança”, afirma o bispo da Diocese de Santo André, dom Pedro Carlos Cipollini.

Encontro debaterá o tema no sábado

Os desafios do trabalho da pastoral carcerária, bem como o papel da sociedade no processo de acolhida dos ex-detentos, serão tema de seminário programado para acontecer no sábado (veja arte acima).

O intuito é falar do processo de evangelização e convidar voluntários a participar da atividade, tendo em vista que o grupo da Igreja Católica é composto por apenas 12 pessoas. Diante do quadro, eles são impossibilitados, por exemplo, de visitar presos da região instalados em unidades penitenciárias no Interior do Estado. 

“As necessidades de um  preso são muitas. Porém, em termos de necessidade espiritual, o detento precisa, em primeiro lugar, pacificar seu coração, ser orientado para percorrer um caminho de aceitação de si mesmo, realizar  exame de consciência e, sobretudo, despertar sua confiança em Deus, nas pessoas”, afirma o bispo da Diocese de Santo André, dom Pedro Carlos Cipollini. 

Para o presidente da subseção da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Bernardo, Luis Ricardo Davanzo, que palestrará no sábado, a melhora do sistema penitenciário depende do reforço do Judiciário. Precisamos de mais juízes e serventuários da Justiça para que, de forma célere, possam conceder mediadas alternativas à prisão, tanto nos casos dos provisórios como dos já condenados. A utilização da tecnologia, como o controle de monitoramento por tornozeleira eletrônica, é alternativa.” 




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